Mais uma
vez, minhas viagens me levaram à Serra da Canastra, em Minas Gerais,
região que não cessa de nos brindar com surpresas e aspectos relevantes, no que
diz respeito à sua natureza. Não há dúvidas: é um destino inesgotável, quando o
assunto é fitogeográfico. Desta vez, atraiu-me o prometido florescimento da
orquídea Hadrolaelia
pumila (=Laelia pumila),
da qual havíamos descoberto nova população, em junho de 2015, quando visitamos
o Parque Nacional da Serra da Canastra
(ver postagem de maio de 2015 - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/06/uma-nova-visita-serra-da-canastra-maio.html ). Naquela
expedição, realizada em companhia de Maurício
Verboonen, encontráramos florestas protegidas, que abrigavam grande
quantidade de plantas desta espécie.
Elossandro Coelho, nosso habitual
guia e colega de excursões na Canastra, ficara de acompanhar a evolução dessas
orquídeas, nestes locais, até a emissão de botões florais, inicialmente
prevista para fevereiro deste ano. Com o forte calor do último verão e suas
fortes chuvas, o florescimento das Hadrolaelia pumila se adiantou um
pouco, havendo plantas com flores, desde janeiro. Mas, em face do estímulo
climático, a floração foi intensa e nos permitiu testemunhá-la. Foi assim que,
entre os dias 15 e 17 de fevereiro de 2016, Maurício, Elossandro e eu
mergulhamos na paisagem da admirável Serra da Canastra, presenciando e
fotografando essas belas orquídeas.
Das
observações realizadas nas florestas ciliares da Serra da Canastra, em áreas
legalmente protegidas, nos foi possível ainda anotar importantes aspectos
ecológicos sobre essas populações já raras da orquídea. Intensamente coletada,
desde muito tempo, Hadrolaelia pumila se restringe hoje a poucos fragmentos de
floresta do Parque Nacional da Serra da Canastra e esperamos que nossas
observações de alguma forma sirvam para ajudar na sua conservação, em seus
ambientes naturais.
A
seguir, a série de imagens selecionadas desta expedição, para deleite dos
leitores do blog das Expedições Fitogeográficas,
acompanhadas dos comentários:
Acima – Objeto de nosso
interesse específico, nesta expedição: a linda orquídea Hadrolaelia pumila, em
flores, na Serra da Canastra
A Seguir – A paisagem de
campos limpos sobre rochas de quartzito, entremeada de campos rupestres (campos
entre rochas), da Serra da Canastra, é recortada por corredores de florestas
ciliares, profundamente encaixadas, nas quais vegetam muitas plantas epífitas,
entre elas, a orquídea Hadrolaelia pumila
Acima
– Vista interior das florestas densas, que acompanham riachos límpidos,
tributários do rio São Francisco (Velho
Chico), no Parque Nacional da Serra da Canastra. A pujança dessas matinhas é
simplesmente inesperada, quando contempladas de fora
Abaixo
– A orquídea Hadrolaelia pumila ocorre no interior dessas florestas, em
diversos microambientes, mostrando grande capacidade de adaptação aos
diferentes gradientes de luz, embora demonstre certa preferência por algumas
árvores-suporte
Acima – A orquídea Alatiglossum
longipes (= Oncidium longipes)
também ocorre nas matinhas ciliares da Serra da Canastra e exibia suas delicadas
flores douradas, por ocasião de nossa visita
Acima – Detalhe de flores
de Hadrolaelia
pumila, num meio-fuste, no interior da floresta ciliar da Serra da
Canastra
Abaixo – Touceiras densas
de Hadrolaelia
pumila já não são mais tão comuns, após tanta pressão de coleta
criminosa. No Parque Nacional da Serra da Canastra, contudo, nos foi possível
observar uma delas, em seu ambiente preferido – a borda externa das florestas
ciliares, onde encontram condições de ventilação e luminosidade
Acima
– Uma vez induzidas ao florescimento, por força da temperatura e umidade do
alto verão, as plantas de Hadrolaelia pumila florescerão, em
qualquer condição em que lhes seja possível. Esta planta florescia
teimosamente, sobre a manta de matéria orgânica do chão úmido da floresta, onde
terminava seus dias, após cair de alguma árvore acima.
Abaixo
– Maurício admira uma planta florida, numa arvoreta tombada, na borda da
floresta ciliar
A Seguir – Orlando Graeff, empoleirado sobre os
galhos de uma das árvores-suporte de Hadrolaelia
pumila, fotografa populações da orquídea, em seu ambiente mais importante,
para sua conservação: a borda da mata ciliar
Acima – Agarradas à casca
suberosa de algumas mirtáceas, as orquídeas Hadrolaelia pumila
vegetam vigorosamente, na borda das florestas, onde encontram intensa
iluminação. Maurício Verboonen apontou se tratar tal condição essencial para a
biologia dessas plantas, por disporem de polinizadores, além de ambiente
amplamente iluminado e ventilado, que lhes permite frutificar e espalhar
sementes, em imensa quantidade, bem mais que no interior das florestas cilares.
Veja a Seguir – Notável
quantidade de cápsulas (frutos) e seedlings
(plântulas) de Hadrolaelia pumila pode ser encontrada nessas
arvoretas isoladas, fora da floresta, prometendo intenso repovoamento das áreas
um dia coletadas e sujeitas ao fogo destrutivo da Serra da Canastra
A Seguir – Nessas
arvoretas típicas da floresta estacional semidecidual de altitude, espetadas na
bordadura das matinhas ciliares, a orquídea partilha seu ambiente com algumas
outras epífitas como a bromélia Aechmea bromeliifolia. Poucas outras
plantas conseguem medrar, nessas condições críticas, onde o fogo habitualmente
se faz presente, destruindo a biodiversidade
A Seguir – Fora dessas
matinhas ciliares e suas bordas, situadas a mais de 1.200m de altitude, na
Serra da Canastra, a orquídea Hadrolaelia
pumila desaparece, cedendo lugar a outras joias botânicas, associadas a
outras paisagens igualmente deslumbrantes
Acima
– Vistosas populações de eriocauláceas, melastomatáceas, velosiáceas e
asteráceas fazem o deslumbre daquele que decidir visitar a Serra da Canastra,
nesta época do ano
Abaixo
– Detalhe de uma das inúmeras melastomatáceas de flores vistosas, que abundam
nos campos da Serra da Canastra
Acima
– Candeias e canelas-de-ema, nos campos rupestres da Serra da Canastra
Acima
– Bromeliácea do gênero Dyckia, em flores, sobre vale
profundo, na Serra da Canastra
Abaixo
– Orlando Graeff e Maurício Verboonen, em seu ambiente
predileto – a natureza – Parque Nacional da Serra da Canastra
Acima
– As chuvas nos cercavam, constantemente, no verão da Serra da Canastra. Ao
fundo, a famosa cascata da Casca D`Anta, considerada a nascente histórica do
rio São Francisco (Velho Chico)
Acima
– Bromélia Billbergia cf. zebrina, na zona agrícola e pecuária
de entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra.
Abaixo
– Surpresa na Serra Branca, numa das bordas da Canastra: em meio ao solo
pedregoso e calcinado pelo fogo recente, uma bela floração da orquídea Coppensia
varicosa (= Oncidium varicosum)
A Seguir – Maurício Verboonen posa junto a uma notável
população da eriocaulácea Paepalanthus speciosus, que Orlando Graeff fotografa, adiante
Ual que lugar magico, manter esse local intacto e fundamental.
ResponderExcluirUma palavra MARAVILHOSO!
ResponderExcluirSensacional, quando vejo tamanha beleza, logo lembro quão maravilhoso é Deus
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