Fazia mais de uma década, desde que
visitara o topo da Serra de São José, que se debruça sobre a cidade histórica
de Tiradentes, em Minas Gerais.
Segui para lá, com objetivo de observar a situação geral da flora, na linha de
cumeada deste maciço, assim como também para observar o florescimento de
algumas espécies de bromélias e orquídeas, que coincide com a primavera.
Realizei diversas excursões pela crista rochosa, sob um sol inclemente e seca
severa, que vinha se estendendo outubro adentro.
A cumeada da Serra de São José oferece
paisagens curiosas, em que se observa o encontro estratificado entre rochas
metamórficas (quartzitos) e sedimentares encaixantes (arenitos), produzindo
paisagens locais bastante movimentadas e repletas de blocos ruiniformes, que se
debruçam sobre elevados paredões íngremes. Do alto de seu extenso patamar, que
propicia longo percurso, entre verdadeiros jardins de campos rupestres, é
possível admirar os mares de morros, em meio aos quais se encontra situada a
bucólica Tiradentes.
Observe, através das imagens selecionadas,
um pouco desse admirável jardim, em meio ao qual pude passar muitas horas, a
observar os hábitos de diversas espécies de plantas adaptadas à vida dura, em ambiente
tão extremo:
A
Serra de São José – ao fundo – é moldura dominante, na região de Tiradentes, em
Minas Gerais
Acima
– Aspecto de uma velha estrada colonial, que ligava Tiradentes a São João Del
Rey, através da Serra de São José, observando-se calçamento pé-de-moleque,
implantado por mãos escravas
A seguir
– Paisagens de campos rupestres, que revestem a Serra de São José, com suas
diversas fisionomias, desde campos sobre
rochas a campos entre rochas,
além de florestas e cerrados miniaturizados pelo clima áspero e pelo fogo
endêmico, que vem regularizando a vegetação, há séculos
A
seguir – Restos semidecompostos de arenitos, muito friáveis, jazem sobre
afloramentos rochosos, exibindo aspecto ruiniforme, que lembra fortificações
primitivas, por vezes se assemelhando a formas animadas. Entre eles e SOBRE
eles, vegetam inúmeras orquídeas, bromélias, cactáceas e aráceas curiosas,
tirando partido de microambientes particulares
A
seguir – Uma arvoreta decorativa domina
a paisagem, surgindo ora como elemento arbóreo propriamente dito, em meio aos
campos, ora como arbusto intersticial, em fendas de rochas, no topo da Serra de
São José (Eremanthus cf. glomerulatus – família Asteraceae)
Acima
e Abaixo – Justicia riparia (família Acanthaceae) se adapta
esplendidamente, desde as matinhas úmidas, no pé da serra, próximo a fios d’água,
até na capoeira ressequida dos campos rupestres, na crista das montanhas
Acima
– Bromelia
sp. (família Bromeliaceae), na beira da velha trilha dos escravos
Adiante
– O maior espetáculo da Serra de São José, neste início de primavera, era mesmo
a vistosa floração da orquídea rupícola/saxícola Cattleya pabstii (outrora
pertencente aos gêneros Laelia e Hoffmannseggella), cujas populações já
foram drasticamente reduzidas pelo fogo e pela coleta criminosa, para
finalidades comerciais
A
variação de hábitos e microambientes de Cattleya pabstii, na Serra de São
José, é simplesmente notável, vegetando desde em meio a massas de velosiáceas
densas, até sobre a rocha quente e ressecada, passando por depósitos de areia e
matéria orgânica, Semp[re sob sol pleno
A
seguir – Outra espécie notável, que se apresentava em flores, no alto da Serra
de São José, era a bromélia Dyckia argentea, cujo aspecto
cinéreo e escultural agradava muito, quando contrastando com suas
inflorescências alaranjadas e vistosas
Adiante
– Algumas paisagens do alto da Serra de São José
Acima
– Linha de cumeada, no rumo de Prados
Acima
– A cidade de Tiradentes, com a igreja Matriz de Santo Antônio em destaque
(abaixo)
Adiante
– Aechmea
distichantha é uma das bromélia tanque-dependentes que sobrevive no
alto da Serra de São José
A
seguir – Outra bromélia tanque-dependente da Serra de São José é a variedade “cuspidata”
de Aechmea
nudicaulis, que é bastante singular, na paisagem rochosa, da qual se
destaca, pelo encarnado vivo de suas inflorescências
Acima
– A discreta bromeliácea Cryptanthus tiradentesensis medra em
frestas de rochas, por vezes sob restritos “oratórios”, em que se protege da
radiação extrema da Serra
Acima
– Assembleias de plantas extremamente adaptadas formam associações
especializadas, que convivem perfeitamente, tirando partido da ambientação
mútua: Arthrocereus melanurus (Cactaceae), Dyckia argentea
(Bromeliaceae) e Vellozia sp. (Velloziaceae)
Acima
– Arthrocereus melanurus (Cactaceae)
Acima
– Orquídeas teretiformes extremamente resistentes à radiação solar, vegetando
sobre blocos expostos, na Serra de São José (Acianthera teres)
A
seguir – Efeitos nocivos do fogo, na Serra de São José: gradual empobrecimento
da flora – algumas espécies adaptadas tiram partido da destruição massiva,
ocasionada pelas chamas cíclicas, passando a dominar a paisagem
Acima
– Hatiora
salicornioides (cactaceae) esconde-se no abrigo entre duas rochas,
escapando do fogo cíclico e da dessecação invernal
Acima
– Decorativos Paepalanthus planifolius (Eriocaulaceae), em áreas saturadas de
umidade
Que delícia de "trabalho" :)
ResponderExcluirOlá. Adorei as fotos da Serra de São José que frequento desde 1986. Gostaria de saber se tens uma boa foto do fruto de Arthrocereus melanurus de lá. As minhas estão em 8000 slides 35mm e mofando. Mui Grato, Ruy do Museu Nacional.
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