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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

sábado, 13 de outubro de 2012

PARQUE ESTADUAL DO ESPINILHO – BARRA DO QUARAÍ – RIO GRANDE DO SUL


               Um dos objetivos da segunda fase da Expedição Fitogeográfica 2012 era conhecer a vegetação de espinilho, ou parque de espinilho, como alguns preferem chamar. Uma savana é como são vistos por muitos fitogeógrafos, que tentam equipará-la a outras vegetações de natureza savânica ou aberta do país: Cerrado, Caatinga e até mesmo algumas florestas abertas da Amazônia. Quem acompanha meu trabalho já deve imaginar minha imensa resistência a essas generalizações, que banalizam processos tão complexos e singulares como os que originam nossas diversificadas paisagens botânicas. Assim, desde que saíra do Rio de Janeiro, ansiava por conhecer a região dos espinilhos, por considerá-la enigma digno de mais detida observação.

               Retornando da extensa volta que empreendêramos, entre Uruguay e Argentina, começamos e notar fácies relacionadas ao espinilho desde que atravessamos o estuário do rio da Prata, passando a vê-las com mais nitidez depois de deixarmos o solo argentino, onde visitáramos o Parque Nacional El Palmar (ver postagem anterior), adentrando novamente o Uruguay, em Salto, na margem do rio Uruguay. Olhando atentamente a imensa Pampa Uruguaia, que se interconecta com a brasileira, no sul do Rio Grande do Sul, já nos era possível notar vestígios do complexo mosaico de tipologias vegetacionais que um dia deve ter coberto toda a Pampa. Em meio a isso tudo, lá estavam os espinilhos, que são a vegetação típica da fusão Chaco-Pampa.

               Ainda que seja demasiado prematura qualquer interpretação avançada, o que se pode dizer do espinilho é o seguinte: Trata-se de um denso agrupamento de árvores adaptadas aos solos permanentemente saturados de umidade, sob climas fortemente temperados; Por vezes mais fechado, por vezes com índole savânica (árvores pouco distantes umas das outras, sobre relvados contínuos), agrupa principalmente árvores tortuosas e espinhentas, predominando três espécies de fabáceas (leguminosas) argentinas – Prosopis affinis, P. nigra e Vachellia caven (=Acacia caven). O quebracho-blanco (Aspidosperma quebracho-blanco – família Apocynaceae) também já ocorreu, de forma mais numerosa, no passado. Hoje, devido à intensa exploração madeireira, restam exemplares jovens ou isolados aqui e ali.

               A principal reserva de vegetação de espinilho, em nosso território, encontra-se no Parque Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí, no sudoeste gaúcho, onde passei, no dia 05 de outubro. Em face da brevidade de minha visita e das dificuldades usuais de manejo das unidades de conservação brasileiras, somente poderei agradecer a boa vontade dos responsáveis pelo Parque, que me esclareceram muito sobre essa área distante de nosso país.


Acima – As flores da corticeira (Erythrina crista-galli – família Fabaceae), que ainda se encontravam atrasadas, na região do Prata, já mostravam sua beleza, nas terras de primavera quente do Parque do Espinilho.

Abaixo – Ainda em solo uruguaio, já era possível observar uma das principais razões para o surgimento das extensas vegetações campestres da Pampa: Solos rasos sobre embasamento rochoso contínuo – principalmente basaltos – como se pode ver próximo a Salto, na margem esquerda do rio Uruguay. O homem provê o restante.



A Seguir – Aspectos do que restou da vegetação de espinilho, em terras uruguaias, onde pastam hoje os melhores gados ovinos e bovinos em que se poderia por os olhos.




Adiante – Imagens da vegetação do Parque Estadual do Espinilho, que é dominada por árvores enfezadas das espécies Prosopis affinis, P. nigra e Vachellia caven (todas da família Fabaceae). Numa das fotos, observa-se o afloramento parcial do lençol freático extremamente superficial da planura local.








Abaixo - A presença marcante de cactáceas como Cereus hildmanianus (=C. peruvianus), com seu aspecto colunar, emergindo sobre as arvoretas de aspecto árido, já suscitou teorias de ligações com a Caatinga, em tempos recentes (Quaternário – últimos dois milhões de anos). Essa possível proximidade é muito mais antiga e remontaria ao Terciário.



Abaixo – O quebracho-blanco (Aspidosperma quebracho-blanco – família Apocynaceae) já foi uma das “perobas” da Argentina. Hoje, encontra-se quase desaparecido, mas alguns exemplares podem ser vistos na região dos espinilhos.



Adiante – Estranhas preciosidades botânicas da flora epifítica dos espinilhos: Os cactos trepadores (Rhipsalis cf. lumbricoides) e as bromélias atmosféricas do gênero Tillandsia.




8 comentários:

  1. Li todo o seu texto e achei muito bom, como também observei as belas fotos do Espinilho, árvore que achei de beleza ímpar, por sua estrutura tortuosa. Vi que o Espinilho está presente em terras encharcadas, mas gostaria de saber se ele sobrevive ao clima semi-árido nordestino. Moro em Mossoró, no Rio Grande do Norte, e me interessei em ter alguns exemplares dessa árvore. Se tiver alguma informação a respeito, ficarei muito grato. Eu cultivo bonsai e achei que o Espinilho tem ótimo potencial. Qualquer informação a respeito pode ser enviada para o meu e-mail: manoelgaldi@bol.com.br

    Muito grato desde já.

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  2. Galdino, com certeza essas árvores se darão bem em seu ambiente nordestino, talvez dependendo de algum controle agronômico: O vento, por exemplo, apresenta propriedades bem diferentes, naquela região da Pampa. Certamente, você encontrará mudas dessas plantas à venda, em São Paulo. Sugiro contatar o Instituto Plantarum. Mas, como compreendo que os amantes de bonsai miram em velhos exemplares existentes nos habitats, não posso deixar de lembrar que o Parque Estadual do Espinilho é uma unidade de conservação e suas plantas são protegidas. Uma boa viagem à região certamente contribuirá para seu conhecimento sobre os espinilhos. Logo ali, no Uruguay, essas plantas ainda abundam, sendo até consideradas "pragas" por alguns fazendeiros.

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  3. Obrigado por ter respondido. Talvez uma visita ao Parque Estadual do Espinilho seja uma boa opção para conhecer de perto essa espécie que tanto me chamou a atenção. Mas se o fizer será uma visita apenas de pesquisa, pois pretendo obter sementes de Espinilho para fazer germinar por aqui. Estou à procura de alguém do Rio Grande do Sul que possa me enviar algumas sementes, já que, pelas informações que busquei, as sementes dessa plantas estão boas de coletar entre janeiro e março. Portanto, já estamos dentro desse período. Espero ter sorte e conseguir um filho de Deus que me envie essas sementes, pois já procurei na internet quem venda e não encontrei.
    Até a próxima.

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  4. Se ainda houver interesse, posso enviar sementes do espinilho quando for época, moro na região do Parque do Espinilho.

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    Respostas
    1. Com certeza tenho interesse nas sementes do Espinilho. Ficarei muito grato se puder fazer o envio. É só avisar o custo para envio que faço a transferência para a conta indicada por você.
      Contatos podem ser feitos pelos e-mail:
      galdino1414@gmail.com ou manoelgaldi@bol.com.br
      O meu endereço:
      Rua Santa Brígida, 2446 - Conj. Santa Delmira
      Mossoró-RN - CEP 59.614-740

      Muito grato pelo contato,

      Galdino

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  5. Esqueci de colocar o nome completo?
    Manoel Galdino de Assis Sobrinho

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  6. Moro em Uruguaiana e meu irmão tem um terreno ,e tem espinilhos dentro da cidade,são lindos.

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