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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

SERRA GAÚCHA – JANEIRO DE 2016 – MAIS SOBRE OS BASALTOS DA SERRA GERAL

Nossa viagem ao Sul do Brasil, entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016, atravessou as belas florestas litorâneas, desde o estado de São Paulo, até Santa Catarina, passando pelo Paraná, onde visitamos a região de Guaraqueçaba, importante reserva de vegetações bem conservadas. Tudo isso você pôde verificar na série de postagens que veiculamos aqui, no blog das Expedições Fitogeográficas

Também subimos os aparados da Serra Geral, que são magníficas escarpas escavadas durante milênios, nos basaltos de mais de cem milhões de anos, revisitando a região de Urubici, na Serra Catarinense, onde visitamos a Cachoeira da Neve e seus xaxins gigantes.

No Rio Grande do Sul, durante nossa permanência, pudemos ainda examinar mais algumas paisagens relacionadas aos basaltos da Serra Geral, assim como as florestas subtropicais que se lhes entremeiam. A seguir, algumas imagens desta seção da expedição, acompanhadas dos comentários, que complementam as informações:


Acima – A época desta expedição propiciou encontro com algumas orquídeas célebres, em flores, como a Cattleya tigrina (=Cattleya leopoldii), que habita as florestas mais baixas e quentes, dos vales dos rios centrais do RS, ou a delicada Coppensia varicosa (=Oncidium varicosum), fotografada na floresta subtropical do planalto da Serra Gaúcha, em Caxias do Sul - Abaixo




A Seguir – Os principais rios que cortam o planalto da Serra Gaúcha, tais como o rio Pelotas (que forma o rio Uruguai), o Caí e seus tributários, assim como o belo rio das Antas, são encaixados em profundas falhas no embasamento de basaltos da Formação Serra Geral. Sobre a crista planáltica, dominam as florestas mistas de araucária e os campos de cima da serra, num tipo de paisagem que chamamos de ARAUCARILÂNDIA, adotando a denominação histórica do naturalista Frederico Carlos Hoehne. Nas vertentes dissecadas e íngremes, vegetam florestas subtropicais, onde as grandes coníferas desaparecem, por completo, até chegar-se à margem desses rios, cercadas por florestas de certa tropicalidade. Tudo isso foi detalhadamente discutido, em nosso livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL, UMA ATUALIZAÇÃO DE BASES E CONCEITOS (Orlando Graeff, 2015 – NAU Editora)





A Seguir – O Cânion do Palanquinho, próximo a Criuva, no interior de Caxias do Sul, é exemplo característico de paisagem relacionada aos basaltos da Serra Geral, exibindo os campos e florestas subtropicais, com araucárias (Araucaria angustifolia – família Araucariaceae), em suas crista, e abrigando florestas densas, dentro dos vales, onde a conífera brasileira somente aparece de forma excepcional








Acima – Paredões íngremes de rocha pura, no Cânion do Palanquinho, abrigam flora relíquia de tempos frios e semiáridos, onde sobressaem gesneriáceas do gênero Sinningia, orquídeas Epidendrum fulgens, os mesmos que admiramos nas areias de Santa Catarina, com suas flores alaranjadas, e grandes bromélias duras e espinhentas do gênero Dyckia (grupo de Dyckia maritima)


Acima – Dependendo da orientação cardeal da encosta, nos amplos vales desses rios serranos, observam-se fragmentos de floras-relíquia semiáridas, como é o caso desta ocorrência de populações da cactácea Cereus hildmannianus, no vale do rio das Antas, próximo a Criuva, em Caxias do Sul

Abaixo - Um dos mais importantes aspectos da paisagem da Serra Gaúcha é a presença histórica dos imigrantes italianos, que chegaram há mais de um século e modificaram, desde então, de forma irreversível, o quadro natural da região


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

SERRA DA CANASTRA – FEVEREIRO DE 2016 – EM BUSCA DA ORQUÍDEA HADROLAELIA PUMILA

Mais uma vez, minhas viagens me levaram à Serra da Canastra, em Minas Gerais, região que não cessa de nos brindar com surpresas e aspectos relevantes, no que diz respeito à sua natureza. Não há dúvidas: é um destino inesgotável, quando o assunto é fitogeográfico. Desta vez, atraiu-me o prometido florescimento da orquídea Hadrolaelia pumila (=Laelia pumila), da qual havíamos descoberto nova população, em junho de 2015, quando visitamos o Parque Nacional da Serra da Canastra (ver postagem de maio de 2015 - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/06/uma-nova-visita-serra-da-canastra-maio.html ). Naquela expedição, realizada em companhia de Maurício Verboonen, encontráramos florestas protegidas, que abrigavam grande quantidade de plantas desta espécie.

Elossandro Coelho, nosso habitual guia e colega de excursões na Canastra, ficara de acompanhar a evolução dessas orquídeas, nestes locais, até a emissão de botões florais, inicialmente prevista para fevereiro deste ano. Com o forte calor do último verão e suas fortes chuvas, o florescimento das Hadrolaelia pumila se adiantou um pouco, havendo plantas com flores, desde janeiro. Mas, em face do estímulo climático, a floração foi intensa e nos permitiu testemunhá-la. Foi assim que, entre os dias 15 e 17 de fevereiro de 2016, Maurício, Elossandro e eu mergulhamos na paisagem da admirável Serra da Canastra, presenciando e fotografando essas belas orquídeas.

Das observações realizadas nas florestas ciliares da Serra da Canastra, em áreas legalmente protegidas, nos foi possível ainda anotar importantes aspectos ecológicos sobre essas populações já raras da orquídea. Intensamente coletada, desde muito tempo, Hadrolaelia pumila se restringe hoje a poucos fragmentos de floresta do Parque Nacional da Serra da Canastra e esperamos que nossas observações de alguma forma sirvam para ajudar na sua conservação, em seus ambientes naturais.

A seguir, a série de imagens selecionadas desta expedição, para deleite dos leitores do blog das Expedições Fitogeográficas, acompanhadas dos comentários:


Acima – Objeto de nosso interesse específico, nesta expedição: a linda orquídea Hadrolaelia pumila, em flores, na Serra da Canastra

A Seguir – A paisagem de campos limpos sobre rochas de quartzito, entremeada de campos rupestres (campos entre rochas), da Serra da Canastra, é recortada por corredores de florestas ciliares, profundamente encaixadas, nas quais vegetam muitas plantas epífitas, entre elas, a orquídea Hadrolaelia pumila



Acima – Vista interior das florestas densas, que acompanham riachos límpidos, tributários do rio São Francisco (Velho Chico), no Parque Nacional da Serra da Canastra. A pujança dessas matinhas é simplesmente inesperada, quando contempladas de fora
Abaixo – A orquídea Hadrolaelia pumila ocorre no interior dessas florestas, em diversos microambientes, mostrando grande capacidade de adaptação aos diferentes gradientes de luz, embora demonstre certa preferência por algumas árvores-suporte




Acima – A orquídea Alatiglossum longipes (= Oncidium longipes) também ocorre nas matinhas ciliares da Serra da Canastra e exibia suas delicadas flores douradas, por ocasião de nossa visita


Acima – Detalhe de flores de Hadrolaelia pumila, num meio-fuste, no interior da floresta ciliar da Serra da Canastra

Abaixo – Touceiras densas de Hadrolaelia pumila já não são mais tão comuns, após tanta pressão de coleta criminosa. No Parque Nacional da Serra da Canastra, contudo, nos foi possível observar uma delas, em seu ambiente preferido – a borda externa das florestas ciliares, onde encontram condições de ventilação e luminosidade




Acima – Uma vez induzidas ao florescimento, por força da temperatura e umidade do alto verão, as plantas de Hadrolaelia pumila florescerão, em qualquer condição em que lhes seja possível. Esta planta florescia teimosamente, sobre a manta de matéria orgânica do chão úmido da floresta, onde terminava seus dias, após cair de alguma árvore acima.
Abaixo – Maurício admira uma planta florida, numa arvoreta tombada, na borda da floresta ciliar



A SeguirOrlando Graeff, empoleirado sobre os galhos de uma das árvores-suporte de Hadrolaelia pumila, fotografa populações da orquídea, em seu ambiente mais importante, para sua conservação: a borda da mata ciliar




Acima – Agarradas à casca suberosa de algumas mirtáceas, as orquídeas Hadrolaelia pumila vegetam vigorosamente, na borda das florestas, onde encontram intensa iluminação. Maurício Verboonen apontou se tratar tal condição essencial para a biologia dessas plantas, por disporem de polinizadores, além de ambiente amplamente iluminado e ventilado, que lhes permite frutificar e espalhar sementes, em imensa quantidade, bem mais que no interior das florestas cilares.
Veja a Seguir – Notável quantidade de cápsulas (frutos) e seedlings (plântulas) de Hadrolaelia pumila pode ser encontrada nessas arvoretas isoladas, fora da floresta, prometendo intenso repovoamento das áreas um dia coletadas e sujeitas ao fogo destrutivo da Serra da Canastra



A Seguir – Nessas arvoretas típicas da floresta estacional semidecidual de altitude, espetadas na bordadura das matinhas ciliares, a orquídea partilha seu ambiente com algumas outras epífitas como a bromélia Aechmea bromeliifolia. Poucas outras plantas conseguem medrar, nessas condições críticas, onde o fogo habitualmente se faz presente, destruindo a biodiversidade



A Seguir – Fora dessas matinhas ciliares e suas bordas, situadas a mais de 1.200m de altitude, na Serra da Canastra, a orquídea Hadrolaelia pumila desaparece, cedendo lugar a outras joias botânicas, associadas a outras paisagens igualmente deslumbrantes


Acima – Vistosas populações de eriocauláceas, melastomatáceas, velosiáceas e asteráceas fazem o deslumbre daquele que decidir visitar a Serra da Canastra, nesta época do ano
Abaixo – Detalhe de uma das inúmeras melastomatáceas de flores vistosas, que abundam nos campos da Serra da Canastra


Acima – Candeias e canelas-de-ema, nos campos rupestres da Serra da Canastra



Acima – Bromeliácea do gênero Dyckia, em flores, sobre vale profundo, na Serra da Canastra

Abaixo – Orlando Graeff e Maurício Verboonen, em seu ambiente predileto – a natureza – Parque Nacional da Serra da Canastra



 
Acima – As chuvas nos cercavam, constantemente, no verão da Serra da Canastra. Ao fundo, a famosa cascata da Casca D`Anta, considerada a nascente histórica do rio São Francisco (Velho Chico)



 Acima – Bromélia Billbergia cf. zebrina, na zona agrícola e pecuária de entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra.
Abaixo – Surpresa na Serra Branca, numa das bordas da Canastra: em meio ao solo pedregoso e calcinado pelo fogo recente, uma bela floração da orquídea Coppensia varicosa (= Oncidium varicosum)




A SeguirMaurício Verboonen posa junto a uma notável população da eriocaulácea Paepalanthus speciosus, que Orlando Graeff fotografa, adiante