Acima - jacaré-do-pantanal
Por duas vezes, visitei o Pantanal
do Rio Negro, no Mato Grosso do Sul – 2007 e 2009, tendo como base a
Pousada dos Monteiros. A primeira, em companhia de Maurício
Verboonen e a segunda de Sérgio Basso.
A Pousada
dos Monteiros, situada na RPPN de mesmo nome, carrega esse nome por
duas razões que estabelecem feliz coincidência: primeiramente, pelo que diz
respeito ao nome da família proprietária – Monteiro
– dos quais conhecemos Marcela e Artur, mãe e filho, apaixonados pelo
Pantanal e sua vida silvestre; a segunda é a presença dos porcos-monteiros,
que são porcos domésticos asselvajados há anos e que são hoje presença
constante em quase todo o Pantanal.
A visita ao Pantanal dos Monteiros foi fundamental para a
compreensão de diversos aspectos fitogeográficos do subdomínio denominado Pantanal da Nhecolândia e Aquidauana,
cujas paisagens são determinadas pelos sedimentos Quaternários do Leque Aluvial
do Taquari. A partir dessa preciosa imersão, em que pudemos contemplar não
apenas a fauna e a flora, mas também a geomorfologia característica deste
setor, foi possível conferir importantes hipóteses históricas naturais sobre
esse célebre Bioma Pantanal. Em meu livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL, UMA
ATUALIZAÇÃO DE BASES E CONCEITOS (NAU Editora, 2015 - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/10/o-livro-fitogeografia-do-brasil-uma.html ), apresentei muitos dos
resultados dessas pesquisas de campo.
Nas fotos desta postagem, aparece um pouco sobre a natureza
desta região tão singular da maior planície inundável do Planeta.
Acima - O rio Negro nasce nos contrafortes da Serra de Maracaju,
que é a borda do Planalto Brasileiro. Esta cachoeira representa seu primeiro
salto, no rumo do Pantanal Sul, onde centraliza uma interessante região alagável.
Abaixo – Norantea guianensis (Marcgraviaceae)
é a notável liana chamada de rabo-de-arara, que vegeta nos ambientes rochosos,
sobre essas vertentes
A Seguir – Sobre essas bordas do Planalto Brasileiro, debruçados
sobre a depressão pantaneira, estende-se corredor de vegetações semiáridas,
ligadas ao Chaco. Durante anos, a Geografia entendeu haver ali uma ligação
recente com o Bioma Caatinga, o que foi recentemente rejeitado por estudos
estatísticos comparativos entre as duas floras (Chaco e Caatinga).
Acima – Cereus hildmannianus é uma cactácea numerosa, em meio ao
corredor de vegetações de índole semiárida da borda do Pantanal Sul
Acima – Notáveis populações de bromeliáceas espinescentes (Dyckia
cf. ferruginea)
se acercam das bordas rochosas da Serra de Maracaju, formando corredores de
vegetação semiárida
Abaixo – Da baixada pantaneira, pode-se vislumbrar o extenso conjunto
de escarpas da Serra de Maracaju, que é a frente erosiva do Planalto
Brasileiro, a formar a borda oriental do Pantanal Matogrossense.
Acima – Orlando Graeff, em meio ao cerradão denso, que cerca a base
das escarpas da Serra de Maracaju
A Seguir – Os poucos terrenos relativamente secos ou pouco
alagáveis, na primeira vertente do Pantanal Sul, são dominados pelas lixeiras (Curatella
americana – Família Dilleniaceae)
Adiante – As áreas predominantemente inundáveis são colonizadas a
duras penas, por poucas espécies arbóreas, que conseguem algum solo drenado, no
topo dos termiteiros – cupins – juntamente com cactáceas escandentes, como Hylocereus
setaceus.
Acima – O Pantanal praticamente não possui flora própria,
constituindo-se de um complexo pool de vegetações e elementos florísticos
importados de formações ao redor. Nesta imagem, uma “cordilheira” pantaneira,
coberta por elementos diversos, tais como: Cambarás (Vochysia divergens –
Vochysiaceae), palmeiras-bocaiúva (Acrocomia aculeata – Arecaceae) e;
Sucupira-preta (Bowdichia virgilioides – Fabaceae).
Acima – As “cordilheiras” do Pantanal não são extensas montanhas,
como o nome poderia sugerir. São cordões de terrenos levemente elevados que,
por escaparem da inundação da planície, sustentam vegetação arbórea. A linha de
alagamento anual pode ser interpretada, nesta imagem, pelo limite entre as
bromélias (Bromelia cf. balansae) e o pasto aberto.
Abaixo – Vista de uma “cordilheira”, na Fazenda São João, no
Pantanal do rio Negro, Mato Grosso do Sul, abrigando flora complexa, onde se
destacam, pelo porte, o tarumã (Vitex cymosa – Família Lamiaceae) e;
os ipês e paratudos (Handroanthus spp. e Tabebuia
aurea – Família Bignoniaceae). Trecho
de solos muito suavemente elevados, descendentes de velhas dunas eólicas do
Quaternário e de diques marginais são tudo com que alguns fragmentos de matas
semideciduais podem contar para se estabelecer, em meio ao Pantanal do rio
Negro
A Seguir – Decididamente não é o gado que aparece nesta imagem,
apesar da tranqüilidade da cena. São veados-campeiros (Ozotocerus bezoarticus), que, aos bandos numerosos, convivem
pacificamente com a pecuária do Pantanal Sul.
Acima – Um macho maduro de veado-campeiro (Ozotocerus bezoarticus) passeia tranquilamente pela Fazenda São
João, tendo atrás de si um pequeno trecho de caronal, vegetação herbácea que,
primitivamente, dominava as áreas abertas do Pantanal.
Abaixo - Mais um grupo de veados-campeiros da Fazenda São João, no
Pantanal Sul. A fauna é atração turística principal de toda a região e os
encontros são sempre uma certeza.
Abaixo – Um dos animais mais belos e misteriosos do Pantanal é o
cervo-pantaneiro (Blastocerus dichotomus),
com seu porte avantajado e fronte inconfundível. Este macho maduro de cervo pastava
em meio ao caronal alagado da Fazenda São João
Adiante – Como seria de se
esperar, a fauna pantaneira mantém estreita relação com sua flora. O mandovi (Sterculia
striata – Família Malvaceae = Sterculiaceae) é capítulo importante
destas relações, por ser procurado pelas araras e outras aves, não somente para
alimentação, como para nidificação.
Acima – As araras-canindé (Ara
ararauna) são as mais facilmente avistáveis, sobre as copas dos mandovis (Sterculia striata).
Abaixo – Mas, quem realmente manda no ambiente das copas dos
mandovis (Sterculia striata) são as
araras-azuis-do-pantanal (Anodorhincus
hyacintinus), as maiores a mais fortes, dentre todas, formando bandos
numerosos.
Acima – As araras-piranga (Ara
chloroptera) chegam na primavera e disputam lugar no “condomínio” dos
mandovis, para sua nidificação que, em outras áreas, ocorre preferencialmente
nas escarpas de arenito.
Acima – Até o murucututu-da-cara-branca (Pulsatrix perspicilata) acorre ao mandovi, para reprodução e este
filhote foi observado em outubro de 2009, no capão da Fazenda São João, no
Pantanal do rio Negro, MS.
Abaixo – Os patos (Cairina
moschata) acorrem às áreas alagadiças, em busca de alimento, no Pantanal
Sul.
Abaixo – Esta paisagem de vazante inundável, no Pantanal Sul,
poderia ser facilmente confundida com uma outra, que registramos na Argentina,
em 2006, no Parque Nacional Chaco (postagem
- http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2013/09/corrientes-argentina-atravessando-o.html), região de Corrientes, na Argentina. A convergência fisionômica e
tipológica, contudo, é prontamente desfeita, ao examinarmos suas floras, que
são notavelmente distintas, como explicamos no livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL.
Acima - O mais representativo integrante da fauna pantaneira é,
decididamente, a capivara (Hydrocharis
hydrochaeris), o maior roedor do Planeta, podendo chegar aos 50kg – Detalhe
da paisagem da imagem anterior.
A Seguir – Quase todas as fisionomias vegetacionais do Brasil
Central podem ser observadas no mosaico fitogeográfico pantaneiro, ocorrendo de
forma oportunista. Um babaçual – extenso adensamento de palmeiras-babaçu (Attalea
speciosa – Família Arecaceae = Palmae) foi observado, em meio ao
Pantanal do rio Negro.
Acima - Detalhe de palmeira-babaçu (Attalea speciosa – Família
Arecaceae = Palmae), na Fazenda São João, Pantanal Sul, MS.
A Seguir – Palmeirinha acaule Allagoptera leucocalyx formando
populações agrupadas, em meio ‘as lixeiras (Curatella americana –
Dilleniaceae)
Acima - Outro elemento florístico de grande importância e
representatividade de todo o Pantanal é a palmeira-acuri (Attalea phalerata –
Família Arecaceae = Palmae). Na Fazenda São João, forma populações adensadas,
juntamente com os Mandovis (Sterculia striata – Família
Malvaceae = Sterculiaceae), sombreando maciças colônias de Bromelia cf. balansae
– Família Bromeliaceae). É a vegetação característica das cordilheiras
pantaneiras da Nhecolândia
Acima - Nas bainhas das palmeiras-acuri (Attalea phalerata),
medram orquídeas conspícuas da flora do Brasil Central, tais como Vanilla
palmarum
Acima – O famoso “abraço da morte”, em que uma figueira-mata-pau (Ficus
sp. – Moraceae) estrangula gradualmente uma dessas palmeiras-acuri, formando
quadro paradoxalmente sensual e belo
A Seguir – Os
jacarés-do-pantanal (Caiman crocodilus
yacare) já foram levados ao limiar da extinção, na Década de 1980. Mas suas
populações retornaram a níveis muito satisfatórios, depois de anos de proteção.
No rio Negro, Pantanal Sul, podem ser facilmente observados.
Acima – O jacaré-do-pantanal (Caiman
crocodilus yacare) cuida com muita atenção de sua prole, podendo ser
observado nesta função, nas margens do rio Negro, Pantanal Sul.
Acima – Gavião-caboclo
(Heterospizias meridionalis)
Acima – Orlando Graeff pousa para uma foto, em 2007, ao lado de Artur Monteiro, da Pousada dos
Monteiros, na margem de um dos tributários do rio Negro, no Pantanal Sul.
Acima – Maurício Verboonen e Artur Monteiro
Acima – Orlando Graeff e Sérgio
Basso, num momento de descontração, em outubro de 2009, na borda do capão
dos mandovis, na Fazenda São João, na qual está situada a Pousada dos
Monteiros, MS.
Acima – Lianas da família Bignoniaceae são um dos mais belos e
interessantes capítulos da flora da região e bem mereceriam estudo detalhado
Abaixo – O lendário pôr do sol pantaneiro, um dos mais belos do
país