As lélias rupestres se espalham, principalmente, ao longo da
Cadeia do Espinhaço, que começa em Minas Gerais e se estende como uma muralha
até a Bahia, onde sua seção principal é denominada Chapada Diamantina. Miranda
vem estudando esse grupo de plantas há muitos anos, mapeando a ocorrência das
espécies conhecidas e traçando a rota migratória evolutiva que originou
esplêndida variedade de plantas lindamente floríferas do gênero Hoffmannseggella.
Hoffmannseggella cinnabarina é como uma ponta fluminense nessa
longa lista de espécies predominantemente mineiras e algumas baianas. Habitam
os campos de altitude e, principalmente, os afloramentos rochosos da Serra do
Mar, onde se escondem discretamente, em meio às macegas, até o momento de sua
floração, quando emitem longas inflorescências encimadas por flores
alaranjadas, que se destacam na paisagem.
Diante da prolongada seca invernal de 2014, que terminou se
estendendo exageradamente, ao longo da primavera, todas as vegetações da Serra
dos Órgãos sofreram danos sérios, que variaram da perda de matéria orgânica,
por dessecação além dos níveis de tolerância das espécies, até a queima
irreversível, por conta dos inúmeros incêndios florestais, que irromperam até o
adiantado de 20 de outubro – ou seja, cerca de dois meses além do habitual.
Francisco Miranda buscava imagens do florescimento dessa
orquídea, para integrar seu acervo. Evidentemente, a observação do habitat e da
ecologia fazia parte de seus objetivos, o que em muito encontra os meus
próprios, em minha matéria fitogeográfica. Juntos, não sem imensos sacrifícios
físicos, tivemos o prazer de visitar a vertente norte da Serra da Maria
Comprida, no primeiro dia de dezembro de 2014, graças à cooperação do pessoal
da Fazenda Mata Nova, que abriu suas
portas para nossa excursão, que também contemplou a reserva particular da Toca da Onça, muito minha conhecida.
Adiante, alguns
aspectos dessa proveitosa visita:
Abaixo – A orquídea Hoffmannseggella cinnabarina (=Laelia cinnabarina) foi a principal
razão de nossa subida à Serra da Maria Comprida. Esse grupo de plantas
rupícolas/saxícolas tem sido detalhadamente estudado por Francisco Miranda, que
é um de seus maiores conhecedores
A Seguir – Vista geral
do habitat de Hoffmannseggella cinnabarina, na Serra da Maria Comprida – uma disjunção
da Serra dos Órgãos
Acima – Francisco Miranda admira o vale da Reserva da Toca da Onça e Fazenda
Mata Nova, onde se encontram algumas das mais bem conservadas vegetações da
Floresta Atlântica Fluminense
A Seguir – Não obstante os esforços dos proprietários dessas áreas
ao norte da Serra da Maria Comprida, o fogo tem representado inimigo impiedoso
da biodiversidade. Nas imagens, em diversos planos, podem ser observados os
trágicos resultados do mais recente ciclo de incêndios florestais, deflagrado
em outubro de 2014
Acima – O que restou de uma floresta-miniatura de vegetação
rupestre, na encosta do pico do Monte de Milho: A degradação é irreversível e
altera drasticamente as condições de permeabilidade e escorrimento dos fluxos
torrenciais pelas encostas, aumentando a erosão e os índices de temperatura e
radiação dos vales
Abaixo – O encontro entre as duas mais notáveis espécies
investigadas pelos naturalistas, nesta expedição: Hoffmannseggella cinnabarina,
com suas flores alaranjadas, e Worsleya rayneri (família
Amaryllidaceae), que é o famoso rabo-de-galo. Nota-se o nível de impacto do
fogo cíclico sobre o substrato que abriga estas duas plantas ameaçadas
A Seguir – O rabo-de-galo (Worsleya rayneri) é uma espécie
criticamente ameaçada da flora da Serra da Maria Comprida. Sua ocorrência é
restrita a este maciço e a poucos cumes montanhosos ao redor. O fogo e a coleta
criminosa, para abastecer mercados de plantas ornamentais, têm sido seus
principais algozes
Acima – Um dos mais relevantes achados desta excursão foram algumas
plântulas de Worsleya rayneri, que apareciam na parca camada de musgos e
terra, que recobre a rocha lisa. Tinham surgido alguns anos após os últimos
incêndios, mostrando haver chances de regeneração para a espécie
Acima – Trecho do afloramento rochoso da encosta do pico do Monte
de Milho, na Serra da Maria Comprida, sendo possível observar plantas típicas,
como Vellozia
variegata (família Velloziaceae), Pitcairnia flammea (Bromeliaceae),
com suas flores vermelhas, e populações de rabos-de-galo
Nas Fotos a Seguir – Respectivamente o autor – Orlando Graeff – e o naturalista Francisco Miranda se maravilham com as belas plantas da Serra da
Maria Comprida
Acima – Coppensia blanchetii (=Oncidium
blanchetii) é uma orquídea que também se esconde em meio à vegetação
campestre da Serra da Maria Comprida
A Seguir – O curiango levantou voo e foi pousar sobre a pedra nua,
sobre a qual se mimetizava com perfeição...
Logo descobrimos por
que esta ave noturna aparentemente se espantara frente à nossa passagem: Na
verdade, atraía-nos para longe de seus filhotes, recém-saídos da casca dos ovos
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