Ao final de abril de 2013, novamente
adentrei o território das araucárias, na Região Sul, através do planalto da
alta bacia do rio Chapecó, na divisa
entre o Paraná e Santa Catarina. No altiplano paranaense, onde a altitude
suplanta os 1.300m, imperam os campos idênticos àqueles que encimam a borda da
Serra Geral, mais próximo ao litoral (ver São José dos Ausentes -http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2012/09/os-campos-de-cima-da-serra-e-o-canion.html ). Esses
campos de cima da serra vegetam sobre basaltos quase planos, tendo sob suas
raízes a rocha quase aflorante. Quando se rompe o planalto, ao sabor do avanço
erosivo da alta bacia do rio Chapecó, já em terras catarinenses, surgem as florestas
subtropicais, que medram sobre solos mais espessos, tendo as araucárias como
elemento característico.
As araucárias ou pinheiros-do-paraná (Araucaria
angustifolia – família Araucariaceae) foram intensamente explorados,
durante o Século XX, principalmente, o que em muito dificulta a interpretação
de sua verdadeira ocorrência, nas florestas originais. Essa era a minha missão,
nesta viagem: Tentar desvendar o papel ecológico dessas admiráveis coníferas,
nos domínios da vegetação subtropical brasileira. A viagem complementou
esplendidamente as reflexões anteriores, tendo circundado as áreas do Parque Nacional
das Araucárias, unidade de conservação bastante recentemente
demarcada e ainda insuficientemente implementada.
Em verdade, o território das araucárias,
que hoje se encontra englobado na Mata Atlântica, a partir do entendimento
biogeográfico oficial, comporta DUAS formações florestais interconectadas: A legítima floresta de araucárias, que
ocupa o cimo dos planaltos de basaltos da Formação Serra Geral, sob condições
de frio rigoroso; E a floresta
estacional semidecidual da bacia do rio Paraná, com sua formação de alta
encosta, que ocupa as vertentes inclinadas e enfurnadas. A interpenetração
florística entre ambas é fortíssima e mascara a necessária interpretação
distinta. Essas duas florestas se relacionam a histórias naturais
complementares, ligadas ao avanço erosivo Terciário e Quaternário e às mudanças
climáticas – principalmente Quaternárias – que vêm lentamente reduzindo as
superfícies de cimeira da velha Bacia do Paraná (bacia geológica, não confundir
com a bacia hidrográfica do rio Paraná).
Veja, nas imagens que são apresentadas a
seguir, um pouco desta nova viagem, relacionada à Expedição Fitogeográfica:
Acima: o samambaiaçu
conhecido como Xaxim (Dycksonia sellowiana – família
Dycksoniaceae), que fez história em nossa horticultura, por fornecer a
celebrada fibra, usada no cultivo de orquídeas, é um dos elementos mais
marcantes das florestas subtropicais do país
Abaixo: Entre União da Vitória e o planalto de
Palmas, no Paraná, as araucárias ocupam as bordas dos campos, debruçando-se
sobre a bacia do rio Iguaçu
A Seguir: Cortes rodoviários ajudam a explorar as
diferenças entre os solos que abrigam as florestas subtropicais da região das
araucárias e os campos de cima da serra. Mantos espessos de solos argilosos
comportam o raizame abundante das matas, que não podem vegetar nas lajes duras,
que abrigam os campos. Notar a abundância das macelas ou marcelas (Achyrocline
satureoides – família Asteraceae) floridas, na região dos campos.
Adiante: Florestas subtropicais de araucárias, no
caminho para Passos Maia, na alta bacia do rio Chapecó.
A Seguir: Nas margens do rio Chapecó, vegetam florestas
ciliares, com flora admirável, a despeito do avanço acelerado das culturas
exóticas, como o pinheiro-americano, observado ao fundo, em parte de uma das
fotos.
Adiante: Florestas estacionais semideciduais de
encostas de altitude recobrem os vales sombreados da região próxima a Passos
Maia e Ponte Queimada, em Santa Catarina, nas cercanias do Parque Nacional das
Araucárias. O pinheiro-do-paraná não vegeta de forma importante, em meio a
essas matas densas, restringindo-se às bordas planálticas, onde sua figura
monumental se destaca à distância.
Abaixo: Áreas agrícolas da região de Passos Maia, em
Santa Catarina, em meio aos domínios da zona das araucárias
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