Nada como as intermináveis estradas de nosso imenso país e
algumas de nossos vizinhos, para se ter boa noção das vegetações que se
espalham, das mais diversas formas. Não que sejam cômodas de se percorrer,
ainda que as rodovias uruguaias sejam irrepreensíveis e as gaúchas até estejam
em razoável estado. De forma geral, após centenas de milhares (mais de milhões,
em minha vida) de quilômetros atrás da direção de automóveis, Brasil afora,
posso afirmar que são algumas das piores estradas do Mundo. Mas, não se pode
negar: Ainda representam a melhor maneira de se conhecer a geografia de
qualquer lugar.
Pois foi por essas longas estradas que, saindo do Uruguay,
depois de ter atravessado aquele país e uma grande extensão da Argentina,
cheguei ao Rio Grande do Sul, ainda no dia 05 de outubro, quando visitei o Parque Estadual do Espinilho, em Barra
do Quaraí (ver postagem anterior). No mesmo dia, atingimos Alegrete, a capital do tradicionalismo regional, bem no cerne da
região dos campos sulinos, que eram razão principal de minha passagem pelo
estado. O tempo andara bem claro e até fazia algum calor, em Barra do Quaraí,
após o frio intenso e contínuo, que nos acompanhara, até então, nesta segunda
fase da Expedição Fitogeográfica 2012.
Mas, prometia-se chuva forte, para o dia seguinte.
As previsões se confirmaram e, na manhã do dia 06, já
despencava violento aguaceiro, acompanhado de raios e trovões, que puseram a
região da Fronteira em estado de emergência e atrapalharam muito as atividades
previstas. Porém, não foi de todo perdida a oportunidade, por duas importantes
razões: 1) Longa entrevista com o Sr.
Nei Galvão, estancieiro de longa experiência do Alegrete, me brindou com
excelente material de informação sobre a história dos campos da região do
Ibirapuitã; sua evolução nos últimos cem anos, pelo menos; e as transformações
por que tem passado sua vegetação nativa, desde então; 2) A percepção do papel climático na origem e
manutenção de grande parte da vegetação pampeana, em vista de tê-la percorrido
em meio a fortes precipitações e ventos intensos.
Não poderei fazer acompanhar esta postagem com as belas
imagens que costumam ser captadas, nos locais visitados. Isso ocorre não pela
sua disponibilidade, uma vez que a Pampa Meridional congrega algumas das mais deslumbrantes
paisagens campestres do país. Porém, o tempo chuvoso, que frustrou as tão
esperadas caminhadas, impediu trabalho fotográfico botânico de maior conteúdo.
Seguem algumas imagens representativas, com os seus comentários:
A Seguir: No dia 05 de outubro, ainda com tempo claro, foi possível
tomar algumas imagens gerais da Pampa Gaúcha, na região entre Uruguaiana e
Alegrete. Uma coisa ficou bastante evidente: Essas pradarias já formaram
complexo mosaico de paisagens botânicas, no passado. Ficou claro o papel
transformador do homem e de seu gado, desde tempos imemoriais.
Estradas são importantes
transectos de observação das vegetações do país: Especialmente no Rio Grande do
Sul, onde a necessidade de cercas para o gado fez cessar o pastoreio, nas
faixas de domínio, é possível notar a gradual sucessão, na direção de
vegetações mais densas do que os campos ditos nativos.
Cerca adentro – As pradarias que fizeram a fama da Pampa Gaúcha; Fora dos aramados, na borda das estradas, mostra-se a verdadeira natureza das vegetações que ali existiram num passado remoto.
Estradas cortam o
solo, para serem implantadas, exibindo sua verdadeira natureza: Rochas
derivadas da Formação Serra Geral (principalmente basaltos) se estendem por
vasta superfície de áreas quase planas. No passado, esses solos litólicos
abrigavam os mais genuínos campos nativos, sendo circundados por formações
arbustivas e arborescentes – hoje completamente desaparecidas.
Abaixo – Próximo à calha do rio Ibicuí, entre Alegrete e São
Francisco de Assis, intrigantes processos de arenização tomam corpo, ano após
ano, sendo confundidos por muitos com suposta desertificação, que não existe
ali. A conjunção de processos naturais de evolução das formas do relevo, sobre
embasamentos de arenito, e das influências humanas, geram imensas movimentações
de areia, que os ventos fortes da Pampa transportam com facilidade.
A presença de
espécies relacionadas a períodos áridos, tanto no interior dos areais quanto
por sobre afloramentos de arenito, passam a impressão de que esses ambientes já
perduram há muito, no interior da Pampa – Notar os cactos colunares Cereus
hildmanianus, os mesmos que avistáramos no Parque do Espinilho,
vegetando sobre os afloramentos de arenito de São Francisco de Assis, onde se
originam arenizações recentes.
Abaixo – Imensas voçorocas evoluem sobre os campos, onde a pressão
de pastoreio é mais intensa. Esta imagem foi obtida imediatamente abaixo
daquela da foto anterior.
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