Quando por ocasião de nossa passagem por Mendoza, na Argentina (ver postagem –
Mendoza e os Andes Argentinos - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/08/mendoza-e-os-andes-argentinos-2006.html ), em 2006, realizamos uma ligeira digressão aos pés da Cordilheira, na isolada região de
Laguna Diamante. Infelizmente, por causa de uma recente avalanche de neve e
pedras, o caminho até a admirável Laguna se encontrava interrompido, o que não
nos impediu, é claro, de examinar a curiosa paisagem botânica local.
O solo é proporcional à situação de cada encosta: sobre as
vertentes mais agudas, onde a neve cobre com frequência, nada mais existe do
que uma miríade de pedregulhos (clastos) angulosos, sobre os quais pouca coisa
chega a medrar; na base e no fundo dos vales espremidos, chega a se acumular
algum sedimento, as pedras se misturam ao loess
fino dos vulcões e à fina “areia”, que nada mais é do que a rocha vulcânica
finamente dividida.
Nesses vales muito exíguos, que mostram as marcas das
violentas torrentes, que as atravessam, no degelo, para se esvaírem nas
planuras desérticas abaixo, é onde a vida se concentra. Plantas anuais, com
lindas flores coloridas, se misturam a arbustos muito rijos e adaptados. Nesta
região, podem ser vistos os derradeiros cactos, que acompanham a extensa
Cordilheira, desde a América Central, encontrando ali seus limites austrais.
Poucas formas de vida conseguem se adaptar às ásperas
condições antepatagônicas e subalpinas dos Andes de Mendoza. São “ecossistemas
críticos”, que não devem ser confundidos com ecossistemas criticamente ameaçados, embora usualmente acabe sendo
esta sua condição de conservação. Em nosso livro Fitogeografia do Brasil – Uma Atualização
de Bases e Conceitos (ver postagem anterior http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/10/o-livro-fitogeografia-do-brasil-uma.html ), discorremos sobre a dura
condição de sobrevivência das formas de vida, nesses ecossistemas muito pouco
diversificados (ecossistemas críticos).
É reconhecido o estado de intensa invasão desses ecossistemas
críticos argentinos por plantas exóticas, que facilmente ocupam os espaços das
espécies nativas. Ali, na estradinha perdida para a Laguna Diamante, contudo,
ainda se consegue apreciar boa parte das belas espécies nativas da Argentina,
sendo muitas pouco conhecidas por nós.
Aproveite as imagens obtidas em 2006, por ocasião desta
passagem pelos pés dos Andes:
acima - guanacos habitam as áreas desérticas da Laguna Diamante
adiante - Paisagens ao sul de Mendoza, na Argentina, aos pés dos Andes
acima - As últimas cactáceas, ao sul da América, habitam a pré-cordilheira da região de Mendoza: Maihuenia patagonica
acima - Senecio filagionoides (Asteraceae) é uma das mais importantes plantas dessas vegetações rasteiras da antessala da Patagonia