Dando seguimento à sequência de postagens que paralisara, em
28 de outubro de 2015 (http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/10/aos-pes-dos-andes-argentinos-vegetacoes.html ), pela
necessidade de publicar viagens mais recentes, voltamos agora à memorável
expedição que realizamos, por terra, através da Argentina e
Chile, entre o final de 2005 e início de 2006. A viagem atravessara
Foz do Iguaçu, ainda em território brasileiro, passando por lugares
impressionantes, como Corrientes, Catamarca, Valle Fertil e Mendoza, na
Argentina, de onde realizamos a travessia da Cordilheira dos Andes, chegando ao
Chile, em janeiro de 2006.
A visita ao Chile foi uma breve experiência, que serviu para
avivar o interesse por aquele esplêndido país, espremido entre a Cordilheira e
o Oceano Pacífico, cuja natureza representa incrível contraste com as paisagens
a leste dos Andes. Mais adiante, terei oportunidade de publicar novas viagens,
realizadas àquele país, anos depois.
Desta travessia andina e de nossa chegada à margem do
Pacífico, na lendária cidade de Valparaíso, onde aportara seu mais
célebre viajante – Charles Darwin – mais de cento e setenta anos antes,
publico agora algumas imagens representativas, lembrando que, àquele tempo,
ainda iniciava a passagem para a fotografia digital, não contando com os
recursos disponíveis hoje, dez anos após.
Vamos às fotos então, aproveitando para fazer os usuais comentários
fitogeográficos:
Abaixo – A travessia dos Andes, pelo Passo Cristo Redentor, se dá
numa altitude de quase 4.000m, permitindo ter-se ideia da paisagem botânica
resultante do clima alpino, com altos contrastes de luz, umidade e temperatura
O derretimento do
gelo e da neve são as fontes fundamentais de suprimento de água, nesses
ecossistemas extremamente críticos. A rede de canais, portanto, não apresenta o
desenho a que estamos habituados, nos trópicos úmidos, sequer o mesmo que
havíamos observado, nos semidesertos argentinos.
Acima - Lagos profundos ocupam vales formados pela ascensão
monumental dos picos andinos
Solo, propriamente
dito, quase inexiste, nessas grandes altitudes. Mesmo assim, diversas espécies
de plantas anuais ou semiperenes vegetam nas frestas de rochas ou nos
espraiados de cascalhos fragmentados. Florescer e completar o ciclo fenológico,
com rapidez, é tarefa essencial para essas plantas, que também buscam
eficiência na polinização, alcançando belos efeitos ornamentais, para atrair a
fauna.
Acima - Schizanthus hookerii (família Solanaceae), presença notável na
flora andina chilena
Acima – Tropaeolum nubigenum (família Tropaeolaceae)
Abaixo – Nas íngremes vertentes, voltadas ao território chileno,
formam-se verdadeiras torrentes, que drenam as águas copiosas do derretimento
de neves e gelos andinos. Na medida em que ficam para trás as montanhas quase
estéreis de cascalhos e pedras, na cumeada da Cordilheira, vão surgindo
cactáceas e bromeliáceas típicas, que se vão misturando a arbustos e arvoretas
mais densas, até atingirem as planícies e vales centrais do Chile, hoje em dia
quase completamente ocupados por lavouras e pomares
Adiante – Uma das razões para a descida às séries de cadeias
montanhosas, que se interpõem entre os Andes e o Pacífico, era a contemplação
das últimas populações da palmeira-chilena (Jubaea chilensis), que
foi quase exterminada, devido à sua utilização, no passado, para o fabrico de
xaropes adocicados. É a única espécie de Arecaceae (Palmae), a oeste dos Andes
Acima – O Autor Orlando
Graeff estudando suas anotações, sobre a baía de Valparaíso, no Chile,
mesmo destino de Charles Darwin, mais de cento e setenta anos antes