Reveja outras expedições

DUAS VISITAS AOS ARENITOS DO BURACO DO PADRE – 1995 / 2019

Acima – Cachoeira do Buraco do Padre, no interior de um cânion arenítico, em forma de dolina, no estado do Paraná No dia 12 de m...

segunda-feira, 20 de maio de 2013

SALTO DE YUCUMÃ – PARQUE ESTADUAL DO TURVO – RS

                Texto revisado em dezembro de 2024


               Nesta viagem, entre abril e maio de 2013, seguíamos as fronteiras naturais entre os domínios das florestas estacionais, florestas subtropicais de araucárias e também da Pampa, onde já estivéramos, em 2012. A ocorrência primitiva das araucárias já há muito ficou mascarada pela devastação que lhes foi imposta pelo homem, assim como pelo plantio aleatório dos pinheiros-do-paraná, que confundiu até mesmo naturalistas que visitaram a região, no passado, como Saint-Hilaire, que ficou intrigado com a ocorrência da conífera nas Missões, que hoje sabemos ser devida às mãos do homem.

               Deixando para trás as áreas planálticas muito frias da alta bacia do rio Chapecó (ver postagem anterior), situadas acima dos 700m, atingimos o Planalto Médio do Rio Grande do Sul, cuja altitude média é de 500m. São áreas de solos derivados do basalto Serra Geral, assim como os altiplanos catarinenses e paranaenses, de onde viéramos. Porém, ocupando patamar de altitude inferior, foram primitivamente ocupadas pela mesma floresta estacional do vale do rio Paraná, sendo hoje quase completamente abertas em lavouras de soja e grãos. Passam a impressão de terem um dia abrigado campos, mas um exame detido de seus solos e das vegetações remanescentes revela que florestas eram tudo o que dominava, nesses solos profundos do Planalto Médio.

               Essa floresta constitui extensão natural daquelas do Núcleo Paraná, que podem ser vistas na Foz do Iguaçu, mais acima. Porém, no Rio Grande do Sul, a queda pronunciada das folhas de suas árvores mais altas, durante a estação fria, as fez ser conhecidas como florestas estacionais deciduais. Deve-se, contudo, esclarecer que essa deciduidade se relaciona ao frio e à seca fisiológica, pois não se registram meses ecologicamente secos, nessa área do país (meses secos antecedidos por outros meses secos).

                As matas recobriam todas as encostas, até o vale do rio Uruguai. Hoje, porém, apenas são observadas em pequenos fragmentos vestigiais, assim como no admirável Parque Estadual do Turvo, que abriga o Salto de Yucumã, na fronteira argentina. Yucumã, ou Moconá, como é conhecido do lado de lá da fronteira, representa uma falha basáltica de grande profundidade (até 100m abaixo da superfície, segundo consta), na qual se mete o rio Uruguai, ao longo de quase dois quilômetros. Não se pode deixar de ficar espantado, ao ver as águas caudalosas do imenso rio Uruguai se constringirem numa fresta exígua, de poucas dezenas de metros, sendo possível imaginar o vulto desse cânion submerso do Yucumã.

               A seguir, algumas imagens dessa região, com nossos usuais comentários:

Vista geral do Salto de Yucumã, no Parque Estadual do Turvo – Rio Grande do Sul



Abaixo: Sobre o Planalto Médio, onde ocorrem solos férteis, derivados do Basalto Serra Geral, com grande espessura, dominaram outrora florestas densas, como a que se observa na imagem, próximo a Frederico Westphalen



A Seguir: Aspectos da floresta estacional do Parque Estadual do Turvo, na margem esquerda do rio Uruguai. Nesta época outonal, já se podiam observar algumas árvores que são características do Núcleo Paraná das florestas estacionais semideciduais, em estágio de perda de folhas. O frio é o fator que acentua essa deciduidade


Acima: A palmeira-jerivá (Syagrus romanzoffiana) é elemento muito importante na região e ocupa praticamente todas as janelas de luz das clareiras naturais. O ecótipo é curiosamente delgado e elevado, diferindo daquele que ocupa as cimeiras de planaltos, a leste, na Serra Gaúcha, cujos caules são mais grossos.



Acima: Thaumatophyllum bibinnatifidum (= Philodendron bipinnatifidumfamília – Araceae) é planta abundante, na floresta do rio Uruguai, como também nas formações típicas do rio Paraná, a norte

Acima: A cactácea colunar Cereus hildmannianus surge de modo característico, em curiosas clareiras da floresta densa, que nada mais são que afloramentos da rocha basáltica, que impedem a instalação de grandes árvores. Essa dispersão revela passado árido

Acima: As árvores das matas do Turvo nada mais são que as mesmas da floresta estacional semideciduais do vale do rio Paraná, porém, apresentando acentuada queda de folhas, durante os meses frios. O caráter decidual também se vê incrementado, nos locais onde os solos são mais rasos, nas bordas erodidas do canal do rio Uruguai

Acima: A bromeliácea Aechmea calyculata, que ocorre na floresta do rio Uruguai


Acima: Cordyline spectabilis (família – Asparagaceae - sob a mata, no sub-bosque) também é planta característica das florestas estacionais e subtropicais do Paraná


A Seguir: Paisagem do Salto de Yucumã, vendo-se as florestas que dominam as encostas, do lado argentino



Acima: As margens do Salto de Yucumã são formadas por miríades de blocos fragmentados de basalto, entre os quais surgem poucas plantas adaptadas à inundação de fortes torrentes, durante episódios chuvosos. Arbustos de Calliandra sp. (família Fabaceae) são os elementos de maior porte, sobre os quais crescem liquens muito decorativos

A Seguir: Uma curiosa e delicada amarilidácea é a planta mais abundante, ao redor do Salto de Yucumã – Zephyranthes cf. fluvialis – cujas flores amarelas balançam ao vento encanado da garganta rochosa




Abaixo: O expedicionário posa para registro de sua passagem pelo Salto de Yucumã





Nenhum comentário:

Postar um comentário