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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

GUARAQUEÇABA – AS FLORESTAS DE BAIXADA LITORÂNEA

Ainda no dia 08 de dezembro de 2015, após descermos a fantástica Serra da Graciosa, no Paraná (ver postagem anterior), ganhamos a relativamente longa estrada que liga Morretes a Guaraqueçaba, no fundo do conjunto de baías e estuários do litoral daquele estado. Bem, digo “relativamente longa”, pois o trecho conta com pouco mais de 100km, coisa que poderia ser vencida em no máximo uma hora e meia, se percorrêssemos rodovias pavimentadas ou, ao menos, estradinhas de terra bem conservadas. O trecho Morretes – Guaraqueçaba nos tomou algo em torno de QUATRO HORAS!

Expliquemos: realmente, o estado de conservação da rodovia é péssimo, repleto de buracos, pedras soltas e incrustadas perigosamente no barro, além de atravessar algumas serranias menores, mas difíceis de passar. Mas, a despeito disso tudo, havia outra considerável razão, que poderia tomar do naturalista, ao menos, uns dois quintos deste tempo: FLORESTAS! Muitas florestas litorâneas, algumas das mais bem conservadas que eu já avistara, em todas as minhas andanças pelo país.

Durante muito tempo, viajamos sob um túnel escuro de matas densas, tomadas de epífitas e cipós, nos quais as surpresas botânicas se alternavam e as fitofisionomias nos deixavam tontos, de tão variadas.
Não havia metro desta linda estrada que não confirmasse os postulados de nosso livro, recém-lançado pela NAU Editora – FITOGEOGRAFIA DO BRASIL, UMA ATUALIZAÇÃO DE BASES E CONCEITOS – no que se refere às florestas tropicais atlânticas de baixadas litorâneas. Ainda teríamos tempo de, nos dias que se seguiram, investigar melhor essas matas, especialmente as duas tipologias correlacionadas, tratadas exaustivamente no livro: florestas de baixada litorânea e florestas inundáveis do litoral, que se intergradam continuamente, dependendo dos solos que as suportam.

Vejam um pouco daquilo que nos brindou Guaraqueçaba, no litoral do Paraná:




Acima - Guaraqueçaba se esconde ao fundo do conjunto de baías ligadas a Paranaguá, no Paraná, aos pés da altaneira Serra do Mar, que lhe emoldura a paisagem, de qualquer ponto em que ela seja admirada.
Abaixo - Mas, para se chegar a esta pequena cidade, uma das mais antigas do Paraná, o viajante terá que gastar algumas BOAS, muito boas horas, numa estrada mal conservada, mas repleta de florestas primitivas



Como entrelinhas de uma longa história de colonização, ainda podem ser avistados fragmentos de florestas inundáveis do litoral, que ainda sustentam variada flora epifítica, em meio a pastagens de búfalos, que se adaptaram muito bem ao solo lamacento - Acima.
Mas, a boa surpresa é que essa história natural complexa, que une longas transgressões marinhas e gigantescos processos erosivos Quaternários, pode ser esplendidamente investigada, um grande parte do litoral de Guaraqueçaba, como se perceberá nas imagens a seguir



Uma série de troncos eretos, completamente envolvidos por lianas e plantas trepadeiras, além de farta quantidade de bromélias e orquídeas, caracteriza essas florestas que vegetam sobre verdadeiros arquipélagos de lama e sedimentos, fora da zona de influência direta das marés. Veja a seguir como alguns canais delgados de águas cristalinas drenam esses "pântanos" florestados.



Acima - Em determinados locais, podem ser notadas similaridades com vegetações amazônicas, como a campinarana, sendo possível ver a água límpida, mas com a típica coloração amarronzada, em função dos ácidos húmicos que percolam da floresta densa.
Um dos aspectos fascinantes das florestas inundáveis do litoral é sua abundância de orquídeas e bromélias. Esta espécie de orquídea - Rodriguezia cf. venusta - abundava em flores, por ocasião de nossas passagem por Guaraqueçaba




A Seguir - Logo acima da topossequência de vegetações de florestas tropicais pluviais de encosta de Guaraqueçaba, pode ser encontrada a floresta de baixada litorânea, que visitamos detalhadamente, na Reserva Particular do Patrimônio Natural do Salto Morato. Na imagem abaixo, um trecho desta floresta notável, onde se observa um exemplar da bromélia Aechmea pectinata, com as bainhas de suas folhas já tingidas de vermelho, o que lhe caracteriza o início da fase reprodutiva.



Mas, isso ficará reservado para nossa próxima postagem. 

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

SERRA DA GRACIOSA – PARANÁ: TRINTA E TRÊS ANOS DEPOIS

Cerca de duzentos anos após Saint-Hilaire descer a Serra da Graciosa, no Paraná, ganhando o rumo do litoral, para onde seguiu viagem, vindo do interior do estado, lá estávamos nós, praticamente no mesmo rumo do naturalista. Em meu caso particular, algo próximo de trinta e três anos me separava de minha última visita, empreendida mais para buscar o surf, nas praias da região, do que para me debruçar sobre suas florestas e plantas. Assim, no dia 08 de dezembro de 2015, procedentes da capital Curitiba, aonde chegáramos, um dia antes, vindos de Paraty, que nos servira de base para explorar as matas de Picinguaba (ver postagem anterior), gastamos boa parte do dia observando a deslumbrante coleção de florestas, que se despenca desde o Planalto, até o litoral do Paraná, pela Serra da Graciosa.

A célebre Estrada da Graciosa perfaz mais ou menos o mesmo caminho utilizado pelo naturalista francês, que viajou grande parte de nosso país, no início do Século XIX, ajudando a desvendar muito de sua botânica e de sua fitogeografia: derivando da rodovia BR116, coisa de uns trinta quilômetros de Grande Curitiba, ela serpeia “graciosamente” pelas encostas íngremes da Serra do Mar, até chegar aos terrenos litorâneos do estado, perto de Morretes. Nos tempos em que a desci, pela última vez, já não era a trilha dura enfrentada por Saint-Hilaire. Mas, ainda contava com belo pavimento de paralelepípedos, hoje quase totalmente sepultados pelo mais frio asfalto.

De forma diferente de trinta e poucos anos atrás, quando passávamos muito tempo sozinhos, no meio da estradinha bucólica, sem ver passar qualquer outro carro, hoje trafega notável quantidade de veículos apressados, que carregam turistas sequiosos por chegar ao mar, sem que se deem ao trabalho de se deter um pouco e admirar as esplêndidas matas que guarnecem, estas sim, de forma inalterada, o cenário ao redor. Fomos, então, na medida do possível, parando em cada recanto visitado por mim, em 1982, para conferir, já com olhos mais maduros, os aspectos da biodiversidade das florestas.

A Estrada da Graciosa representa uma topossequência exemplar de climas, formas de relevo e, claro, vegetações e floras, desde os 850m, até próximo do nível do mar. Ao longo de quase 25km, o visitante poderá observar, tal como num corte teórico dos mais exemplares, desde a floresta subtropical de altitude, ainda contando com algumas araucárias (Araucaria angustifolia); até as magníficas florestas de baixada litorânea; passando pelas majestosas florestas tropicais pluviais de encosta atlântica. O leitor que, ao ler meu livro, recentemente editado pela NAU Editora (2015) – Fitogeografia do Brasil ; Uma Atualização de Bases e Conceitos – decidir conferir os capítulo sobre a Floresta Atlântica, confrontando-o aos antecedentes, dedicados à Geomorfologia e Clima, principalmente, poderá ali encontrar um perfeito transecto demonstrativo de todas as vegetações associadas a ela. Se decidir, então, seguir até Guaraqueçaba, para onde nossa expedição se dirigiu, após a Serra da Graciosa, completará sua contemplação das sequências topográficas, ao visitar as florestas alagáveis e manguezais (ver próxima postagem).

Observem, nas fotografias a seguir, alguns desses aspectos fascinantes da Serra da Graciosa e de sua flora:


Acima - Na floresta de altitude, com flora fundamentalmente subtropical, medram incontáveis plantas epífitas, que exibem suas vistosas inflorescências, no auge da primavera e adentrando o verão. Embora se pareçam com as florestas tropicais, que lhes vão aos pés da magnífica Serra do Mar, representam flora própria, mas que pode trocar elementos com aquelas.

A Seguir - Aspectos da floresta de altitude, que chega até a beira da crista da serra, para se desfazer gradualmente, por dentro da floresta tropical pluvial de encosta



Acima - Exibindo elementos que podem ser compartilhados, no Paraná, com as florestas de encosta e baixada, como os samambaiaçus-xaxim (Dycksonia sellowiana) e as bromélias Vriesea platynema, V. incurvata e algumas outras espécies, a floresta de altitude se beneficia da umidade constante, depositada pelas nuvens orográficas, que se encostam docemente na montanha, de forma quase ininterrupta.


Acima - A orquídea Brasilidium praetextum (=Oncidium enderianum) abunda em flores, nesta época do ano, em meio às bromélias da floresta de altitude.
Abaixo - Os samambaiaçus-xaxim (Dycksonia sellowiana) são especialmente numerosos, nas áreas de grande altitude da Serra da Graciosa, formando densas populações, em cujos caules fibrosos se instalam outras pteridófitas delicadas, além de orquídeas e bromélias.



A Seguir - Na medida com que se avança ao litoral, perdendo altitude e ganhando calor, a floresta se modifica bruscamente, dando lugar a árvores mais elevadas e imponentes, que suportam densos emaranhados de epífitas características, às quais se unem lianas e aráceas variadas. As chuvas são aí mais fortes e a maior parte dos rios do litoral nasce em meio a essas preciosas florestas



Os nevoeiros são também constantes, ajudando a manter a elevada umidade trazida pelas chuvas. É bastante agradável contemplar a floresta imersa na bruma, que lhe confere aspecto misterioso




Acima - Vriesea platynema é uma bromélia compartilhada com as regiões de altitude. Porém, somente atingirá seu apogeu, se vegetar sob alta umidade, seja lá em cima da serra, seja cá mais próximo à Baía de Paranaguá
Abaixo - O curioso complexo em torno de Vriesea incurvata mostra toda sua pujança a partir da média encosta, ganhando força nas matas densas do litoral. Poucos negam o caráter enigmático que ainda lhe cerca a taxonomia




Acima - Riqueza suprema da Serra do Mar, em toda sua extensão: águas cristalinas e perenes, que nascem nas cristas montanhosas, nas serras da chuva, para chegarem ao mar, no Paraná, nos fundos da Baía de Paranaguá

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO MAR – NÚCLEO PICINGUABA – SÃO PAULO

No dia 06 de dezembro de 2015, realizamos uma excursão pelas florestas do Litoral Norte de São Paulo, mais precisamente, no Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Picinguaba – próximo à divisa com o estado do Rio de Janeiro. É uma das regiões mais chuvosas de todo o litoral brasileiro. Confrontando-se isso ao relevo crítico da Serra do Mar, neste trecho, e ao clima quente dominante, não se poderia esperar algo diferente da densidade das matas e da diversidade de espécies que ainda guarnecem este setor.

A situação de conservação e manutenção desta unidade de conservação estava longe de ser ideal e nada mais encontramos que patrimônio abandonado e trilhas quase desaparecidas. Estivera ali, cerca de vinte anos atrás, para percorrer exatamente a mesma trilha chamada Trilha do Corisco, sendo a lembrança da exuberância daquelas florestas e a boa condição de caminhada de então os maiores estímulos para esta nova visita.

A Trilha do Corisco servira, em séculos passados, para a travessia dessas montanhas, que dividem a região de Ubatuba, no litoral paulista, da Baía de Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Os indígenas, seus mais habituais usuários, vindos de Ubatuba, se obrigavam a cruzar esta dura trilha, por não conseguirem atravessar a temida Ponta da Juatinga, com suas frágeis canoas. Hoje, ela serve apenas ao ecoturismo, estando infelizmente relegada ao quase esquecimento.


Vamos às imagens, que podem sempre dizer mais que as linhas do texto:


Acima - Poucos lugares da costa do Sudeste podem propiciar este contato quase direto entre a Floresta Atlântica e o mar. Picinguaba, no litoral norte de São Paulo, é um deles. A rodovia BR101 corta irreversivelmente a continuidade entre os dois ecossistemas, mas o Parque Estadual da Serra do Mar impede o avanço da urbanização caótica, que já tomou conta de quase todo o restante da linha de praias

Abaixo - Na linha de praias, a floresta se instala sobre o solo livre da influência das marés, propiciando paisagem de lindo contraste



Acima - As vistosas e duras bromélias do gênero Neoregelia, adaptadas aos ambientes de luz extrema, ocupam desde o solo da restinga, até o topo das grandes árvores emergentes da floresta densa de Picinguaba, enquanto outras plantas se vão acomodando, sob o dossel sombreado da mata. Estas plantas do complexo em torno de Neoregelia johannis são de taxonomia complicada e controversa. Neoregelia cf. correia-araujoi é a planta da imagem


Acima - As saíras-das-sete-cores, entre outras saíras, são especialmente abundantes, nestas florestas mais abertas da linha costeira de Picinguaba

A Seguir - Aspectos do interior das florestas densas de baixada litorânea do Parque Estadual da Serra do Mar:




Raízes tabulares, com sapopemas, ajudam a fixar melhor as grandes árvores, nos terrenos frágeis da floresta de baixada litorânea da Serra do Mar, enquanto abundam bromélias e orquídeas, juntando-se a imensa diversidade de aráceas trepadeiras, que praticamente recobrem galhos e troncos. São numerosos os palmiteiros (Euterpe edulis), além de diversas espécies decorativas de palmeirinhas do gênero Geonoma, como a G. elegans, da imagem a seguir.


Abaixo - A Commelinaceae Dichorisandra thyrsiflora dá um toque de cor, na mata escura e monocromática



Acima - O rio Picinguaba é acompanhado quase todo o tempo, ao longo da Trilha do Corisco, emprestando seu rumor contínuo, como música de fundo à excursão


Acima - Imenso cogumelo-orelha-de-macaco, sobre um tronco caído na mata
Abaixo - A bromélia Canistropsis seidelii é elemento de extrema importância ecológica, na floresta densa e úmida de Picinguaba




quarta-feira, 18 de novembro de 2015

RPPN GRAZIELA MACIEL BARROSO – NOVEMBRO DE 2015

A Reserva do Patrimônio Natural Graziela Maciel Barroso, ou simplesmente RPPN Graziela Maciel Barroso, é uma unidade de conservação particular, pertencente ao Condomínio Quinta do Lago, em Petrópolis, estado do Rio de Janeiro. Conheci essas montanhas entre 1998 e 1999, quando fui convidado a ajudar na demarcação dessa reserva, assim como para coordenar seu Plano de Manejo, no final daquela década que ficaria marcada como uma era ecológica, quando o apelo conservacionista se espalhou e sensibilizou a população e até mesmo empresários.

A RPPN Graziela Maciel Barroso protege extensa área de montanhas, na região conhecida como Rio da Cidade, próximo à Fazenda Inglesa, bairros que ainda congregam boa quantidade de florestas. Ao menos duas espécies criticamente ameaçadas encontram abrigo, nesta Reserva: a bela amarilidácea Worsleya procera, até pouco tempo conhecida como Worsleya rayneri; e a minúscula bromeliácea litofítica Tillandsia grazielae, esta última com ocorrência praticamente restrita à RPPN.

É interessante notar que o nome da Reserva foi uma homenagem que fizemos à célebre Dra. Graziela Maciel Barroso, botânica que transformou a história do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, trabalhando arduamente, até o fim de sua vida, na Década de 2000. Os pesquisadores Sucre e Braga, que descreveram a pequena bromélia dos paredões de pedra da RPPN, resolveram apor-lhe como epíteto o nome da Dra. Graziela. Anos depois, por ter iniciado minha vida botânica sob os auspícios da Dra. Graziela e tendo a raríssima plantinha como uma das espécies mais importantes da região, sugeri o nome da reserva, que foi prontamente aceito, ajudando a eternizar essa grande pesquisadora de nossa flora.

Para quem desejar conhecer mais sobre a RPPN Graziela Maciel Barroso, temos publicado, no site WWW. Pluridoc.com, o Volume I do Plano de Manejo, no qual constam importantes aspectos de sua flora, fauna e natureza, em geral ( https://www.pluridoc.com/Site/FrontOffice/default.aspx?module=Files/FileDescription&ID=5299&state=SH ). Sobre a nova população de Tillandsia grazielae, que descobrimos, durante as excursões investigativas no local, existe outra publicação, no mesmo site ( https://www.pluridoc.com/Site/FrontOffice/default.aspx?module=Files/FileDescription&ID=5164&state=SH ).

No dia 18 de novembro de 2015, resolvi fazer uma vistoria nas florestas de altitude da RPPN Graziela Maciel Barroso, tirando proveito de uma manhã fresca e úmida de primavera. Embora tenha sofrido muito, em tempos recentes, com a propagação de incêndios florestais, provenientes de áreas limítrofes, as florestas de altitude da Reserva se encontravam muito bem conservadas.

A seguir, mostro alguns aspectos interessantes dessa visita, através de imagens obtidas no local:


Sobre rochas imersas na floresta densa e escura, inúmeras bromélias Neoregelia carolinae se encontravam em flores, exibindo suas vistosas rosetas centrais de folhas, tingidas de vermelho purpúreo, que servem para atrair polinizadores às suas diminutas flores lilacinas, que emergem do tanque central de água. Note-se o caráter alternativo de vegetação dessas persistentes plantinhas, que tanto podem crescer sobre troncos e galhos de árvores, quanto por sobre as rochas que afloram, ou mesmo diretamente no solo, em meio ao material em decomposição.




As matinhas de altitude recebem diretamente as nuvens, que colidem com as cumeadas da serra. São as famosas “florestas nebulares”, onde as gotículas de água dispersas nessas nuvens propiciam ambiente saturado de umidade. Bromélias são numerosas e variadas: Vriesea heterostachys é de longe a mais comum, partilhando espaço com Vriesea jonghei, Vriesea bituminosa, Billbergia sanderiana, Billbergia pyramidalis e diversas Tillandsia spp.


Essas flores não são hortênsias não! São solanáceas: Brunfelsia hydrangeiformis, do mesmo gênero dos conhecidos manacás de nossos jardins, que, aliás, também são nativos daqui.


Nos links a seguir, você poderá ver no Youtube alguns pequenos vídeos feitos nesta excursão:

 https://www.youtube.com/watch?v=bHb1ZvgD41M

https://www.youtube.com/watch?v=3md2Iji9YUE

https://www.youtube.com/watch?v=NLT7e4rtgBg



quarta-feira, 28 de outubro de 2015

AOS PÉS DOS ANDES ARGENTINOS – VEGETAÇÕES CAMPESTRES

Quando por ocasião de nossa passagem por Mendoza, na Argentina (ver postagem – Mendoza e os Andes Argentinos - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/08/mendoza-e-os-andes-argentinos-2006.html ), em 2006, realizamos uma ligeira digressão aos pés da Cordilheira, na isolada região de Laguna Diamante. Infelizmente, por causa de uma recente avalanche de neve e pedras, o caminho até a admirável Laguna se encontrava interrompido, o que não nos impediu, é claro, de examinar a curiosa paisagem botânica local.

O solo é proporcional à situação de cada encosta: sobre as vertentes mais agudas, onde a neve cobre com frequência, nada mais existe do que uma miríade de pedregulhos (clastos) angulosos, sobre os quais pouca coisa chega a medrar; na base e no fundo dos vales espremidos, chega a se acumular algum sedimento, as pedras se misturam ao loess fino dos vulcões e à fina “areia”, que nada mais é do que a rocha vulcânica finamente dividida.

Nesses vales muito exíguos, que mostram as marcas das violentas torrentes, que as atravessam, no degelo, para se esvaírem nas planuras desérticas abaixo, é onde a vida se concentra. Plantas anuais, com lindas flores coloridas, se misturam a arbustos muito rijos e adaptados. Nesta região, podem ser vistos os derradeiros cactos, que acompanham a extensa Cordilheira, desde a América Central, encontrando ali seus limites austrais.

Poucas formas de vida conseguem se adaptar às ásperas condições antepatagônicas e subalpinas dos Andes de Mendoza. São “ecossistemas críticos”, que não devem ser confundidos com ecossistemas criticamente ameaçados, embora usualmente acabe sendo esta sua condição de conservação. Em nosso livro Fitogeografia do Brasil – Uma Atualização de Bases e Conceitos (ver postagem anterior http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/10/o-livro-fitogeografia-do-brasil-uma.html ), discorremos sobre a dura condição de sobrevivência das formas de vida, nesses ecossistemas muito pouco diversificados (ecossistemas críticos).

É reconhecido o estado de intensa invasão desses ecossistemas críticos argentinos por plantas exóticas, que facilmente ocupam os espaços das espécies nativas. Ali, na estradinha perdida para a Laguna Diamante, contudo, ainda se consegue apreciar boa parte das belas espécies nativas da Argentina, sendo muitas pouco conhecidas por nós.


Aproveite as imagens obtidas em 2006, por ocasião desta passagem pelos pés dos Andes:


acima - guanacos habitam as áreas desérticas da Laguna Diamante
adiante - Paisagens ao sul de Mendoza, na Argentina, aos pés dos Andes








 acima - As últimas cactáceas, ao sul da América, habitam a pré-cordilheira da região de Mendoza: Maihuenia patagonica 




 acima - Senecio filagionoides (Asteraceae) é uma das mais importantes plantas dessas vegetações rasteiras da antessala da Patagonia