Ainda no dia 08 de dezembro de 2015, após
descermos a fantástica Serra da Graciosa, no Paraná (ver postagem anterior),
ganhamos a relativamente longa estrada que liga Morretes a Guaraqueçaba, no
fundo do conjunto de baías e estuários do litoral daquele estado. Bem, digo “relativamente
longa”, pois o trecho conta com pouco mais de 100km, coisa que poderia ser
vencida em no máximo uma hora e meia, se percorrêssemos rodovias pavimentadas
ou, ao menos, estradinhas de terra bem conservadas. O trecho Morretes –
Guaraqueçaba nos tomou algo em torno de QUATRO HORAS!
Expliquemos: realmente, o estado de
conservação da rodovia é péssimo, repleto de buracos, pedras soltas e incrustadas
perigosamente no barro, além de atravessar algumas serranias menores, mas difíceis
de passar. Mas, a despeito disso tudo, havia outra considerável razão, que
poderia tomar do naturalista, ao menos, uns dois quintos deste tempo:
FLORESTAS! Muitas florestas litorâneas, algumas das mais bem conservadas que eu
já avistara, em todas as minhas andanças pelo país.
Durante muito tempo,
viajamos sob um túnel escuro de matas densas, tomadas de epífitas e cipós, nos
quais as surpresas botânicas se alternavam e as fitofisionomias nos deixavam
tontos, de tão variadas.
Não havia metro desta linda estrada que não
confirmasse os postulados de nosso livro, recém-lançado pela NAU Editora – FITOGEOGRAFIA DO
BRASIL, UMA ATUALIZAÇÃO DE BASES E CONCEITOS – no que se refere às
florestas tropicais atlânticas de baixadas litorâneas. Ainda teríamos tempo de,
nos dias que se seguiram, investigar melhor essas matas, especialmente as duas
tipologias correlacionadas, tratadas exaustivamente no livro: florestas de baixada litorânea e florestas inundáveis do litoral, que se
intergradam continuamente, dependendo dos solos que as suportam.
Vejam um pouco daquilo que nos brindou
Guaraqueçaba, no litoral do Paraná:
Acima - Guaraqueçaba se esconde ao fundo do conjunto de baías ligadas a Paranaguá, no Paraná, aos pés da altaneira Serra do Mar, que lhe emoldura a paisagem, de qualquer ponto em que ela seja admirada.
Abaixo - Mas, para se chegar a esta pequena cidade, uma das mais antigas do Paraná, o viajante terá que gastar algumas BOAS, muito boas horas, numa estrada mal conservada, mas repleta de florestas primitivas
Como entrelinhas de uma longa história de colonização, ainda podem ser avistados fragmentos de florestas inundáveis do litoral, que ainda sustentam variada flora epifítica, em meio a pastagens de búfalos, que se adaptaram muito bem ao solo lamacento - Acima.
Mas, a boa surpresa é que essa história natural complexa, que une longas transgressões marinhas e gigantescos processos erosivos Quaternários, pode ser esplendidamente investigada, um grande parte do litoral de Guaraqueçaba, como se perceberá nas imagens a seguir
Uma série de troncos eretos, completamente envolvidos por lianas e plantas trepadeiras, além de farta quantidade de bromélias e orquídeas, caracteriza essas florestas que vegetam sobre verdadeiros arquipélagos de lama e sedimentos, fora da zona de influência direta das marés. Veja a seguir como alguns canais delgados de águas cristalinas drenam esses "pântanos" florestados.
Acima - Em determinados locais, podem ser notadas similaridades com vegetações amazônicas, como a campinarana, sendo possível ver a água límpida, mas com a típica coloração amarronzada, em função dos ácidos húmicos que percolam da floresta densa.
Um dos aspectos fascinantes das florestas inundáveis do litoral é sua abundância de orquídeas e bromélias. Esta espécie de orquídea - Rodriguezia cf. venusta - abundava em flores, por ocasião de nossas passagem por Guaraqueçaba
A Seguir - Logo acima da topossequência de vegetações de florestas tropicais pluviais de encosta de Guaraqueçaba, pode ser encontrada a floresta de baixada litorânea, que visitamos detalhadamente, na Reserva Particular do Patrimônio Natural do Salto Morato. Na imagem abaixo, um trecho desta floresta notável, onde se observa um exemplar da bromélia Aechmea pectinata, com as bainhas de suas folhas já tingidas de vermelho, o que lhe caracteriza o início da fase reprodutiva.
Mas, isso ficará reservado para nossa próxima postagem.