Um dos objetivos da segunda fase da Expedição
Fitogeográfica 2012 era conhecer a vegetação de espinilho, ou parque
de espinilho, como alguns preferem chamar. Uma savana é como são vistos por
muitos fitogeógrafos, que tentam equipará-la a outras vegetações de natureza
savânica ou aberta do país: Cerrado, Caatinga e até mesmo algumas florestas
abertas da Amazônia. Quem acompanha meu trabalho já deve imaginar minha imensa
resistência a essas generalizações, que banalizam processos tão complexos e
singulares como os que originam nossas diversificadas paisagens botânicas.
Assim, desde que saíra do Rio de Janeiro, ansiava por conhecer a região dos
espinilhos, por considerá-la enigma digno de mais detida observação.
Retornando da extensa volta que empreendêramos,
entre Uruguay e Argentina, começamos e notar fácies relacionadas ao espinilho
desde que atravessamos o estuário do rio da Prata, passando a vê-las com mais
nitidez depois de deixarmos o solo argentino, onde visitáramos o Parque
Nacional El Palmar (ver postagem anterior), adentrando novamente o Uruguay, em
Salto, na margem do rio Uruguay. Olhando atentamente a imensa Pampa Uruguaia,
que se interconecta com a brasileira, no sul do Rio Grande do Sul, já nos era
possível notar vestígios do complexo mosaico de tipologias vegetacionais que um
dia deve ter coberto toda a Pampa. Em meio a isso tudo, lá estavam os
espinilhos, que são a vegetação típica da fusão Chaco-Pampa.
Ainda que seja demasiado prematura qualquer
interpretação avançada, o que se pode dizer do espinilho é o seguinte: Trata-se
de um denso agrupamento de árvores adaptadas aos solos permanentemente
saturados de umidade, sob climas fortemente temperados; Por vezes mais fechado,
por vezes com índole savânica (árvores pouco distantes umas das outras, sobre
relvados contínuos), agrupa principalmente árvores tortuosas e espinhentas,
predominando três espécies de fabáceas (leguminosas) argentinas – Prosopis
affinis, P. nigra e Vachellia caven (=Acacia caven). O quebracho-blanco (Aspidosperma
quebracho-blanco – família Apocynaceae) também já ocorreu, de forma
mais numerosa, no passado. Hoje, devido à intensa exploração madeireira, restam
exemplares jovens ou isolados aqui e ali.
A principal reserva de vegetação de
espinilho, em nosso território, encontra-se no Parque Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí, no
sudoeste gaúcho, onde passei, no dia 05 de outubro. Em face da brevidade de
minha visita e das dificuldades usuais de manejo das unidades de conservação
brasileiras, somente poderei agradecer a boa vontade dos responsáveis pelo
Parque, que me esclareceram muito sobre essa área distante de nosso país.
Acima – As flores da
corticeira (Erythrina crista-galli – família Fabaceae), que ainda se
encontravam atrasadas, na região do Prata, já mostravam sua beleza, nas terras
de primavera quente do Parque do Espinilho.
Abaixo – Ainda em solo
uruguaio, já era possível observar uma das principais razões para o surgimento
das extensas vegetações campestres da Pampa: Solos rasos sobre embasamento
rochoso contínuo – principalmente basaltos – como se pode ver próximo a Salto,
na margem esquerda do rio Uruguay. O homem provê o restante.
A Seguir – Aspectos do que
restou da vegetação de espinilho, em terras uruguaias, onde pastam hoje os
melhores gados ovinos e bovinos em que se poderia por os olhos.
Adiante – Imagens da
vegetação do Parque Estadual do Espinilho, que é dominada por árvores enfezadas
das espécies Prosopis affinis, P. nigra e Vachellia caven (todas da
família Fabaceae). Numa das fotos, observa-se o afloramento parcial do lençol
freático extremamente superficial da planura local.
Abaixo - A presença
marcante de cactáceas como Cereus hildmanianus (=C. peruvianus), com seu aspecto colunar,
emergindo sobre as arvoretas de aspecto árido, já suscitou teorias de ligações com
a Caatinga, em tempos recentes (Quaternário – últimos dois milhões de anos).
Essa possível proximidade é muito mais antiga e remontaria ao Terciário.
Abaixo – O quebracho-blanco
(Aspidosperma
quebracho-blanco – família Apocynaceae) já foi uma das “perobas” da
Argentina. Hoje, encontra-se quase desaparecido, mas alguns exemplares podem
ser vistos na região dos espinilhos.
Adiante – Estranhas preciosidades
botânicas da flora epifítica dos espinilhos: Os cactos trepadores (Rhipsalis
cf. lumbricoides)
e as bromélias atmosféricas do gênero Tillandsia.
Li todo o seu texto e achei muito bom, como também observei as belas fotos do Espinilho, árvore que achei de beleza ímpar, por sua estrutura tortuosa. Vi que o Espinilho está presente em terras encharcadas, mas gostaria de saber se ele sobrevive ao clima semi-árido nordestino. Moro em Mossoró, no Rio Grande do Norte, e me interessei em ter alguns exemplares dessa árvore. Se tiver alguma informação a respeito, ficarei muito grato. Eu cultivo bonsai e achei que o Espinilho tem ótimo potencial. Qualquer informação a respeito pode ser enviada para o meu e-mail: manoelgaldi@bol.com.br
ResponderExcluirMuito grato desde já.
Galdino, com certeza essas árvores se darão bem em seu ambiente nordestino, talvez dependendo de algum controle agronômico: O vento, por exemplo, apresenta propriedades bem diferentes, naquela região da Pampa. Certamente, você encontrará mudas dessas plantas à venda, em São Paulo. Sugiro contatar o Instituto Plantarum. Mas, como compreendo que os amantes de bonsai miram em velhos exemplares existentes nos habitats, não posso deixar de lembrar que o Parque Estadual do Espinilho é uma unidade de conservação e suas plantas são protegidas. Uma boa viagem à região certamente contribuirá para seu conhecimento sobre os espinilhos. Logo ali, no Uruguay, essas plantas ainda abundam, sendo até consideradas "pragas" por alguns fazendeiros.
ResponderExcluirObrigado por ter respondido. Talvez uma visita ao Parque Estadual do Espinilho seja uma boa opção para conhecer de perto essa espécie que tanto me chamou a atenção. Mas se o fizer será uma visita apenas de pesquisa, pois pretendo obter sementes de Espinilho para fazer germinar por aqui. Estou à procura de alguém do Rio Grande do Sul que possa me enviar algumas sementes, já que, pelas informações que busquei, as sementes dessa plantas estão boas de coletar entre janeiro e março. Portanto, já estamos dentro desse período. Espero ter sorte e conseguir um filho de Deus que me envie essas sementes, pois já procurei na internet quem venda e não encontrei.
ResponderExcluirAté a próxima.
Se ainda houver interesse, posso enviar sementes do espinilho quando for época, moro na região do Parque do Espinilho.
ResponderExcluirCom certeza tenho interesse nas sementes do Espinilho. Ficarei muito grato se puder fazer o envio. É só avisar o custo para envio que faço a transferência para a conta indicada por você.
ExcluirContatos podem ser feitos pelos e-mail:
galdino1414@gmail.com ou manoelgaldi@bol.com.br
O meu endereço:
Rua Santa Brígida, 2446 - Conj. Santa Delmira
Mossoró-RN - CEP 59.614-740
Muito grato pelo contato,
Galdino
Esqueci de colocar o nome completo?
ResponderExcluirManoel Galdino de Assis Sobrinho
Moro em Uruguaiana e meu irmão tem um terreno ,e tem espinilhos dentro da cidade,são lindos.
ResponderExcluirÓtimo blog!
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