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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

segunda-feira, 20 de maio de 2013

SALTO DE YUCUMÃ – PARQUE ESTADUAL DO TURVO – RS


               Nesta viagem, entre abril e maio de 2013, seguíamos as fronteiras naturais entre florestas estacionais, florestas subtropicais de araucárias e também a Pampa, onde já estivéramos, em 2012. A ocorrência primitiva das araucárias já há muito ficou mascarada pela devastação que lhes foi imposta pelo homem, assim como pelo plantio aleatório dos pinheiros, que confundiu até mesmo os naturalistas que visitaram a região, no passado, como Saint-Hilaire, que ficou intrigado com a ocorrência da conífera nas Missões, que hoje sabemos ser devida às mãos do homem.

               Deixando para trás as áreas planálticas muito frias da alta bacia do rio Chapecó (ver postagem anterior), que se desdobravam acima dos 700m, atingimos o Planalto Médio do Rio Grande do Sul, cuja altitude média é de 500m. São áreas de solos derivados do basalto Serra Geral, assim como os altiplanos catarinenses e paranaenses, de onde viéramos. Porém, ocupando patamar de altitude inferior, foram primitivamente ocupadas pela mesma floresta estacional do vale do rio Paraná, sendo hoje quase completamente abertas em lavouras de soja e grãos. Passam a impressão de terem um dia abrigado campos, mas um exame detido de seus solos e das vegetações remanescentes revela que florestas eram tudo o que dominava, nesses solos profundos do Planalto Médio.

               Essa floresta constitui extensão natural daquelas do Núcleo Paraná, que podem ser vistas na Foz do Iguaçu, mais acima. Porém, no Rio Grande do Sul, a queda pronunciada das folhas de suas árvores mais altas, durante a estação fria, as fez ser conhecidas como florestas estacionais deciduais. Deve-se, contudo, esclarecer que essa deciduidade se relaciona ao frio e à seca fisiológica, pois não se registram meses ecologicamente secos, nessa área do país (meses secos antecedidos por outros meses secos).
As matas recobriam todas as encostas, até o vale do rio Uruguai. Hoje, porém, apenas são observadas em pequenos fragmentos vestigiais, assim como no admirável Parque Estadual do Turvo, que abriga o Salto de Yucumã, na fronteira argentina. Yucumã, ou Moconá, como é conhecido do lado de lá da fronteira, representa uma falha basáltica de grande profundidade (até 100m abaixo da superfície, segundo consta), na qual se mete o rio Uruguai, ao longo de quase dois quilômetros. Não se pode deixar de ficar espantado, ao ver as águas caudalosas do imenso rio Uruguai se constringirem numa fresta exígua, de poucas dezenas de metros, sendo possível imaginar o vulto desse cânion submerso do Yucumã.

               A seguir, algumas imagens dessa região, com seus usuais comentários:

Vista geral do Salto de Yucumã, no Parque Estadual do Turvo – Rio Grande do Sul



Abaixo: Sobre o Planalto Médio, onde ocorrem solos férteis, derivados do Basalto Serra Geral, com grande espessura, dominaram outrora florestas densas, como a que se observa na imagem, próximo a Frederico Westphalen



A Seguir: Aspectos da floresta estacional do Parque Estadual do Turvo, na margem esquerda do rio Uruguai. Nesta época outonal, já se podiam observar algumas árvores que são características do Núcleo Paraná das florestas estacionais semideciduais, em estágio de perda de folhas. O frio é o fator que acentua essa deciduidade


Acima: A palmeira-jerivá (Syagrus romanzoffiana) é elemento muito importante na região e ocupa praticamente todas as janelas de luz das clareiras naturais. O ecótipo é curiosamente delgado e elevado, diferindo daquele que ocupa as cimeiras de planaltos, a leste, na Serra Gaúcha, cujos caules são mais grossos.



Acima: Philodendron bipinnatifidum (família – Araceae) é planta abundante, na floresta do rio Uruguai, como também nas formações típicas do rio Paraná, a norte

Acima: A cactácea colunar Cereus hildmanianus surge de modo característico, em curiosas clareiras da floresta densa, que nada mais são que afloramentos da rocha basáltica, que impedem a instalação de grandes árvores. Essa dispersão revela passado árido

Acima: As árvores das matas do Turvo nada mais são que as mesmas da floresta estacional semideciduais do vale do rio Paraná, porém, apresentando acentuada queda de folhas, durante os meses frios. O caráter decidual também se vê incrementado, nos locais onde os solos são mais rasos, nas bordas erodidas do canal do rio Uruguai

Acima: A bromeliácea Aechmea cf. caudata, que ocorre na floresta do rio Uruguai, é a mesma espécie que surge na mata subtropical de altitude, com araucárias, no alto rio Iguaçu, próximo a Curitiba, no Paraná


Acima: Cordyline spectabilis (família – Laxmanniaceae - sob a mata, no sub-bosque) também é planta característica das florestas estacionais e subtropicais do Paraná


A Seguir: Paisagem do Salto de Yucumã, vendo-se as florestas que dominam as encostas, do lado argentino



Acima: As margens do Salto de Yucumã são formadas por miríades de blocos fragmentados de basalto, entre os quais surgem poucas plantas adaptadas à inundação de fortes torrentes, durante episódios chuvosos. Arbustos de Calliandra sp. (família Fabaceae) são os elementos de maior porte, sobre os quais crescem liquens muito decorativos

A Seguir: Uma curiosa e delicada amarilidácea é a planta mais abundante, ao redor do Salto de Yucumã – Zephyranthes cf. fluvialis – cujas flores amarelas balançam ao vento encanado da garganta rochosa




Abaixo: O expedicionário posa para registro de sua passagem pelo Salto de Yucumã





sábado, 11 de maio de 2013

NO CAMINHO DAS ARAUCÁRIAS – VALE DO RIO CHAPECÓ – SC


               Ao final de abril de 2013, novamente adentrei o território das araucárias, na Região Sul, através do planalto da alta bacia do rio Chapecó, na divisa entre o Paraná e Santa Catarina. No altiplano paranaense, onde a altitude suplanta os 1.300m, imperam os campos idênticos àqueles que encimam a borda da Serra Geral, mais próximo ao litoral (ver São José dos Ausentes -http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2012/09/os-campos-de-cima-da-serra-e-o-canion.html  ). Esses campos de cima da serra vegetam sobre basaltos quase planos, tendo sob suas raízes a rocha quase aflorante. Quando se rompe o planalto, ao sabor do avanço erosivo da alta bacia do rio Chapecó, já em terras catarinenses, surgem as florestas subtropicais, que medram sobre solos mais espessos, tendo as araucárias como elemento característico.

               As araucárias ou pinheiros-do-paraná (Araucaria angustifolia – família Araucariaceae) foram intensamente explorados, durante o Século XX, principalmente, o que em muito dificulta a interpretação de sua verdadeira ocorrência, nas florestas originais. Essa era a minha missão, nesta viagem: Tentar desvendar o papel ecológico dessas admiráveis coníferas, nos domínios da vegetação subtropical brasileira. A viagem complementou esplendidamente as reflexões anteriores, tendo circundado as áreas do Parque Nacional das Araucárias, unidade de conservação bastante recentemente demarcada e ainda insuficientemente implementada.

               Em verdade, o território das araucárias, que hoje se encontra englobado na Mata Atlântica, a partir do entendimento biogeográfico oficial, comporta DUAS formações florestais interconectadas: A legítima floresta de araucárias, que ocupa o cimo dos planaltos de basaltos da Formação Serra Geral, sob condições de frio rigoroso; E a floresta estacional semidecidual da bacia do rio Paraná, com sua formação de alta encosta, que ocupa as vertentes inclinadas e enfurnadas. A interpenetração florística entre ambas é fortíssima e mascara a necessária interpretação distinta. Essas duas florestas se relacionam a histórias naturais complementares, ligadas ao avanço erosivo Terciário e Quaternário e às mudanças climáticas – principalmente Quaternárias – que vêm lentamente reduzindo as superfícies de cimeira da velha Bacia do Paraná (bacia geológica, não confundir com a bacia hidrográfica do rio Paraná).
Veja, nas imagens que são apresentadas a seguir, um pouco desta nova viagem, relacionada à Expedição Fitogeográfica:




 Acima: o samambaiaçu conhecido como Xaxim (Dycksonia sellowiana – família Dycksoniaceae), que fez história em nossa horticultura, por fornecer a celebrada fibra, usada no cultivo de orquídeas, é um dos elementos mais marcantes das florestas subtropicais do país


Abaixo:  Entre União da Vitória e o planalto de Palmas, no Paraná, as araucárias ocupam as bordas dos campos, debruçando-se sobre a bacia do rio Iguaçu





A Seguir:  Cortes rodoviários ajudam a explorar as diferenças entre os solos que abrigam as florestas subtropicais da região das araucárias e os campos de cima da serra. Mantos espessos de solos argilosos comportam o raizame abundante das matas, que não podem vegetar nas lajes duras, que abrigam os campos. Notar a abundância das macelas ou marcelas (Achyrocline satureoides – família Asteraceae) floridas, na região dos campos.




  
Adiante:  Florestas subtropicais de araucárias, no caminho para Passos Maia, na alta bacia do rio Chapecó.








A Seguir:  Nas margens do rio Chapecó, vegetam florestas ciliares, com flora admirável, a despeito do avanço acelerado das culturas exóticas, como o pinheiro-americano, observado ao fundo, em parte de uma das fotos.






Adiante:  Florestas estacionais semideciduais de encostas de altitude recobrem os vales sombreados da região próxima a Passos Maia e Ponte Queimada, em Santa Catarina, nas cercanias do Parque Nacional das Araucárias. O pinheiro-do-paraná não vegeta de forma importante, em meio a essas matas densas, restringindo-se às bordas planálticas, onde sua figura monumental se destaca à distância.




Abaixo:  Áreas agrícolas da região de Passos Maia, em Santa Catarina, em meio aos domínios da zona das araucárias




quinta-feira, 9 de maio de 2013

VALE DO RIBEIRA, A CAMINHO DAS ARAUCÁRIAS


               No final de abril de 2013, parti mais uma vez, no rumo do Sul do Brasil, desta vez, a caminho da Região das Araucárias e Vale do rio Uruguai. O objetivo principal era o de conferir alguns aspectos relacionados às florestas subtropicais de araucárias, entre o Paraná e o Rio Grande do Sul. Também voltaria a atravessar a Pampa, onde estivera, meses antes, por ocasião dos estudos sobre os Campos Sulinos. Além disso, visitaria as florestas estacionais da bacia do rio Paraná, que se estendem curiosamente sobre parte do Planalto Médio do Rio Grande do Sul.

               No caminho, atravessei de cheio o famoso Vale do Ribeira, que compreende uma ampla depressão litorânea, entre os estados de São Paulo e Paraná, centralizada pelo rio que lhe empresta o nome: o rio Ribeira do Iguape, ou simplesmente Ribeira. Duas formações florestais significativas se interpunham em meu caminho: As florestas inundáveis do litoral, nas quais sobressai a caixeta (Tabebuia cassinoides – família Bignoniaceae); e as florestas tropicais pluviais de encosta (floresta ombrófila densa), que revestem a zona planáltica da barra do rio Turvo, em Barra do Turvo.

               As florestas inundáveis do litoral possuem florística própria, abrigando uma imensa profusão de epífitas, que encontram ambiente propício, em função do caráter quase homogêneo do arvoredo, que permite forte penetração dos raios solares. Medram onde o solo se encontra saturado pela umidade, poucos metros acima do nível do mar, porém, longe da influência direta das marés.
As florestas densas de encosta recobrem uma zona planáltica intermediária, entre a baixada litorânea do sul de São Paulo e o planalto das araucárias, no Paraná. O aspecto mais notável das matas de Barra do Turvo, que vegetam na faixa dos 700m, é a presença de extensos ecossistemas parcialmente alagáveis entremeados a morrarias convexas. Pouco restou, no Brasil, das matas que, um dia, cobriram as baixadas saturadas de umidade – terraços fluviais – que foram devastadas pela agropecuária e pela expansão das áreas urbanas. Ali, no sul de São Paulo, ainda se podem contemplar esplêndidos fragmentos dessas ricas vegetações.


  
A Seguir: Imagens que mostram a floresta inundável do litoral, na região de Registro, em São Paulo. Dominam caixetas (Tabebuia cassionoides – família Bignoniaceae), sobre as quais crescem miríades de orquídeas e bromélias





Acima: Imagem aproximada que mostra lindas inflorescências da orquídea Coppensia flexuosa, que crescem entremeadas a bromélias Vriesea philippocoburgii, uma das plantas que dominam o ambiente epífita


Acima: Aechmea nudicaulis é outra bromeliácea excepcionalmente numerosa, nas matas de caixeta



A Seguir: Florestas densas recobrem a zona planáltica intermediária, aos 700m de altitude, na região da Barra do Turvo. Trechos semi-alagáveis comportam populações densas de palmeiras-jerivás (Syagrus romanzoffiana), além de árvores cobertas de bromélias e orquídeas