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sábado, 30 de janeiro de 2016

URUBICI, SANTA CATARINA: CACHOEIRA DA NEVE E FLORESTAS DE XAXINS – Dezembro de 2015

Subindo a Serra do Corvo Branco (ver postagem anterior), adentramos o Planalto da Serra Geral, em Santa Catarina, onde está situada a região serrana de Urubici, uma das mais frias de nosso território. Urubici está situada a mais de 900m sobre o nível do mar. A cidade está encravada num vale agradável, espremido entre montanhas que nada mais são do que remanescentes do velho planalto basáltico da Formação Serra Geral, que foram escavados e erodidos, ao longo de milênios. O Parque Nacional de São Joaquim protege grande parte destes morros, que se elevam a mais de 1.300m e são abrigo para alguns dos últimos ecossistemas realmente preservados de araucárias e campos de cima da serra.

Em nosso livro – Fitogeografia do Brasil, Uma Atualização de Bases e Conceitos (NAU Editora, 2015), tratamos exaustivamente dessas duas paisagens contrastantes (campos de cima da serra geral e florestas de araucária), mostrando o embate entre as duas, ao longo dos últimos dois milhões de anos do Quaternário. Em Urubici, nossa meta era visitar remanescentes de florestas subtropicais de altitude, que se entremeiam às matas mistas de araucária e, em nosso ver, representam comunidades singulares e distintas daquilo que se convencionou chamar de floresta mista de araucárias. Esta última, na verdade, contém a floresta subtropical, embaixo de si, mas que poderá ser encontrada sozinha, nos vales enfurnados, onde a araucária não consegue penetrar.

Mas, vamos às imagens e, ao longo de nosso passeio, realizado em 18 de dezembro de 2015, poderemos apontar alguns aspectos dessas matas escuras e permanentemente úmidas, que fomos encontrar, admiravelmente bem conservadas, na Cachoeira da Neve, em Urubici:

Abaixo – A Cachoeira da Neve está preservada numa reserva particular e recebe este nome por causa de um curioso fenômeno, que é a formação de neve, no salto principal, em dias perfeitamente claros, quando ela não é observada em outros locais


Este curioso fenômeno, que pudemos observar em fotografias a nós exibidas pelo Sr. Hélio, proprietário da reserva, é na verdade devido à fina pulverização das águas do primeiro salto (foto acima), que resulta na cristalização das gotículas microscópicas, em forma similar à da neve. Ocorre em temperaturas próximas do zero, fazendo a “neve”acumular, na base do salto

A Seguir – Na Reserva da Cachoeira da Neve, situada em altitude média de 1.200m, encontram-se algumas das florestas subtropicais de altitude mais bem conservadas que já observáramos. Seus aspectos paisagísticos podem ser ali esplendidamente bem observados, assim como sua flora. O pinheiro-do-paraná ou araucária (Araucaria angustifolia – família Araucariaceae) praticamente não está presente, dentro dos vales, onde não consegue se propagar, por ser planta que prefere a luz intensa do alto dos planaltos.


o samambaiaçu-xaxim (Dicksonia sellowiana - família Dycksoniaceae) é um dos elementos mais marcantes dessas florestas e, em determinados trechos, forma populações quase homogêneas, com exemplares de magna altura - até sete metros







Acima – O chamado Primeiro Salto é a Cachoeira da Neve e seu perfil exibe, de forma clara, a superposição da espessa camada de basalto, por cima dos velhos arenitos (rochas sedimentares). Até cerca de meia altura, o visitante pode contemplar o arenito avermelhado e poroso, enquanto a parte mais alta do salto é formada pelo basalto escuro e coeso.
Abaixo – O segundo salto da Cachoeira da Neve está situado poucos metros acima do primeiro e, na verdade, é formado por outro curso d’água, que se une ao primeiro, algumas dezenas de metros abaixo. Percebe-se ser ele integralmente formado no basalto. Acima dele, avistam-se araucárias, que dominam o planalto, onde são senhores da paisagem


Abaixo - Sapo do gênero Bufo, na escuridão úmida da mata subtropical



Acima – A orquídea Baptistonia venusta (= Oncidium trulliferum) era uma das poucas plantas da família em flores, nesta época do ano


A Seguir – As begônias (Begonia spp. – família Begoniaceae) são de grande importância florística, dentre as plantas epifíticas da floresta subtropical de altitude, brindando-nos ora com flores atraentes, ora com folhas vistosas e coloridas




Abaixo – Linda cortina de comelináceas (provavelmente uma forma de Tradescantia cf. fluminensis) pendentes de um galho, que, por sua vez, encontrava-se repleto de bromélias Billbergia nutans, que abunda na floresta da Cachoeira da Neve


Acima – Rochas que jazem sobre o solo, produzidas por velhas rupturas das escarpas, que produziram os saltos da Cachoeira da Neve, são revestidas de bromélias Billbergia nutans, planta cujas flores são delicadamente pendentes e prometem belos espetáculos, durante a fase reprodutiva



Acima – O autor do Blog – Orlando Graeff – examina as imensas folhas da Gunnera manicata (família Gunneraceae), num dos poucos exemplares encontrados ao nível do solo. Geralmente, ocorrem encarapitadas nas frestas da rocha, como na foto a seguir, na escarpa da Cachoeira da Neve


A Seguir – A Cascata do Avencal é outro admirável salto, situado poucos quilômetros de Urubici, pela estrada para São Joaquim. Nas escarpas íngremes, podem ser contempladas intocáveis plantas, como milhares de bromélias Tillandsia streptocarpa e alguns cactos esféricos do gênero Parodia, chamados de tunas, que são característicos dos aparados da Serra geral






2 comentários:

  1. Olá...
    Passando para lhe parabenizar pelo blog e seus registros, bem como relatos de campo. Gostaria de tirar uma dúvida. Quando a passeio de carro pela Serra do Rio do Rastro podemos ver plantas de folhas enormes, será que são essas do registro: "Gunnera manicata" ??? É alguma espécie de urtiga??? Pois dá a impressão que seja, parece ser uma planta pré-histórica assim como os conhecidos "Xaxins". Áh você saberia me dizer que espécie de cactos Parodias vivem nessa região??? Pois creio ser o Paródia linkii, embora não tenha visto as fotos por aqui. No mais tudo de bom e ótimo trabalho.

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    1. Jefferson, Gunnera manicata está hoje na família que tipifica: Gunneraceae, talvez um pouco distante de Urticaceae. Realmente, parecem plantas "fora" do contexto atual. Mas, são os produtos da longa história evolutiva. No inverno, elas parecem ter sido calcinadas por algum herbicida, como diz um amigo meu, "fingindo-se de mortas", para reaparecerem imensamente belas, novamente, no início da primavera.
      Os cactos do gênero Parodia, na Região Sul, Argentina e Paraguai, merecem maiores estudos e, sim, são diversos. Na Lista da Flora do Brasil (Reflora), você poderá encontrar as espécies oficialmente listadas para os Estados, assim como nas coletas do JBRJ depositadas no Herbário (Herbário Virtual). Mas, se você resolver estudá-los, detidamente, decididamente, somente expedições aos locais poderão abrir portas.
      Obrigado pela consulta e pelos comentários.

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