Entre o final de setembro
e outubro de 2008, parti do Mato Grosso, onde me encontrava, a trabalho, na
direção da Chapada Diamantina, na extremidade da Cadeia do Espinhaço, em
território baiano. A viagem contou com a presença habitual de meu colega de
expedições Maurício Verboonen, com
quem me encontrei, em Brasília – DF, seguindo juntos pela divisa entre Goiás e
Bahia, por onde adentramos o Semiárido.
A expedição os levou pelo vale do rio São Francisco, entrando pela vertente ocidental da Cadeia do Espinhaço, em Rio de Contas. Na Chapada Diamantina, visitamos os campos rupestres, em suas diversas formas, que ali formam admirável fusão com a Caatinga. A região é um mosaico muito complexo de vegetações e estoques florísticos que se misturam, chegando de todos os lados do país. Nada melhor que um passeio fotográfico, em nosso blog, para mostrar um pouco da Chapada Diamantina:
Acima - Próximo a Mucugê, no coração da Chapada
Diamantina, erguem-se bordas escarpadas de quartzito, que funcionam como
divisores climáticos, sobre os quais vegetam plantas singulares e raras
Acima
– Na cidade de Goiás Velho, que já foi capital da província de Goiás, a casa
onde viveu a célebre poetiza Cora
Coralina é uma das principais atrações
Abaixo
– Ideia interessante ter a própria Cora
Coralina, ali na janela do velho casarão, saudando os visitantes de Goiás
Velho
A Seguir – Imagens da bucólica Goiás Velho
Acima – Eugenia dysenterica (família Myrtaceae), em meio ao casario colonial de Goiás Velho
A Seguir
– Mais traços do Brasil Colonial: Pirenópolis,
na Serra dos Pirineus, em Goiás
Abaixo
– Uma sucupira (Pterodon polygalaeflorus – família Fabaceae) característica da
interface entre o Semiárido e o Cerrado, em plena floração, no leste de Goiás
A travessia do rio São Francisco, desta vez,
foi por Bom Jesus da Lapa, uma Meca de peregrinos, que atrai milhares de
visitantes, todos os anos. É uma região de afloramentos rochosos calcários,
sedimentares e de granitoides, que marcam a paisagem da Depressão Sertaneja e
do São Francisco, zonas das caatingas
Adiante -
Entre Riacho de Santana e Livramento de Nossa Senhora, em pleno sertão baiano
do São Francisco, admiram-se paisagens catingueiras típicas, que se apresentam
endemicamente despidas de suas folhas, trazendo sensação de muita desolação.
A Seguir
– O florescimento dos belos ipês-amarelos (Handroanthus cf. ochraceus
– família Bignoniaceae) ocasiona magnífico contraste com a vegetação ressequida
das caatingas do sertão baiano
Orlando Graeff posa sob um desses ipês-amarelos
Populações notáveis de Handroanthus cf. ochraceus
Adiante -
A pequena cidade de Rio de Contas, na borda da Cadeia do Espinhaço, é famosa
por suas paisagens humanas e naturais. Durante muito tempo, foi base para os
estudos do naturalista orquidólogo Antônio
Toscano de Brito, que desvendou a família Orchidaceae da Chapada
Diamantina:
A Seguir
– Em Guiné, próximo a Mucugê, percorremos parte da famosa trilha do Paty, que atravessa vastos campos de cimeira, numa
altitude média de 1.200m. A flora apresenta diversidade ímpar, sendo relacionada com
os biomas próximos: Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga.
Acima - Velhos muros de taipa de pedra são o
que restou de antigos ciclos de ocupação dos campos de cimeira, onde pastava o
gado que abastecia os florescentes garimpos da Chapada Diamantina, entre os
Séculos XVIII e XX. Fazem lembrar paisagens similares, na Serra da Canastra
(Minas Gerais – ver: http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2013/01/serra-da-canastra-laboratorio-de-campos.html
) e nos campos de cima da serra, no Rio Grande do Sul (ver: http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2012/09/os-campos-de-cima-da-serra-e-o-canion.html
).
A Seguir – A flora dos campos rupestres da
Chapada Diamantina é muito diversificada e congrega elementos célebres por seu
caráter ornamental:
Hoffmannseggella
bahiensis – família Orchidaceae
Abaixo: Aspectos da planta, em seu
habitat, próximo a Mucugê
Abaixo – Aspectos da curiosa e
ornamental Vellozia jolyi
(família Velloziaceae), no altiplano da trilha do Paty
Acima – Tillandsia tenuifolia (família Bromeliaceae) é uma das
bromélias mais difundidas e variáveis quanto à forma, cor das flores etc. Na
trilha do Paty, elas formam densas populações, que aproveitam o ar que circula,
nas escarpas.
Abaixo – Nossa visita a Mucugê tinha
como principal objetivo observar uma das únicas populações da cobiçada orquídea
Hadrolaelia sincorana, planta
em estado crítico de conservação, na natureza. Esperávamos encontrá-la em
flores, mas a temperatura e o prolongamento da seca, naquele ano, provocaram o
atraso no florescimento. Tivemos que nos contentar em vê-las vegetando sobre os
grossos caules das Vellozia sp., à beira dos altos penhascos da
Chapada Diamantina.
Abaixo – No caminho entre Andaraí e
Lençóis, observam-se os conhecidos marimbus,
que são paisagens antrópicas – feitas pelo homem – produzidas por séculos de
atividades garimpeiras, que transformaram as áreas deprimidas no que se usa
chamar, por lá, de “pantanais baianos”, por agregarem lagoas
encarceradas do alto rio Paraguaçu e areais extensos, que são o assoreamento
dos antigos córregos.
Acima – Próximo a Igatu, a imagem
desoladora de um areal produzido pela erosão provocada nos antigos garimpos de
diamantes
A Seguir – A flora relacionada ao setor
norte da Chapada Diamantina, em torno da cidade de Lençóis, é bastante rica e
revela-se à forma de um verdadeiro jardim natural:
Acima – Cattleya elongata é uma das orquídeas mais numerosas na
Chapada Diamantina
Acima - Cottendorfia florida (família Bromeliaceae)
Acima – Cyrtopodium aliciae (família Orchidaceae)
Acima – Cyrtopodium flavum (família Orchidaceae)
Acima – Afloramentos de quatrzito,
cobertos por variada flora rupícola-saxícola, próximo a Igatu
Acima – Bromélia do gênero Hohenbergia, um dos mais ricos
em espécies, no Semiárido da Bahia
Acima e abaixo – Imagens da bromélia Orthophytum albo-pictum
A Seguir – A orquídea Sobralia liliaster é largamente difundida, desde a Amazônia,
até o litoral da Bahia, passando pela Chapada Diamantina, onde é especialmente
abundante:
Abaixo – Delicadas eriocauláceas vegetam
na areia quartzosa que se espalha entre as rochas, nas áreas de antigos
garimpos diamantíferos
Acima – Velhos amontoados de
pedras roladas dão conta da intensidade com que os garimpeiros trabalharam na
Chapada Diamantina e ocasionaram uma das maiores alterações paisagísticas no
Brasil.
Acima – Muretas em taipas de pedra
ainda podem ser vistas, em meio aos campos rupestres, carregando sobre si
abundante vegetação rupícola
Acima e abaixo – A floresta tropical reaparece,
onde a umidade é constante no solo. Nessas matas, surge flora epifítica similar
àquela das florestas litorâneas da Bahia
Acima – Lavadeiras trabalham nas
margens do rio Paraguaçu, próximo a Andaraí
Acima – Lindas begoniáceas
florescem, de entremeio às rochas ensolaradas da Chapada Diamantina
Adiante – No retorno ao Rio de
Janeiro, atravessei o alto vale do rio Jequitinhonha, em Minas Gerais, passando
pela célebre cidade de Diamantina, que era a capital dos diamantes, até o
Século XIX. O casario é esplendidamente bem conservado e permite agradável viagem no tempo.
O fogo destrói parte de uma floresta estacional semidecidual de altitude do Vale do Jequitinhonha
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