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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

EXCURSÃO AO HABITAT DE HOFFMANNSEGGELLA CINNABARINA, NA SERRA DA MARIA COMPRIDA

                  No dia 01 de dezembro de 2014, acompanhando o botânico Francisco Miranda, especialista em orquídeas do gênero Hoffmannseggella, antes compreendido pelo gênero Laelia, subi à Serra da Maria Comprida, uma importante disjunção da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro, para realizar o reconhecimento do estado atual do ecossistema que abriga Hoffmannseggella cinnabarina. Este gênero de plantas é bastante conhecido dos iniciados em orquídeas como “lélias rupestres”, por se associarem intimamente ao ambiente formado por afloramentos rochosos.

                  As lélias rupestres se espalham, principalmente, ao longo da Cadeia do Espinhaço, que começa em Minas Gerais e se estende como uma muralha até a Bahia, onde sua seção principal é denominada Chapada Diamantina. Miranda vem estudando esse grupo de plantas há muitos anos, mapeando a ocorrência das espécies conhecidas e traçando a rota migratória evolutiva que originou esplêndida variedade de plantas lindamente floríferas do gênero Hoffmannseggella.

                 Hoffmannseggella cinnabarina é como uma ponta fluminense nessa longa lista de espécies predominantemente mineiras e algumas baianas. Habitam os campos de altitude e, principalmente, os afloramentos rochosos da Serra do Mar, onde se escondem discretamente, em meio às macegas, até o momento de sua floração, quando emitem longas inflorescências encimadas por flores alaranjadas, que se destacam na paisagem.

                 Diante da prolongada seca invernal de 2014, que terminou se estendendo exageradamente, ao longo da primavera, todas as vegetações da Serra dos Órgãos sofreram danos sérios, que variaram da perda de matéria orgânica, por dessecação além dos níveis de tolerância das espécies, até a queima irreversível, por conta dos inúmeros incêndios florestais, que irromperam até o adiantado de 20 de outubro – ou seja, cerca de dois meses além do habitual.

                 Francisco Miranda buscava imagens do florescimento dessa orquídea, para integrar seu acervo. Evidentemente, a observação do habitat e da ecologia fazia parte de seus objetivos, o que em muito encontra os meus próprios, em minha matéria fitogeográfica. Juntos, não sem imensos sacrifícios físicos, tivemos o prazer de visitar a vertente norte da Serra da Maria Comprida, no primeiro dia de dezembro de 2014, graças à cooperação do pessoal da Fazenda Mata Nova, que abriu suas portas para nossa excursão, que também contemplou a reserva particular da Toca da Onça, muito minha conhecida.

Adiante, alguns aspectos dessa proveitosa visita:

Abaixo – A orquídea Hoffmannseggella cinnabarina (=Laelia cinnabarina) foi a principal razão de nossa subida à Serra da Maria Comprida. Esse grupo de plantas rupícolas/saxícolas tem sido detalhadamente estudado por Francisco Miranda, que é um de seus maiores conhecedores



A Seguir Vista geral do habitat de Hoffmannseggella cinnabarina, na Serra da Maria Comprida – uma disjunção da Serra dos Órgãos



Acima – Francisco Miranda admira o vale da Reserva da Toca da Onça e Fazenda Mata Nova, onde se encontram algumas das mais bem conservadas vegetações da Floresta Atlântica Fluminense

A Seguir – Não obstante os esforços dos proprietários dessas áreas ao norte da Serra da Maria Comprida, o fogo tem representado inimigo impiedoso da biodiversidade. Nas imagens, em diversos planos, podem ser observados os trágicos resultados do mais recente ciclo de incêndios florestais, deflagrado em outubro de 2014



Acima – O que restou de uma floresta-miniatura de vegetação rupestre, na encosta do pico do Monte de Milho: A degradação é irreversível e altera drasticamente as condições de permeabilidade e escorrimento dos fluxos torrenciais pelas encostas, aumentando a erosão e os índices de temperatura e radiação dos vales

Abaixo – O encontro entre as duas mais notáveis espécies investigadas pelos naturalistas, nesta expedição: Hoffmannseggella cinnabarina, com suas flores alaranjadas, e Worsleya rayneri (família Amaryllidaceae), que é o famoso rabo-de-galo. Nota-se o nível de impacto do fogo cíclico sobre o substrato que abriga estas duas plantas ameaçadas




A Seguir – O rabo-de-galo (Worsleya rayneri) é uma espécie criticamente ameaçada da flora da Serra da Maria Comprida. Sua ocorrência é restrita a este maciço e a poucos cumes montanhosos ao redor. O fogo e a coleta criminosa, para abastecer mercados de plantas ornamentais, têm sido seus principais algozes




Acima – Um dos mais relevantes achados desta excursão foram algumas plântulas de Worsleya rayneri, que apareciam na parca camada de musgos e terra, que recobre a rocha lisa. Tinham surgido alguns anos após os últimos incêndios, mostrando haver chances de regeneração para a espécie


Acima – Trecho do afloramento rochoso da encosta do pico do Monte de Milho, na Serra da Maria Comprida, sendo possível observar plantas típicas, como Vellozia variegata (família Velloziaceae), Pitcairnia flammea (Bromeliaceae), com suas flores vermelhas, e populações de rabos-de-galo

Nas Fotos a Seguir – Respectivamente o autor – Orlando Graeff – e o naturalista Francisco Miranda se maravilham com as belas plantas da Serra da Maria Comprida





Acima – Coppensia blanchetii (=Oncidium blanchetii) é uma orquídea que também se esconde em meio à vegetação campestre da Serra da Maria Comprida


A Seguir – O curiango levantou voo e foi pousar sobre a pedra nua, sobre a qual se mimetizava com perfeição...



Logo descobrimos por que esta ave noturna aparentemente se espantara frente à nossa passagem: Na verdade, atraía-nos para longe de seus filhotes, recém-saídos da casca dos ovos