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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

terça-feira, 23 de outubro de 2012

MISSÃO CUMPRIDA – UM ANO CHEIO COM MAIS DE 20.000KM DE FITOGEOGRAFIA


               A Expedição Fitogeográfica 2012 teve sua segunda fase cumprida, entre setembro e outubro, quando rodei mais 8.000km, entre Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Uruguay e Argentina. Ainda estão previstas algumas atividades mais leves, até o final do ano. Mas, agora, meu compromisso será com a caneta: Escrever deverá ser minha rotina, para dar minha contribuição à Fitogeografia, através do livro em gestação.

               Foi um ano decididamente cheio, com mais de 20.000km de estradas, não apenas pelo Brasil, mas também por algumas terras vizinhas, aonde tive que chegar, para conferir algumas das hipóteses com que trabalhava. Entre abril e maio, percorri o bioma Caatinga, assim como algumas terras do Centro-Oeste; Nesta segunda fase, desci ao Cone Sul, atravessando de cheio a Pampa e os planaltos meridionais. Foi um contraste avassalador, uma transeção inigualável deste país que eu julgava conhecer tão bem, mas que se mostra ainda mais diverso e cheio de surpresas, a cada quilômetro.

               Do calor de quase 45oC, com umidades – ou falta dela – girando na casa dos 15%, que enfrentei na Caatinga, durante uma viagem realizada em meio à mais pronunciada seca em diversas décadas, saltei para os ventos sibilantes da Pampa, sob frio de 6oC e chuvas geladas. Pois será a partir dessa imensa diversidade ambiental que concluirei minha obra, que espero venha a contribuir um pouquinho mais para o conhecimento desse gigantesco país.

               Não posso deixar de lançar um agradecimento geral a todos os que me apoiaram, durante minha jornada; gente nova que conheci e que se tornou patrimônio inigualável, em minha vida. Duas coisas me impressionaram mais, ao longo de tantas estradas: Em primeiro lugar, a qualidade de nossa gente, que me fez acreditar que realmente moramos num dos melhores lugares do Mundo; Em segundo, infelizmente, o descaso de nossos gestores públicos com nossa extensa malha viária, sobre a qual não conseguirá essa terra de prosperidade avançar, em seu desenvolvimento.

               Faço seguir algumas imagens de brinde, colhidas durante esta segunda fase da Expedição Fitogeográfica 2012. Obrigado a todos pela atenção.

A Seguir - Baleias em Garopaba, SC. Encontro emocionante

 Mãe e filhote, na praia da Ribanceira

Abaixo - A Serra do Tabuleiro se debruça sobre as ondas, tendo à sua frente apenas as dunas móveis, com sua flora exuberante




Acima - Com a Serra do Tabuleiro ao fundo, as dunas da Guarda vão perdendo suas florestas e vegetações fixadoras, para conhecer somente eucaliptos e casuarinas
Abaixo - Vista da praia da Guarda, em Santa Catarina


Abaixo - Paisagem da Araucarilândia do Planalto Gaúcho, em São José dos Ausentes, RS



Adiante - Aspectos da Serra do Rio do Rastro, na subida dos campos de cima da serra, em Santa Catarina




Acima - O fogo consome as pastagens nativas dos campos de cima da serra, que também vão conhecendo os pinheiros-americanos e as florestas de cataventos, no caminho da (in)sustentabilidade do futuro - Abaixo.


A Seguir - Bromélias Aechmea recurvata são espécies características, tanto nos afloramentos rochosos, quanto no interior das florestas subtropicais do RS




Abaixo - Parreiras de uvas, em Caxias do Sul, RS


Abaixo - Porto antigo de Rio Grande, no Rio Grande do Sul


Abaixo - Palmares uruguaios de Butia odorata, na província de Rocha



Acima - As planuras intermináveis da Pampa Meridional


terça-feira, 16 de outubro de 2012

ATRAVESSANDO A PAMPA GAÚCHA – OS CAMPOS SULINOS


               Nada como as intermináveis estradas de nosso imenso país e algumas de nossos vizinhos, para se ter boa noção das vegetações que se espalham, das mais diversas formas. Não que sejam cômodas de se percorrer, ainda que as rodovias uruguaias sejam irrepreensíveis e as gaúchas até estejam em razoável estado. De forma geral, após centenas de milhares (mais de milhões, em minha vida) de quilômetros atrás da direção de automóveis, Brasil afora, posso afirmar que são algumas das piores estradas do Mundo. Mas, não se pode negar: Ainda representam a melhor maneira de se conhecer a geografia de qualquer lugar.

               Pois foi por essas longas estradas que, saindo do Uruguay, depois de ter atravessado aquele país e uma grande extensão da Argentina, cheguei ao Rio Grande do Sul, ainda no dia 05 de outubro, quando visitei o Parque Estadual do Espinilho, em Barra do Quaraí (ver postagem anterior). No mesmo dia, atingimos Alegrete, a capital do tradicionalismo regional, bem no cerne da região dos campos sulinos, que eram razão principal de minha passagem pelo estado. O tempo andara bem claro e até fazia algum calor, em Barra do Quaraí, após o frio intenso e contínuo, que nos acompanhara, até então, nesta segunda fase da Expedição Fitogeográfica 2012. Mas, prometia-se chuva forte, para o dia seguinte.

               As previsões se confirmaram e, na manhã do dia 06, já despencava violento aguaceiro, acompanhado de raios e trovões, que puseram a região da Fronteira em estado de emergência e atrapalharam muito as atividades previstas. Porém, não foi de todo perdida a oportunidade, por duas importantes razões: 1) Longa entrevista com o Sr. Nei Galvão, estancieiro de longa experiência do Alegrete, me brindou com excelente material de informação sobre a história dos campos da região do Ibirapuitã; sua evolução nos últimos cem anos, pelo menos; e as transformações por que tem passado sua vegetação nativa, desde então;  2) A percepção do papel climático na origem e manutenção de grande parte da vegetação pampeana, em vista de tê-la percorrido em meio a fortes precipitações e ventos intensos.

               Não poderei fazer acompanhar esta postagem com as belas imagens que costumam ser captadas, nos locais visitados. Isso ocorre não pela sua disponibilidade, uma vez que a Pampa Meridional congrega algumas das mais deslumbrantes paisagens campestres do país. Porém, o tempo chuvoso, que frustrou as tão esperadas caminhadas, impediu trabalho fotográfico botânico de maior conteúdo. Seguem algumas imagens representativas, com os seus comentários:


A Seguir: No dia 05 de outubro, ainda com tempo claro, foi possível tomar algumas imagens gerais da Pampa Gaúcha, na região entre Uruguaiana e Alegrete. Uma coisa ficou bastante evidente: Essas pradarias já formaram complexo mosaico de paisagens botânicas, no passado. Ficou claro o papel transformador do homem e de seu gado, desde tempos imemoriais.



Estradas são importantes transectos de observação das vegetações do país: Especialmente no Rio Grande do Sul, onde a necessidade de cercas para o gado fez cessar o pastoreio, nas faixas de domínio, é possível notar a gradual sucessão, na direção de vegetações mais densas do que os campos ditos nativos.


 Cerca adentro – As pradarias que fizeram a fama da Pampa Gaúcha; Fora dos aramados, na borda das estradas, mostra-se a verdadeira natureza das vegetações que ali existiram num passado remoto.



Estradas cortam o solo, para serem implantadas, exibindo sua verdadeira natureza: Rochas derivadas da Formação Serra Geral (principalmente basaltos) se estendem por vasta superfície de áreas quase planas. No passado, esses solos litólicos abrigavam os mais genuínos campos nativos, sendo circundados por formações arbustivas e arborescentes – hoje completamente desaparecidas.




Abaixo – Próximo à calha do rio Ibicuí, entre Alegrete e São Francisco de Assis, intrigantes processos de arenização tomam corpo, ano após ano, sendo confundidos por muitos com suposta desertificação, que não existe ali. A conjunção de processos naturais de evolução das formas do relevo, sobre embasamentos de arenito, e das influências humanas, geram imensas movimentações de areia, que os ventos fortes da Pampa transportam com facilidade.




A presença de espécies relacionadas a períodos áridos, tanto no interior dos areais quanto por sobre afloramentos de arenito, passam a impressão de que esses ambientes já perduram há muito, no interior da Pampa – Notar os cactos colunares Cereus hildmanianus, os mesmos que avistáramos no Parque do Espinilho, vegetando sobre os afloramentos de arenito de São Francisco de Assis, onde se originam arenizações recentes.



Abaixo – Imensas voçorocas evoluem sobre os campos, onde a pressão de pastoreio é mais intensa. Esta imagem foi obtida imediatamente abaixo daquela da foto anterior.




sábado, 13 de outubro de 2012

PARQUE ESTADUAL DO ESPINILHO – BARRA DO QUARAÍ – RIO GRANDE DO SUL


               Um dos objetivos da segunda fase da Expedição Fitogeográfica 2012 era conhecer a vegetação de espinilho, ou parque de espinilho, como alguns preferem chamar. Uma savana é como são vistos por muitos fitogeógrafos, que tentam equipará-la a outras vegetações de natureza savânica ou aberta do país: Cerrado, Caatinga e até mesmo algumas florestas abertas da Amazônia. Quem acompanha meu trabalho já deve imaginar minha imensa resistência a essas generalizações, que banalizam processos tão complexos e singulares como os que originam nossas diversificadas paisagens botânicas. Assim, desde que saíra do Rio de Janeiro, ansiava por conhecer a região dos espinilhos, por considerá-la enigma digno de mais detida observação.

               Retornando da extensa volta que empreendêramos, entre Uruguay e Argentina, começamos e notar fácies relacionadas ao espinilho desde que atravessamos o estuário do rio da Prata, passando a vê-las com mais nitidez depois de deixarmos o solo argentino, onde visitáramos o Parque Nacional El Palmar (ver postagem anterior), adentrando novamente o Uruguay, em Salto, na margem do rio Uruguay. Olhando atentamente a imensa Pampa Uruguaia, que se interconecta com a brasileira, no sul do Rio Grande do Sul, já nos era possível notar vestígios do complexo mosaico de tipologias vegetacionais que um dia deve ter coberto toda a Pampa. Em meio a isso tudo, lá estavam os espinilhos, que são a vegetação típica da fusão Chaco-Pampa.

               Ainda que seja demasiado prematura qualquer interpretação avançada, o que se pode dizer do espinilho é o seguinte: Trata-se de um denso agrupamento de árvores adaptadas aos solos permanentemente saturados de umidade, sob climas fortemente temperados; Por vezes mais fechado, por vezes com índole savânica (árvores pouco distantes umas das outras, sobre relvados contínuos), agrupa principalmente árvores tortuosas e espinhentas, predominando três espécies de fabáceas (leguminosas) argentinas – Prosopis affinis, P. nigra e Vachellia caven (=Acacia caven). O quebracho-blanco (Aspidosperma quebracho-blanco – família Apocynaceae) também já ocorreu, de forma mais numerosa, no passado. Hoje, devido à intensa exploração madeireira, restam exemplares jovens ou isolados aqui e ali.

               A principal reserva de vegetação de espinilho, em nosso território, encontra-se no Parque Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí, no sudoeste gaúcho, onde passei, no dia 05 de outubro. Em face da brevidade de minha visita e das dificuldades usuais de manejo das unidades de conservação brasileiras, somente poderei agradecer a boa vontade dos responsáveis pelo Parque, que me esclareceram muito sobre essa área distante de nosso país.


Acima – As flores da corticeira (Erythrina crista-galli – família Fabaceae), que ainda se encontravam atrasadas, na região do Prata, já mostravam sua beleza, nas terras de primavera quente do Parque do Espinilho.

Abaixo – Ainda em solo uruguaio, já era possível observar uma das principais razões para o surgimento das extensas vegetações campestres da Pampa: Solos rasos sobre embasamento rochoso contínuo – principalmente basaltos – como se pode ver próximo a Salto, na margem esquerda do rio Uruguay. O homem provê o restante.



A Seguir – Aspectos do que restou da vegetação de espinilho, em terras uruguaias, onde pastam hoje os melhores gados ovinos e bovinos em que se poderia por os olhos.




Adiante – Imagens da vegetação do Parque Estadual do Espinilho, que é dominada por árvores enfezadas das espécies Prosopis affinis, P. nigra e Vachellia caven (todas da família Fabaceae). Numa das fotos, observa-se o afloramento parcial do lençol freático extremamente superficial da planura local.








Abaixo - A presença marcante de cactáceas como Cereus hildmanianus (=C. peruvianus), com seu aspecto colunar, emergindo sobre as arvoretas de aspecto árido, já suscitou teorias de ligações com a Caatinga, em tempos recentes (Quaternário – últimos dois milhões de anos). Essa possível proximidade é muito mais antiga e remontaria ao Terciário.



Abaixo – O quebracho-blanco (Aspidosperma quebracho-blanco – família Apocynaceae) já foi uma das “perobas” da Argentina. Hoje, encontra-se quase desaparecido, mas alguns exemplares podem ser vistos na região dos espinilhos.



Adiante – Estranhas preciosidades botânicas da flora epifítica dos espinilhos: Os cactos trepadores (Rhipsalis cf. lumbricoides) e as bromélias atmosféricas do gênero Tillandsia.




quinta-feira, 11 de outubro de 2012

ARGENTINA – ENTRE OS RIOS PARANÁ E URUGUAY, OS PALMARES


               A segunda fase da Expedição Fitogeográfica 2012 nos levou à região de Entre Rios, uma província argentina cujas paisagens entremeiam campos inundáveis e florestas ciliares, possuindo flora muito particular. Passamos por ali, entre no dia 4 de outubro, no caminho do Rio Grande do Sul. Suas terras notavelmente planas foram formadas pelos sedimentos originados principalmente no Brasil, Uruguay, Paraguay e parte do norte da Argentina, sendo o Quaternário o período responsável pela maior quantidade de materiais que formam seus solos.

               Próximo à localidade de Ubajay, junto ao rio Uruguay, encontra-se situado o Parque Nacional El Palmar, uma preciosa reserva de vegetação singular, formada quase que exclusivamente por palmeiras da espécie Butia yatay. Assim como os palmares que visitáramos no leste do Uruguay, na região de La Coronilla (ver postagem do dia 27 de setembro – La Coronilla – Uruguay – Onde a Pampa Encontra o Oceano), essas grandes palmeiras formam populações quase homogêneas, cuja origem pode ser associada ao homem. A vegetação original, conquanto contemplasse essa espécie muito ornamental, deveria estar relacionada aos espinilhos, hoje quase extintos.

               As palmeiras de El Palmar possuem aproximadamente a mesma idade, no que muito se assemelham aos palmares de La Coronilla. Porém, aqueles do litoral do Uruguay são formados pela espécie congênere Butia odorata e sugerem vegetação campestre, o que se deve ao manejo intenso do gado bovino. Os butiás da Argentina, por estarem protegidos num Parque Nacional, permitiram alguma regeneração de formas arbóreas de vegetação, assim como de indivíduos jovens ou com idades mais variadas, uma vez que escapam do constante pastoreio. Assim como aqueles, habitam terrenos de natureza arenosa e com saturação constante de umidade.

               Nas imagens a seguir, é possível apreciar os interessantes aspectos das paisagens botânicas da província de Entre Rios, muito especialmente dos seus notáveis palmeirais nativos:


Nas Fotos a Seguir – Vastas pastagens ocupam os campos inundáveis, no estuário do Prata, sendo possível notar que já ocorreram florestas subtropicais inundáveis, num complexo mosaico, hoje completamente convertido num curioso tipo de savanas-parque.




Adiante – Aspectos dos extensos palmeirais de Butia yatay do Parque Nacional El Palmar, na província de Entre Rios, na Argentina.








Acima – A região leste da província de Entre Rios encontra-se quase completamente coberta por eucaliptais, que cercam o Parque Nacional El Palmar, ocasionando severa pressão sobre os palmeirais nativos e a vegetação do espinilho.


 Acima – Um fragmento de vegetação de índole florestal, relacionada ao espinilho, acompanha uma zona deprimida do Parque El Palmar, ao longo de um riacho, que cai na margem direita do rio Uruguay, poucos quilômetros abaixo. Fora daí, contudo, as autoridades ambientais argentinas vêm mantendo a hegemonia das palmeiras através do manejo planejado com o fogo.

Abaixo – Uma canhada representa área de afloramento do lençol freático, por vezes caracterizado por águas paradas, onde nadam aves nativas, protegidas das espingardas argentinas. Notar a ocorrência de árvores, ao redor, assim como das palmeiras-butiá.


A Seguir – A margem do rio Uruguay, que separa Argentina e Uruguay


Abaixo – Inflorescências de um ombué ou umbu – Phytolaca dioica (família Phytolacaceae) – árvore muito importante da flora regional, que também ocorre no Brasil.