As viagens à Serra da Canastra, em Minas Gerais,
representaram um dos mais importantes laboratórios práticos sobre vegetações
campestres para mim, nestes últimos anos. É claro que os campos da Pampa; do
Parque Nacional das Emas; da Chapada Diamantina; e de tantos outros lugares
foram importantes, até por que as pradarias não possuem a mesma natureza, em
diversos lugares. Mas, o Parque Nacional
da Serra da Canastra é capaz de exibir claramente ao naturalista os mais
determinantes processos edáficos a partir dos quais surgem vegetações
campestres no Brasil.
A Serra da Canastra foi visitada pela sua vertente norte, a
partir da pequena localidade de São João, e noutras ocasiões, pelo leste,
entrando por São Roque. Além de abrigar as nascentes do famoso rio São Francisco,
a Canastra apresenta flora, vegetação e fauna de imensa relevância para a
ciência e para a conservação da natureza. Sempre que visito a região, conto com
a orientação de campo de meu amigo Elossandro
Coelho, um dos mais experientes guias envolvidos não apenas com o
ecoturismo, mas também com as iniciativas de conservação da natureza da Serra
da Canastra.
Neste passeio virtual, através das imagens e comentários do
nosso blog – Expedição
Fitogeográfica, os leitores poderão ter uma ligeira ideia do que
espera pelo viajante, ainda que, com certeza, muito ficará a dever, frente a
tantas atrações desta vasta região de campos.
01 - A entrada nos campos de cimeira da Serra da Canastra,
feita a partir de Araxá, revela paisagens incomuns de vastidão.
02 – Os caminhos são difíceis, o que somente aumenta a
emoção de percorrer as múltiplas paisagens da Serra da Canastra.
03 – A pequena localidade de São João, na vertente norte da
Serra da Canastra, é o ponto-base para aquele que deseja conhecer esse segmento
do maciço, vindo de Araxá, no Triângulo Mineiro.
04 – Vista parcial da localidade de São João, na vertente
norte da Serra da Canastra: Nada de luxo; Muita tranquilidade e; Algumas das
mais belas paisagens da região.
05 – Desta magnífica paisagem, advém o nome da Serra da
Canastra, lembrando uma daquelas antigas arcas ou malas, de que se faziam
acompanhar os viajantes e tropeiros do período colonial brasileiro.
06 – A Serra da Canastra faz parte de um antigo arco geológico,
que atravessa grande parte do Brasil Central. Sua cumeada é formada por
extensas planuras, onde solos muito rasos se assentam sobre quartzitos,
sustentando vegetação campestre, onde ventos muito fortes e constantes mantêm
um ambiente peculiar.
07 – Em suas vertentes voltadas aos domínios atlânticos, em
todo o quadrante leste, surgem vales mais arredondados, como este, próximo a
São Roque, onde se veem populações de voquisiáceas e asteráceas, em manchas que
revelam solos característicos.
08 – Ainda nas alturas dos chapadões, inúmeros córregos
cristalinos se juntam, até formarem rios caudalosos, que originam incontáveis
cachoeiras, em todas as bordas da Serra da Canastra. Nesta imagem: o rio São
Francisco, antes de se projetar na Cachoeira da Casca D’Anta.
09 – Ainda que se venha discutindo a localização da
verdadeira nascente do Velho Chico – rio São Francisco – a Cachoeira da Casca
D’Anta, no grande Vale da Babilônia, é reputada como legítima postulante a este
rol de honra.
10 – O Chapadão da Babilônia se distingue da Canastra, por
separar-se dela através de um profundo vale, visto nesta imagem. No interior
deste vale, existe um divisor de águas entre as bacias do São Francisco e do
rio Paraná.
11 – Vista do imenso vale do Chapadão da Babilônia, no
sentido das águas do São Francisco. As bordas dessas chapadas terminam em
paredões íngremes, sobre os quais se debruça riquíssima flora, na qual se
destacam plantas das famílias Myrtaceae, Melastomataceae, Asteraceae,
Vochysiaceae etc.
12 – Nesta imagem, observa-se o contraste nítido entre a
vegetação campestre, muito antiga e primitiva, dos altiplanos da Canastra, e os
fragmentos de florestas estacionais que revestem ainda grande parte das
vertentes. Ali, chega a se depositar algum solo explorável pelas árvores.
13 – Na vegetação campestre dos campos rupestres da Serra da
Canastra, surgem algumas espécies bastante características, tais como aquelas
relacionadas ao gênero Lychnophora
(Família Asteraceae = Compositae).
14 – A família botânica Eriocaulaceae é bastante
característica dos campos rupestres do Brasil Central. Fazem parte do grupo das
sempre-vivas, tais como este curioso Paepalanthus sp., com a forma de
uma diminuta palmeira, na Serra da Canastra.
15 – Mas é a família Asteraceae, de fato, que se torna
bastante característica dos campos rupestres da Canastra: Lychnophora cf.
salicifolia, chamada de arnica, por alguns.
16 – Magnífico exemplar de Lychnophora cf. ericoides
(Família Asteraceae = Compositae), chamada de arnica.
17 – A família botânica Velloziaceae também pode ser
reconhecida como característica das vegetações campestres mais antigas, que
recobrem as serras quartzíticas e topos de chapadas, onde as temperaturas
costumam despencar, à noite e nos invernos secos. Seus caules repletos de
restos de bainhas de folhas podem abrigar orquídeas raras.
18 – Belo exemplar florido de Vellozia sp. (Família
Velloziaceae) da Serra da Canastra, em Minas Gerais.
19 – As flores de Vellozia spp. são intensamente
predadas por pequenos coleópteros, que também cuidam da polinização da planta.
20 – Trembleya cf. parviflora é uma das inúmeras
melastomatáceas atraentes e decorativas dos campos rupestres da Serra da
Canastra, em Minas
Gerais.
21 – Mandevilla ilustris, da família Apocynaceae, é
outra planta típica dos campos rupestres da Serra da Canastra.
22 – As bromeliáceas do gênero Bromelia somente se
destacam na paisagem, quando iniciam seu vistoso florescimento. Na Serra da
Canastra, surgem em meio à vegetação campestres.
24 – Trimezia juncifolia (Família Iridaceae),
conhecida como ruibarbo, também é uma flor bastante característica das áreas
mais alagáveis dos campos rupestres da Serra da Canastra, em Minas Gerais.
25 – A família botânica Malvaceae é bastante bem
representada no Cerrado e nos campos rupestres do Brasil Central. Na Serra da
Canastra, surgem inúmeras Pavonia spp.
26 – Physocalyx aurantiacus (Família Orobanchaceae)
da Serra da Canastra, em
Minas Gerais.
27 – Os campos rupestres da maioria das chapadas mineiras já
foram intensamente utilizados para pastoreio animal, tendo sido a Serra da
Canastra famosa pelos seus “queijos de canastra”, maturados sobre o leite denso
das vacas levadas ao cume da chapada, no inverno. As taipas (antigas “cercas”
de pedra) ainda persistem na paisagem, lembranças desses tempos.
28 – O intenso pastoreio dos campos rupestres da Serra da
Canastra, seguido pelo fogo, ateado para “renovar” as pastagens naturais, enfraqueceu
sobremaneira a vegetação da Serra da Canastra e acelerou gigantescos processos
erosivos, que já atuavam no entalhamento do relevo. Essas feições topográficas
tecnogênicas somente se estabilizarão se o fogo não mais ocorrer.
30 – Nas bordas da Serra da Canastra, os troncos enegrecidos
pelo carvão atestam a passagem ainda frequente do fogo pelos campos rupestres,
mesmo frente aos esforços da população e das autoridades para prevenir e
combater os incêndios criminosos.
31 – Mas a natureza insiste em resistir à destruição
perpetrada pelo homem. No campo rupestre da Serra da Canastra, ainda se pode
encontrar alguns de seus habitantes mais característicos, como o lobo-guará (Chrysocyon
brachyurus).
32 – Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), no campo
rupestre da Serra da Canastra, em Minas Gerais.
33 – As depressões da Serra da Canastra, abaixo do domínio
das quedas d’água, passa a ser recoberto por florestas estacionais
semideciduais (Seasonally Dry Tropical Forests - SDTF). Nesta imagem, ao fundo
do marco natural do imenso cupim, escavado pelos tamanduás, pode-se vislumbrar
a transição entre os campos, acima, e as florestas, aumentando morro abaixo.
34 – Os elementos arbóreos começam a dominar, chapada
abaixo, na Serra da Canastra, passando pela flora do Cerrado, tal como este
pequizeiro (Caryocar brasiliense – Família Caryocaraceae) que, por se
encontrar encravado em solos rasos, surgia como pequena arvoreta. No cerradão,
ele é uma árvore de grande porte.
36 – Trecho de densa floresta estacional semidecidual, na
margem do rio São Francisco, logo abaixo da Cachoeira da Casca D’Anta, na Serra
da Canastra. Uma árvore chamada casca d’anta (Drymis brasiliensis –
Família Winteraceae) abunda nesta floresta, sendo associada à flora atlântica
meridional. Dela, tirou seu nome a notável queda d’água.
39 – O autor Orlando Graeff, fotografado em 2007, pelo
guia-orquidófilo Elossandro Coelho, no Chapadão da Babilônia, junto ao belo
exemplar de Ouratea castaneifolia (família Ochnaceae).
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