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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

PARQUE NACIONAL CAVERNAS DO PERUAÇU

               Vindo da região de Diamantina, na Cadeia do Espinhaço, visitei o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, próximo a Itacarambi, na margem esquerda do rio São Francisco, em Minas Gerais, entre os dias 06 e 08 de agosto de 2014. Meu principal objetivo era conferir aspectos das florestas deciduais, especialmente no que cerca a ecologia de árvores singulares, que são características dessas matas secas de calcários. A principal delas era o escultural embaré ou barriguda (Cavanillesia umbellata – família Malvaceae), que vem desaparecendo da paisagem, de modo acelerado, principalmente em função do desmatamento da floresta estacional decidual.

               O Parque do Peruaçu ainda não conta com Plano de Manejo e, portanto, sua visitação é limitada, priorizando o estudo de seus notáveis atributos, dos quais o mais célebre diz respeito à grande quantidade de cavernas calcárias ali existentes. Pinturas rupestres também compõem o patrimônio desta unidade de conservação. No meu caso, a flora razoavelmente bem conservada das matas caducifólias, que revestem as paisagens cársticas do Peruaçu, representava atrativo principal.

               Veja abaixo alguns instantâneos importantes dessa visita, através das fotos obtidas:


Acima – As extensas baixadas sedimentares, que cercam o rio São Francisco, na região do norte de Minas Gerais, possuem solos muito férteis, tendo sido foco de grande destruição de suas matas, para atividades agropecuárias. Da famosa Mata do Jaíba, restaram apenas alguns de seus magníficos exemplares de aroeiras, gonçalo-alves e ipês, além das soberbas barrigudas ou embarés (Cavanillesia umbellata), como a da fotografia.

A Seguir – As mais singulares florestas estacionais deciduais se refugiam hoje por sobre as anfractuosidades das serras calcárias, onde as barrigudas e as paineiras-barrigudas (Ceiba glaziovii – família Malvaceae) contrastam com os demais elementos arbóreos e com a rocha acinzentada.






Acima – Paisagem rural, ao redor de Itacarambi, onde resistem embarés e aroeiras (Myracrodruon urundeuva – Anacardiaceae), cujo porte dá conta do que deve ter sido a lendária Mata do Jaíba.


Acima – Vista proximal de uma serra calcária, no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, onde abundam cavernas, que vêm sendo intensamente pesquisadas pelos espeleólogos.


Acima – Aspecto interno da floresta estacional decidual, em avançado estado de queda das folhas, durante o inverno.


Abaixo – O mandacaru (Cereus yamacaru) é a mais portentosa cactácea arbórea do Semiárido e penetra a floresta estacional do Peruaçu. No interior dos vales calcários, a deciduidade é menor, embora a flora pouco mude, de modo geral.

A Seguir – Antigos fluxos de água escavaram a rocha calcária do vale do rio Peruaçu, originando amplas e extensas cavernas, que têm sido investigadas pela ciência, enquanto aguardam oportunidade de serem expostas à visitação.





Abaixo – A paineira-barriguda (Ceiba glaziovii), tanto quanto o embaré, pode ser encontrada na floresta decidual propriamente dita, onde se vê acompanhada por elementos da caatinga, como a amburana (Amburana cearensis – Fabaceae).


Acima – Meu guia no Vale do Peruaçu, Ademir Vassalo, posa ao lado de um dos magníficos embarés do Parque Nacional, em meio à floresta decidual.


Acima – Aspecto de um dos cânions profundos do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais


Acima – Modo como o embaré ocorre, em meio à floresta estacional decidual do Vale do Peruaçu, próximo a Itacarambi, no rio São Francisco


Acima – Fragmento de vereda, no Vale do Peruaçu: Poucas veredas ainda restam, nessa região, que tem sido intensamente degradada por atividades agropecuárias primitivas, onde o fogo é o principal fator de destruição.

A Seguir – Palmeiras do gênero Butia formam populações concentradas, nas bordas das veredas do Peruaçu. Por fornecerem frutos comestíveis, terminam por ser preservadas pela população rural, formando grupos notáveis na paisagem.





A Seguir – Paisagens do Vale do Peruaçu, na região de Itacarambi, Minas gerais: O rio São Francisco, ao fundo das florestas secas de calcário do Peruaçu...



...e os afloramentos de calcário, com jardins de bromélias (Encholirium spp.) e cactáceas (Pilosocereus pachycladus).

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

DIAMANTINA – MINAS GERAIS

              Entre 04 e 06 de agosto de 2014, estive na cidade de Diamantina, no coração da extensa Cadeia do Espinhaço, a caminho do norte de Minas Gerais. Chamada de Tijuco, nos tempos do Brasil Colônia e Império, Diamantina foi a mais importante província diamantífera do país e ainda guarda as marcas dessa pujança, em seu casario admiravelmente bem conservado, que eu já visitara antes, durante minha primeira passagem, em 2007.

               Desta vez, tive oportunidade de examinar detidamente seus campos rupestres e percorrer algumas de suas mais belas paisagens, o que serviu para conferir muitas das hipóteses levantadas, ao longo do livro Fitogeografia do Brasil – Uma Atualização de Bases e Conceitos, em fase de edição, por ocasião desta nova viagem pelo país.

               Veja, a seguir, alguns aspectos desta proveitosa visita, através de imagens selecionadas para compor a presente publicação:

Abaixo – Diamantina reserva algumas das mais representativas paisagens de campos rupestres do Brasil, sendo possível divisar o Pico do Itambé, de quase todos os locais





Acima – Melastomatáceas e eriocauláceas são plantas indicadoras dos campos rupestres, de forma geral, sendo elementos característicos deste tipo de paisagens, por toda a Cadeia do Espinhaço

Acima – Esculturas naturais, nos campos rupestres

Abaixo – Aspectos dos afloramentos de rocha quartzítica, em meio aos campos rupestres da região de Diamantina. A delicada palmeira-das-pedras (Syagrus glaucescens) é endêmica da região e representa elemento singular, neste tipo de ecossistema




A seguir – A linda orquídea Hoffmannseggella cf.crispata pode ser observada, em flores, ao redor de Diamantina. Seu modo de ocorrência é bastante particular, adaptando-se ao ambiente contrastante dos campos entre rochas. Seu cultivo é muito difícil, fora de seu habitat, o que não recomenda sua coleta, que já foi intensamente efetuada






Esculturas naturais de Diamantina – Acima – Parece que o Aleijadinho andou pelos campos rupestres de Diamantina e deixou inconclusa a imagem da cabeça de um anjo barroco. Abaixo – Uma coruja de pedra parece espreitar o excursionista perdido entre as rochas



A seguir – A bromélia Tillandsia streptocarpa forma curiosas populações, vegetando diretamente sobre os quartzitos escaldantes de Diamantina.






Acima – Pico do Itambé, em meio à paisagem dos extensos campos rupestres de Diamantina
Abaixo – Vista parcial do Arraial do Tijuco (Diamantina), lembrando imagens captadas pelos desenhos de Rugendas, no Século XIX



Acima – Bromélias tanque-dependentes também fazem parte da paisagem botânica dos arredores de Diamantina

Acima – Curiosas populações de velosiáceas (canelas-de-ema) se arranjam sobre microbacias arenosas, em meio aos quartzitos de Diamantina

Acima – Bromélias do gênero Encholirium reservam preciosas surpresas aos naturalistas, em meio à vegetação adaptada dos campos entre rochas (campos rupestres): Com suas folhas acinzentadas e formando populações densas, essas plantinhas resistem à intensa radiação solar

Abaixo - Vista parcial de um campo rupestre, onde arvoretas adaptadas se entremeiam às rochas fraturadas e à areia quartzosa


Acima – Liquens coloridos da Cadeia do Espinhaço

A seguir – Belos cenários da Cadeia do Espinhaço, entre Diamantina, Milho Verde e Serro, podendo ser vislumbrado o Pico do Itambé, que domina a paisagem




Acima – A estradinha de terra que liga Diamantina a Serro, que representa remanescente da velha Estrada Real, vai sendo alargada e modernizada, sem que seja tomado qualquer cuidado com a flora dos campos rupestres, que lhe vai ao redor. Abaixo – Vellozia sp. Prestes a ser varrida pela terraplenagem das obras rodoviárias 


Observação posterior (18 de agosto de 2016): Meu grande amigo Lucas Assis trouxe valiosa informação sobre estas obras que referi acima, que transcrevo abaixo:

"A estrada que liga Diamantina à Serro está sim sendo asfaltada pelo governo de Minas, através de um programa de desenvolvimento humano e melhorias de acessos viários. Existem muitas condicionantes ambientais nesse trecho (Ibama, IEF e FEAM), uma delas é o resgate de flora ( o qual eu sou responsável). Como você sabe eu trabalho aqui, o que você provavelmente não sabe é que desde o início dessa obra milhares de plantas foram resgatadas, o Jardim Botânico de Belo Horizonte vem recebendo plantas das famílias Arecaceae, Araceae, Bromeliaceae, Orchidaceae, Eriocaulaceae, Cactaceae entre muitas outras. Lá essas plantas vem sendo cultivadas desde 2011 com sucesso, muitas florindo e sendo propagadas por sementes, um material testemunho de um lugar tão especial. Outras milhares, são plantadas pra fora do trecho impactado, cuidadosamente retiradas, plantadas em área proxima, afim de manter as populações e sua respectiva genética onde pertencem. Um resgate de flora dessa magnitude é algo grandioso e muito difícil de conseguir resultados de 100% de sobrevivência, mas saiba que eu dou o meu sangue para minimizar as perdas."