A expedição pela Argentina e Chile de 2006 prosseguiu,
partindo de Valle Fertil, em San Juan, na Argentina (ver postagem anterior),
até os Parques de Ischigualasto e Talampaya, situados muito
próximos. Ischigualasto é um parque provincial, enquanto Talampaya representa
unidade de conservação federal – Parque Nacional. As duas áreas protegidas são
contíguas e formam extenso patrimônio natural das regiões semidesérticas da
Argentina, congregando também notável reserva paleontológica e arqueológica.
A visita a esses dois parques foi uma oportunidade
fundamental para meu trabalho, uma vez que abriu extenso horizonte para a
compreensão dos próprios eventos passados de nosso território pátrio, que,
embora não contenha hoje desertos, parece já os ter tido, no Quaternário.
Entender as formas de relevo do Brasil Central, por exemplo, depende da
perfeita noção de como foram elas, um dia, expostas às descomunais forças
erosivas, que aprofundavam vales e arrasavam terras. Tudo isso pode ser
nitidamente modelado, ao se contemplar as magníficas paisagens de Ischigualasto
e Talampaya.
Melhor que estender-nos em textos será apreciar as imagens
trazidas dessa esplêndida região argentina, apondo-lhes alguns ligeiros
comentários:
Adiante: No
Parque de Ischigualasto, exibem-se claramente camadas de terrenos sedimentares
do Terciário, mais avermelhadas, que estão expostas acima das rochas
secundárias, mais velhas e de coloração acinzentada. Evidentemente, os
megaprocessos erosivos, de natureza desértica, trataram de escavar vastos vales
e exibir essas camadas geológicas, em posições invertidas
A vegetação de ambos os parques – Ischigualasto e Talampaya
– é de índole desértica e, no primeiro, ainda mais árido que o segundo, existem
superfícies conhecidas como Vale da Lua,
por serem tão estéreis, segundo as lendas populares, quanto a superfície de
nosso satélite – Abaixo
Acima - Sobre
planícies arrasadas, surgem bolotas de pedra, de forma misteriosa: são
aerólitos, pequenos fragmentos de poeira ou até insetos, que foram rolados pelo
vento inclemente da região, em passado remoto, cimentando ao seu redor a poeira
vulcânica, como bolas de neve. Posteriormente soterrados, foram englobados
pelas rochas de arenito, durante milhões de anos, para serem então novamente
expostos, em tempos recentes, depois da degradação dessas rochas.
A Seguir – No Parque
de Talampaya, podem ser admirados os mais notáveis aspectos da evolução dos
relevos desérticos, onde as formas copiam paisagens muito similares àquelas que
admiramos em todo o centro da América do Sul
Fotos anteriores
- Entre os paredões abruptos, onde dominam processos fortemente erosivos,
anda-se pelos “leitos dos rios”, que nada mais são que torrentes ocasionais,
que arrastam imensa quantidade de sedimentos e rochas. Na maior parte do ano,
estão secos e servem como estradas, no Parque de Talampaya
Abaixo – Árvores somente
podem ser observadas aos pés dessas frentes de cuestas abruptas de arenito,
onde se acumula parca umidade, que se concentra no subsolo. A observação dessas
paisagens foi fundamental para as reflexões que basearam o livro Fitogeografia do Brasil – Uma Atualização de Bases e Conceitos,
em vésperas de ir para as livrarias
Prosopis chilensis - algarrobo-blanco
Cercidium australe - brea
Acima – Aspecto de
um desses “rios” de Talampaya, em seu chamado cone de dejeção, quando ele
abandona os vales e se espraia no antedeserto. Abaixo – Paisagem da planura
desértica que envolve os Parques de Ischigualasto e Talampaya, na Argentina
A Seguir – Sinais
da presença humana, de alguns milhares de anos, em Talampaya
No bloco de rocha solta - petroglifos - acima
Acima –
Petroglifos são inscrições que utilizam o relevo para impressão nas rochas
Abaixo – Esses furos nas rochas de arenito de Talampaya são
chamados “morteros” e eram utilizados como pilões, pelos paleoindígenas
argentinos, para triturar sementes de algarrobos, com as quais se alimentavam.