Entre os dias 12 e 16 de junho de 2013, estivemos no norte
do estado do Mato Grosso, para uma
viagem que misturava a pesquisa do estágio de desenvolvimento da região com a
observação de suas florestas de transição, o que era muito importante para meu
trabalho. A região havia sido detalhadamente investigada por nós, em 1998,
durante uma expedição, que nos levara a Alta
Floresta e ao Salto Augusto, no
rio Juruena, próximo à divisa com o Amazonas. Porém, daquela feita, o foco das
observações fora realizado numa escala diferente da que ora realizo. Além
disso, o material fotográfico então produzido (slides) era incompatível com o
projeto gráfico do livro de Fitogeografia que venho preparando, o que me
obrigava a realizar novas imagens, enquanto apurava as informações, na escala
apropriada à obra.
Acompanharam-me, nesta missão, os amigos Sérgio Burle Marx Smith e Claudino Marin, tendo o segundo
mobilizado sua rede de relações pessoais e muito especialmente sua família, que
reside e trabalha na região, de forma a facilitar nosso trabalho. Nossa viagem
se concentrou na zona de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica,
cinturão geográfico que tem sofrido intensa alteração, desde os anos de 1980,
dificultando sobremaneira a interpretação de suas vegetações originais. Já
estivéramos também na região de Nobres,
no início deste ano (ver - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2013_01_01_archive.html ),
examinando as florestas sobre rochas calcárias, que diferem bastante dessas que
ora visitávamos, sendo relacionáveis mais às seasonally dry tropical forests (SDTF) do Centro-Oeste e Brasil
Central.
Separam-se pela linha de cumeada da Chapada do Parecis, que
recobre as bordas do Arco de São Vicente. A Chapada do Parecis se inclina muito
suavemente, desde cerca de 700m (neste setor), até próximo de 200m, na calha
amazônica, centenas de quilômetros ao norte. Essa pendente condicionou o
surgimento de extensas áreas agricultáveis, que foram tomadas pelo
desenvolvimento, nos últimos trinta anos, ocasionando o incrível contraste
observado na região: Extensas lavouras de soja e milho, acompanhadas de
florescentes polos agroindustriais – Admiráveis reservas de florestas densas,
nas quais ainda se veem árvores altaneiras, em sua maior parte relacionadas à
flora amazônica.
A seguir, as imagens selecionadas para ilustrar esta
postagem do blog da Expedição
Fitogeográfica:
Acima – A Floresta Amazônica atinge seu apogeu fisionômico
aproximadamente na latitude de Sinop, que é a maior cidade do norte de Mato
Grosso. A castanheira (Bertholletia excelsa) é seu elemento
mais notável, revelando o expressivo domínio das árvores da família
Lecythidaceae
A Seguir: A faixa de transição entre o Cerrado e a Floresta
Amazônica exibe seu aspecto mais marcante entre Lucas do Rio Verde e Sorriso,
mais ao norte. Outrora, a região foi mosaico complexo de cerrados, florestas
estacionais semideciduais e fragmentos da própria mata amazônica de terra
firme. Confira alguns aspectos:
Acima – o guarantã do
Mato Grosso é a Aspidosperma carapanauba (família Apocynaceae), com seu tronco
característico. Há uma cidade, no norte do estado, que leva seu nome, em face
de sua abundância
Acima – As palmeiras
se tornam progressivamente abundantes, na medida em que se viaja para o norte e
as chuvas aumentam dos 1.600-2.000mm do Cerrado para mais de 3.000-4.000mm da
Amazônia
Acima – Numa ponte
sobre o rio Celeste, próximo a Sorriso, define-se a fronteira oficial entre os
domínios do Cerrado e da Floresta Amazônica. Na verdade, nada é assim tão
claro, não se tratando de divisão política, mas sim ecológica
Acima – Iraci Felipetto (direita) que guiou Orlando Graeff, nas florestas de Sorriso, junto ao autor
Acima – O cipó-de-são-joão
(Pirostegia
venusta – família Bignoniaceae) é um elemento característico do
Cerrado, que se apresentava em flores, na ocasião da visita a Lucas do Rio
Verde e Sorriso, na faixa de transição
Acima – As lianas ou
cipós são elementos importantes na floresta de terra firme da Amazônia. Em
determinadas áreas, nada mais poderá ser observado, dentre as gigantes da mata
alta, que não sejam árvores jovens e lianas, quase inexistindo sub-bosque
Adiante – Alguns gigantes
da floresta, na faixa de transição entre o Cerrado e a Amazônia, no norte de
Mato Grosso
Acima – Orlando Graeff
posa sob um dos magníficos exemplares da floresta de Lucas do Rio Verde
Abaixo – Pedro Marin exibe o resultado do fácil
cultivo de peixes brasileiros, num açude de sua propriedade, em Lucas do Rio
Verde: A matrinchã
Adiante: O vale do
rio Teles Pires, na região de Sinop, abriga magníficas florestas de
castanheiras, angelins (Dinizia excelsa – família Fabaceae)
e cedrinhos (Erisma uncinatum – família Vochysiaceae), entre tantas outras
espécies de grande interesse econômico