A viagem de janeiro de 2006 seria
um marco, para o conhecimento da fitogeografia da América Meridional e para a
compreensão de diversos quadros paisagísticos que se manifestam aqui mesmo, no
Brasil. Por isso, tenho resistido a tratar a Fitogeografia do Brasil, em
separado daquela do restante do continente. Tudo que vemos, a caminho dos
Andes, mostra pedaços da história natural do restante dos territórios a leste.
Entender a natureza da Plataforma Brasileira, sem lançar um olhar cuidadoso à
Cordilheira, será tarefa impossível.
Deixando para trás as planuras
quentes do Chaco, entre Corrientes e Santiago Del Estero, mergulhamos mais
fundo no interior da Argentina, bordejando os semidesertos centrais (que
reencontraríamos mais tarde) e ascendendo os primeiros segmentos das
pré-cordilheiras. Quando se elevaram as imensas massas de rocha, que formaram os
Andes, desde mais de uma centena de milhões de anos atrás, foram empurradas
para cima grandes extensões de áreas sedimentares muito antigas, que se
dobraram em ondas de choque, que ainda ocorrem, ativamente. Surgiram, a partir
desses choques contínuos, as pré-cordilheiras, que são cadeias montanhosas
praticamente paralelas aos Andes, entre as quais se desenvolveram corredores
evolutivos e migratórios que marcaram a flora de todo o restante da América do
Sul.
Ganhamos as primeiras
pré-cordilheiras, na altura de San Fernando Del Valle de Catamarca, ou
simplesmente Catamarca, no noroeste
argentino. Fundem-se ali: vegetações campestres (bastante similares aos campos
rupestres brasileiros); semidesertos; e vegetações relacionadas ao Chaco. É o
reino das cactáceas, misturadas a bromeliáceas adaptadas à aridez e ao frio,
como Tillandsia spp., Deuterocohnia spp. e Dyckia spp. O espetáculo florístico que
se dependura, em despenhadeiros vertiginosos, açoitados por ventos fortíssimos,
é inesquecível e nos deixou a certeza de que um dia voltaríamos a esta
admirável região, para uma visita mais detalhada.
Abaixo – As paisagens da pré-cordilheira de Catamarca se mostra em muito similar àquela da Cadeia do Espinhaço,
no Brasil. Sua flora, no entanto, em tudo difere, tanto quanto os traços
culturais de sua gente
Acima – Detalhe de um
afloramento rochoso, na região de El
Alto, abrigando bromeliáceas do gênero Deuterocohnia e diversas cactáceas
diminutas, especialmente do gênero Parodia
Adiante – Ainda nas planuras do Chaco, próximo a Santiago Del Estero,
medidas singulares de economia fizeram os argentinos optar por uma rodovia com
apenas UMA pista de rolamento pavimentada, que era negociada entre os
motoristas, quando se cruzavam
A Seguir – A estonteante flora da pré-cordilheira de Catamarca,
congregando quantidade impressionante de bromeliáceas e cactáceas, que mostram
evidentemente a rota migratória entre os Andes e a Plataforma do Brasil
Acima – Árvores lotadas de Tillandsia cf. didisticha se debruçam
sobre os despenhadeiros do Valle de Catamarca
Abaixo – Paisagens do profundo Valle de Catamarca, onde se encontra
encravada a cidade de San Fernando Del Valle
de Catamarca
Acima – El cardón, o imenso cacto colunar (Trichocereus atacamensis)
que surge como escultura, em meio à vegetação miniaturizada dos despenhadeiros
de Catamarca
Abaixo – Cactáceas do gênero Parodia florescem lindamente,
enquanto se penduram na rocha íngreme do Valle de Catamarca
A
Seguir – Em
El Alto, numa praça pública, um oratório foi escavado, num curioso
exemplar da paineira (Ceiba cf. pubiflora – família Malvaceae)