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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

VISITA AO ALTIPLANO DA SERRA DA MARIA COMPRIDA – PETRÓPOLIS – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2018



Tillandsia reclinata - Bromeliaceae

Em junho de 2018, subimos até o altiplano da Serra da Maria Comprida, em Petrópolis, estado do Rio de Janeiro. Nosso pequeno grupo de excursionistas era formado pelo jovem Nathan Gazineu (ver link - Nathan e as Orquídeas https://orlandograeff.blogspot.com/2011/01/nathan-e-as-orquideas.html ); por nosso responsável de manutenção do Jardim Fitogeográfico Ezequiel Botelho; e por mim – Orlando Graeff. Nosso principal objetivo era examinar o habitat de uma pequena bromélia de ocorrência extremamente restrita, que vem sendo perigosamente ameaçada pela coleta criminosa – Tillandsia reclinata, planta de natureza litofítica, que somente ocorre num diminuto pedaço de rocha e em mais nenhum outro lugar do planeta.

Há muito temos nos ocupado em estudar algumas raras espécies de plantas exclusivas do sistema Serra dos Órgãos, ao qual se encontra geologicamente vinculada a Serra da Maria Comprida. Além de tentar explicar esse misterioso padrão de dispersão endêmica, nossa constante preocupação vem sendo investigar a pesada pressão de coleta criminosa, que tem se abatido sobre essas espécies. Mesmo tendo diminuído sobremaneira o interesse por plantas vindas da natureza, por parte dos colecionadores e amantes de plantas, o que se deveu principalmente ao notável desenvolvimento de estoques comerciais, advindos de cultivo, alguns setores não mostram sinais de exaustão, em sua cobiça por plantinhas como essas. Move-lhes, sabemos bem, uma vergonhosa vaidade que lhes impede descansar, até que possam dizer aos seus pares que “são alguns dos poucos a possuir determinada planta raríssima”.

Veja sobre isso nossa postagem anterior, que trata desse problema do tráfico de plantas (Link - E se todos fizessem isso? https://orlandograeff.blogspot.com/2013/01/e-se-todos-fizessem-isso-coleta-ou.html )

A coleta de plantas na natureza, com finalidades comerciais, é crime previsto na Lei do Crime Ambiental e pode ocasionar a prisão dos envolvidos. Mesmo assim, mateiros e aventureiros formam hoje uma rede complexa de coletores e traficantes, que assaltam os habitats, em busca de ESTOQUES de raridades, que lhes rendem polpudas quantias, quando remetidas aos referidos colecionadores inescrupulosos. Esse moto nocivo já determinou horrendos prejuízos à vida silvestre, em várias partes do mundo, sendo caso notório o dos rinocerontes africanos, abatidos apenas para a extração da ponta do chifre; assim como dos ainda mais conhecidos elefantes, por conta de seu marfim.

A excursão foi extremamente proveitosa, por nos permitir observar diversos ambientes e espécies que, um dia, foram contempladas pelos decisivos estudos do naturalista Gustavo Martinelli, que desvendaram a botânica e a ecologia dos campos de altitude da região. Do exame das atuais condições daquele altiplano, restou claro o alarmante estado de penúria a que se encontra submetida a pequena Tillandsia reclinata, havendo sinais claros de recente coleta comercial e estando seu remanescente cada dia mais exaurido. Também observamos que os resultados do contínuo pastoreio dos campos de altitude e afloramentos rochosos, por parte de cavalos, assim como o fogo, que continua se alastrando ciclicamente, já colocam todo o ecossistema em risco gravíssimo.

A beleza marcante das paisagens divisadas daqueles campos, assim como sua ainda interessante riqueza florística, em muito recomendariam a implantação de um parque natural, através de uma trilha contemplativa, que seria a única esperança de conservação para seu tesouro de biodiversidade. Não há mais como acreditar que o mero abandono da área possa desestimular invasões furtivas e depredações, apenas confiando na dificuldade de acesso. Somente o manejo ecoturístico e a facilitação da vigilância e combate ao fogo poderão trazer esperanças de salvação ao patrimônio natural local.

Veja, através das imagens apresentadas, um pouco sobre o altiplano da Serra da Maria Comprida:


Acima – A Serra da Maria Comprida é geologicamente vinculada à Serra dos Órgãos, muito embora possua individualidade geomorfológica, representando universo ecológico próprio, com pontões graníticos e gnáissicos fragmentados. Escorrimento milenar de água produziu “riscados” típicos e os paredões abrigam flora única


A Seguir – A vegetação do altiplano é um mosaico de afloramentos rochosos e campos de altitude, mesclando assim floras complementares, originadas em paleocampos frios e evoluídas em ambientes rochosos secos e ensolarados


Acima – Não é difícil perceber-se o dano gradualmente imposto à vegetação e à flora pela ocorrência recidiva do fogo criminoso. As manchas de campos recuam e a composição da flora se empobrece, em favor de gramíneas exóticas e de algumas poucas espécies nativas mais tolerantes aos incêndios cíclicos


Acima – Nesta imagem, percebe-se exemplares isolados de rabo-de-galo (Worsleya procera – família Amaryllidaceae) resistindo ao avanço da degradação. Ao fundo, o restante do maciço da Maria Comprida, com a Serra dos Órgãos ao fundo e os Três Picos ao longe


Acima – Embora já bastante pressionados pelo fogo, pela coleta criminosa e pelo pastoreio, persistem populações de rabos-de-galo, que preferem a beirada das cristas rochosas, onde recebem farta iluminação solar


Acima – Meus dois companheiros de aventura, na Serra da Maria Comprida: Ezequiel Botelho e Nathan Gazineu




Acima – Notáveis populações de bromélias e plantas adaptadas ao ambiente extremo dividem espaço no altiplano da Serra da Maria Comprida. Destaque para belas formas de Vriesea pseudoatra, com folhas vináceas, que contrastam com o restante da vegetação



AcimaPerspectiva assustadora: em primeiro plano, o rabo-de-galo em flores; ao fundo, na borda do campo e debruçado sobre o vale, um exemplar de pinheiro-americano invasor. Essas coníferas exóticas da aliança de Pinus elliottii são extremamente prolíficas e adaptadas ao ambiente de solos rasos, pobres e sob climas frios, o que lhes capacita perigosamente a tomar por completo em futuro médio, a paisagem das cumeadas

Adiante – Flora singular ainda resiste nos campos de altitude e afloramentos rochosos da Serra da Maria Comprida


Acima – Philodendron edmundoi (família Araceae)


Acima – Zygopetalum maculatum (família Orchidaceae)


Nas três fotos a seguir – A bela Prepusa connata, da família Gentianaceae, um elemento florístico de índole originalmente alpina





Acima – Ilha de vegetação rupestre, congregando dois tipos diferentes de bromélias: a imensa e escultural Alcantarea imperialis; e sua parente muito menor Neoregelia longipedicellata, planta muito restrita e rara


Acima – A célebre Amaryllidaceae Worsleya procera, conhecida como rabo-de-galo, planta exaustivamente perseguida pelos traficantes de plantas
Abaixo – Orlando Graeff (autor do blog) entre rabos-de-galo, no alto da Serra da Maria Comprida




Acima – Como resistir ao encanto de Worsleya procera? Nathan se debruça sobre a bela planta
Abaixo – Fotografando as flores do rabo-de-galo




Acima – Quanta honra! Examinando o único exemplar conhecido do bambuzinho primitivo Glaziophyton mirabile (família Poaceae)

Adiante – Consegue ver aquelas minúsculas plantinhas, encarapitadas sobre alguns poucos metros quadrados de rocha nua? São tudo o que a natureza ainda guarda da raríssima bromélia Tillandsia reclinata. É ou não é razão bastante para preocupação, em face da coleta criminosa que sobre ela se abate?


Abaixo – Poucos exemplares resilientes de Tillandsia reclinata buscam proteção sobre a rocha, penduradas acima de centenas de metros de paredões rochosos. O engenho maligno dos coletores furtivos, contudo, não as perdoará, em nome da cobiça nojenta de colecionadores, que pagarão altos preços por algumas plantinhas