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terça-feira, 28 de abril de 2015

ENCONTRANDO NOVAS POPULAÇÕES DE BROMÉLIAS DO GÊNERO DYCKIA, NO CERRADO DE MATO GROSSO

           Texto revisado em janeiro de 2025     

                Guiado por meu amigo Sérgio Basso, de Primavera do Leste, grande conhecedor da região e constante companheiro de excursões, partimos para uma cadeia de montanhas de arenito, relacionadas ao imenso conjunto de pediplanos do Planalto dos Alcantilados, que acompanha o extenso vale do rio Garças, em Mato Grosso. Essa unidade geomorfológica representa um dos mais belos e interessantes conjuntos de paisagens do sul daquele estado e liga ecologicamente os vales do Araguaia (a leste) e Pantanal (oeste). Era início dos anos 2000 e nosso interesse estava centrado na identificação de uma nova população de plantas do gênero Dyckia (família Bromeliaceae), que Sérgio relatara existir, sobre alguns morrotes, entre Primavera e a localidade de Vila Paredão.

               Essa população de Dyckia sp. é muito exígua, contando atualmente com poucos exemplares, que se agrupam diretamente sobre a rocha de arenito, exposta pela erosão secular do Planalto dos Alcantilados. O entorno é completamente ocupado por lavouras, sendo que a vegetação original era mesmo o cerrado stricto sensu.

               Pouco se conhece ainda sobre essa planta, sugerindo tratar-se de espécie nova para a ciência, ou talvez alguma população de genética singular. São plantas muito pequenas e esculturais, assumindo inúmeras delas a coloração avermelhada, enquanto outras se apresentavam com sua cor verde clara, independendo do solo que ocupavam. Posteriormente, conjecturamos se tratar de alguma forma de Dyckia areniticola, que se difunde largamente no Sul do Mato Grosso. Como em outros casos, clones dessa planta são mantido em cultivo até hoje, na coleção do Jardim Fitogeográfico, em Petrópolis, onde mantêm seu hábito miniaturizado, mostrando ser característica fixada em seu genótipo.

               É provável que ainda haja muitas outras populações de plantas como essa, isoladas em topos de castelos de arenito e afloramentos, que vão gradualmente se individualizando e, com o passar dos séculos, desaparecendo em meio ao Cerrado. Faz parte da história natural desse setor do Mato Grosso. Tudo isso será tratado no livro sobre Fitogeografia, que publicaremos ainda este ano (2015). Isso efetivamente foi feito, sendo o livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL, UMA ATUALIZAÇÃO DE BASES E CONCEITOS (NAU Editora) lançado, em 2015, abordando parcialmente este tema. Publicamos posteriormente um artigo em Ciência Geográfica ( ARTIGO BAURU ), depois de uma nova expedição à região (a ser publicada aqui no blog), em que discorremos sobre nossa tese a respeito dessa curiosa diversidade do corredor do Planalto dos Alcantilados).

Aproveite algumas dessas imagens dessa excursão, que se realizou há mais de dez anos:



Acima - a paisagem dessa região do Mato Grosso está completamente alterada pelo homem



Abaixo - Orlando Graeff posa em frente ao habitat desta espécie de Dyckia, no Mato Grosso




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