A monumental formação geológica da Cidade de Pedra, próxima
a Rondonópolis, no estado do Mato Grosso, foi visitada por duas vezes: A
primeira, em junho de 2004, foi acompanhada pelos amigos Carlos Michelini e Rogério Salles;
A segunda, em julho de 2007, contou com a presença de Maurício Verboonen, meu constante companheiro de expedições pelo
Brasil, e do amigo Sérgio Basso.
Esse admirável marco paisagístico se encontra protegido pela Reserva
Particular do Patrimônio Natural (RPPN) João Basso, pertencente à
Agropecuária Basso e congrega importantes remanescentes da natureza original
desta região limítrofe ao Pantanal.
No médio vale do rio
Vermelho, pouco abaixo da cidade de Rondonópolis, no portal do Pantanal
Mato-Grossense, a borda do Planalto Brasileiro foi intensamente erodida pela
água e pelos ventos de um passado semiárido.
O tempo e o clima
semiárido do Pleistoceno tardio operaram na escultura de uma paisagem singular,
na borda ocidental do Planalto Brasileiro, último degrau, antes do Pantanal –
Cidade de Pedra de Rondonópolis.
O ambiente muito
drenado dos arenitos da Cidade de Pedra preservou elementos florísticos que, um
dia, dominaram sob climas áridos, tais como essas bromeliáceas, que se
refugiaram no microambiente similar ao de seu passado.
As águas que se
infiltram entre as rochas se concentram no fundo dos vales, formando cachoeiras
refrescantes e de grande beleza.
A proteção
representada pelo labirinto de arenito da Cidade de Pedra já atraiu os
ameríndios, que ali viveram, há mais de 10.000 anos e deixaram sua arte
rupestre.
Abaixo - A Cidade de Pedra representa
um dos mais reconhecidos sítios arqueológicos do Brasil e vem sendo estudada
por pesquisadores, tendo embasado inúmeros trabalhos acadêmicos, mundo afora.
Adiante - Topografias
ruiniformes escavadas no arenito da borda do Pantanal caracterizam a RPPN João
Basso. Observando esta paisagem-relíquia, pode-se ter uma ideia de como as
camadas geológicas foram sendo escavadas pelo tempo.
As magníficas formações de arenito revelam o ritmo variável dos fluxos de água e dos ventos do Pleistoceno – Somando-se às diferentes resistências dessas rochas, caracterizam a erosão diferencial.
Acima - A floresta estacional
– Seasonally Dry Tropical Forest –
recobre a base dos paredões, acompanhando manchas de solos pouco mais férteis
da Cidade de Pedra.
Abaixo - Sob os imensos
paredões rochosos de arenito, surgem espaçosas “casas de pedra”, escavadas por
córregos cristalinos, onde medram florestas densas e biodiversas.
Essas formações
ruiniformes da borda do Pantanal dão a impressão de terem sido feitas pelas
mãos do homem, justificando o nome de Cidade de Pedra.
Apesar das grandes
diferenças geológicas entre as duas regiões, a Cidade de Pedra da RPPN João
Basso, em Rondonópolis, faz lembrar os arenitos de Vila Velha, em Ponta Grossa , no
Paraná.
As camadas de
sedimentos que, um dia, formaram a rocha de arenito, hoje profundamente
erodida, podem ser observadas, coincidindo em altura, entre colunas e mesetas
separadas. As diferenças entre os fluxos d’água que escavaram os imensos
monumentos determinaram sulcos laminares, nas suas paredes.
Bela cachoeira que
desce degraus de arenito, na Cidade de Pedra: Todas as suas águas correm para o
Pantanal.
Abaixo - A flora que se
esconde no labirinto de gigantescas esculturas de arenito da Cidade de Pedra
possui grande interesse para a ciência, revelando um complexo mosaico de
elementos e tipologias de vegetação, desde cerrados a semiáridos: Kielmeyera
sp. – família Clusiaceae.
A orquídea Cattleya
nobilior era um dos elementos botânicos que procurávamos encontrar, na
vegetação bem conservada da RPPN João Basso. Nesta imagem, um exemplar florido,
em julho de 2007, sobre os galhos mais altos de um cajazeiro (Spondias mombin –
família Anacardiaceae), na floresta estacional semidecidual, na base da Cidade
de Pedra.
Acima - Cattleya nobilior pode
ser encontrada em diversos ambientes da Cidade de Pedra, na RPPN João Basso, em
Rondonópolis: Nas altas copas da floresta; no cerrado retorcido; e até
diretamente fixada nas rochas. Nesta foto, um exemplar florescia na mata
ciliar, em julho de 2007.
A Seguir - Outra orquidácea
interessante da flora da RPPN João Basso é Cyrtopodium eugenii, espécie que
cresce entre as rochas, em ambiente muito bem iluminado.
Acima - O ambiente bem
iluminado dos campos rupestres da Cidade de Pedra, na RPPN João Basso, congrega
relíquias botânicas de uma flora pleistocênica semiárida, tais como os pequenos
cactos globulares: Discocactus heptacanthus.
A família botânica
Melastomataceae é representada por espécies de notável potencial ornamental,
tais como Macairea radula. - A Seguir
A Seguir - O ambiente xerofítico
dos campos rupestres da Cidade de Pedra congrega espécies características do
estrato arbustivo do Cerrado, como Cochlospermum regium, da família
botânica Bixaceae, com vistosas flores amarelas.
Abaixo - Nos solos pouco mais
profundos, em volta dos campos rupestres, surgem árvores bem mais altas, sendo
algumas delas espécies muito afins daquelas dos cerrados e campos rupestres, formando
florestas deciduais É o caso deste Cochlospermum orenocensis – Família
Bixaceae.
Flores de uma espécie arbórea de Cochlospermum orenocensis– Família Bixaceae – da RPPN João Basso, em Rondonópolis, Mato Grosso.
Abaixo - A natureza imita a
arte: Tronco de liana retorcido, no interior da floresta estacional semidecidual.
No cerrado, as
árvores desenvolvem troncos com as cascas fortemente suberificadas, com vistas
a tolerar a intensa radiação solar e o ar seco. Em tempos holocênicos, esta
adaptação tem servido para selecionar flora resistente ao fogo – Flora
pirófita.
Abaixo - Parkia platycephala (Fabaceae)
é uma árvore característica das áreas de transição entre Cerrado e Caatinga e
representa mais um elemento indicativo de passado semiárido da RPPN João Basso,
em Rondonópolis, no Mato Grosso.
Maurício Verboonen examina uma população de orquídeas (Epidendrum sp.)
Olá Orlando! Muito enriquecedores seus relatos do blog. Sou pesquisadora e estou trabalhando com filogeografia de uma espécie de Pitcairnia. Fiquei bastante interessada em visitar a RPPN João Basso, porque acredito que esta espécie que trabalho possa ocorrer lá. Você viu alguma Pitcairnia na sua expedição no João Basso ou arredores? Estou precisando de algum contato de um responsável pela RPPN, mas não encontro nada na internet. Você teria um contato para me passar? Obrigada!
ResponderExcluirPor favor, Bárbara, forneça seu email, para que eu possa tentar ajudar. Creio que não haverá problemas.
ExcluirPrezado Orlando Graeff
ExcluirSou Genivaldo Alves da Silva, micólogo, doutorando em Porto Alegre e tenho interesse pela região de Rondonópolis e a RPPN descrita por você parece incrível.
Tenho a mesma dificuldade da Bárbara, não consegui contato dos proprietários. Poderia me dizer quem contatar?
Obrigado