Nesta viagem, entre abril e maio de 2013, seguíamos as
fronteiras naturais entre florestas estacionais, florestas subtropicais de
araucárias e também a Pampa, onde já estivéramos, em 2012. A ocorrência
primitiva das araucárias já há muito ficou mascarada pela devastação que lhes
foi imposta pelo homem, assim como pelo plantio aleatório dos pinheiros, que
confundiu até mesmo os naturalistas que visitaram a região, no passado, como Saint-Hilaire, que ficou intrigado com
a ocorrência da conífera nas Missões, que hoje sabemos ser devida às mãos do
homem.
Deixando para trás as áreas planálticas muito frias da alta
bacia do rio Chapecó (ver postagem anterior), que se desdobravam acima dos
700m, atingimos o Planalto Médio do Rio
Grande do Sul, cuja altitude média é de 500m. São áreas de solos derivados
do basalto Serra Geral, assim como os altiplanos catarinenses e paranaenses, de
onde viéramos. Porém, ocupando patamar de altitude inferior, foram
primitivamente ocupadas pela mesma floresta estacional do vale do rio Paraná,
sendo hoje quase completamente abertas em lavouras de soja e grãos. Passam a
impressão de terem um dia abrigado campos, mas um exame detido de seus solos e
das vegetações remanescentes revela que florestas eram tudo o que dominava,
nesses solos profundos do Planalto Médio.
Essa floresta constitui extensão natural daquelas do Núcleo
Paraná, que podem ser vistas na Foz do Iguaçu, mais acima. Porém, no Rio Grande
do Sul, a queda pronunciada das folhas de suas árvores mais altas, durante a
estação fria, as fez ser conhecidas como florestas estacionais deciduais.
Deve-se, contudo, esclarecer que essa deciduidade se relaciona ao frio e à seca
fisiológica, pois não se registram meses ecologicamente secos, nessa área do
país (meses secos antecedidos por outros meses secos).
As matas recobriam todas as encostas, até o vale do rio
Uruguai. Hoje, porém, apenas são observadas em pequenos fragmentos vestigiais,
assim como no admirável Parque Estadual do Turvo, que abriga o Salto de Yucumã, na fronteira
argentina. Yucumã, ou Moconá, como é
conhecido do lado de lá da fronteira, representa uma falha basáltica de grande
profundidade (até 100m abaixo da superfície, segundo consta), na qual se mete o
rio Uruguai, ao longo de quase dois quilômetros. Não se pode deixar de ficar
espantado, ao ver as águas caudalosas do imenso rio Uruguai se constringirem
numa fresta exígua, de poucas dezenas de metros, sendo possível imaginar o
vulto desse cânion submerso do Yucumã.
A seguir, algumas imagens dessa região, com seus usuais
comentários:
Vista geral do Salto
de Yucumã, no Parque Estadual do Turvo – Rio Grande do Sul
Abaixo: Sobre o Planalto Médio, onde ocorrem solos férteis,
derivados do Basalto Serra Geral, com grande espessura, dominaram outrora
florestas densas, como a que se observa na imagem, próximo a Frederico
Westphalen
A Seguir: Aspectos da floresta estacional do Parque Estadual do
Turvo, na margem esquerda do rio Uruguai. Nesta época outonal, já se podiam
observar algumas árvores que são características do Núcleo Paraná das florestas
estacionais semideciduais, em estágio de perda de folhas. O frio é o fator que
acentua essa deciduidade
Acima: A
palmeira-jerivá (Syagrus romanzoffiana) é elemento muito importante na região e
ocupa praticamente todas as janelas de luz das clareiras naturais. O ecótipo é
curiosamente delgado e elevado, diferindo daquele que ocupa as cimeiras de
planaltos, a leste, na Serra Gaúcha, cujos caules são mais grossos.
Acima: Philodendron
bipinnatifidum (família – Araceae) é planta abundante, na floresta do
rio Uruguai, como também nas formações típicas do rio Paraná, a norte
Acima: A cactácea
colunar Cereus hildmanianus surge de modo característico, em curiosas
clareiras da floresta densa, que nada mais são que afloramentos da rocha
basáltica, que impedem a instalação de grandes árvores. Essa dispersão revela
passado árido
Acima: As árvores das
matas do Turvo nada mais são que as mesmas da floresta estacional semideciduais
do vale do rio Paraná, porém, apresentando acentuada queda de folhas, durante
os meses frios. O caráter decidual também se vê incrementado, nos locais onde
os solos são mais rasos, nas bordas erodidas do canal do rio Uruguai
Acima: A bromeliácea Aechmea
cf. caudata,
que ocorre na floresta do rio Uruguai, é a mesma espécie que surge na mata
subtropical de altitude, com araucárias, no alto rio Iguaçu, próximo a
Curitiba, no Paraná
Acima: Cordyline
spectabilis (família – Laxmanniaceae - sob a mata, no sub-bosque)
também é planta característica das florestas estacionais e subtropicais do
Paraná
A Seguir: Paisagem do Salto de Yucumã, vendo-se as florestas que
dominam as encostas, do lado argentino
Acima: As margens do
Salto de Yucumã são formadas por miríades de blocos fragmentados de basalto,
entre os quais surgem poucas plantas adaptadas à inundação de fortes torrentes,
durante episódios chuvosos. Arbustos de Calliandra sp. (família Fabaceae) são
os elementos de maior porte, sobre os quais crescem liquens muito decorativos
A Seguir: Uma curiosa e delicada amarilidácea é a planta mais
abundante, ao redor do Salto de Yucumã – Zephyranthes cf. fluvialis
– cujas flores amarelas balançam ao vento encanado da garganta rochosa
Abaixo: O expedicionário posa para registro de sua passagem pelo
Salto de Yucumã