Acima –
Inflorescências da bromélia Tillandsia barrosoae, espécie
endêmica da Serra dos Pirineus
Durante uma visita ao Herbarium Bradeanum (HB), no Rio de
Janeiro, em agosto de 1997, o pesquisador Walter
Till, do Instituto de Botânica da Universidade de Viena, na Áustria,
deparou com algumas bromeliáceas do gênero Tillandsia
ali depositadas, que haviam sido coletadas anos antes (1967) pela Professora Graziela
Maciel Barroso e que carregavam uma identificação feita por Lyman
Smith – Tillandsia lorentziana. W. Till percebeu que tal identificação era
equivocada e que a planta pertencia a outro grupo de Tillandsia, relacionado a Tillandsia
didisticha, cuja área natural de ocorrência girava ao redor da fronteira
entre Brasil, Paraguai e Bolívia, bem longe do local onde Dona Grazi coletara
os espécimes depositados – Serra dos Pirineus, Goiás.
Essa bromélia foi publicada como uma nova espécie para a
ciência, em 1998, na Revista Bromélia, da Sociedade Brasileira de Bromélias-SBBr, tendo sido batizada por
Till como Tillandsia barrosoae, em homenagem merecida a sua coletora, já
então considerada a mais importante botânica da América do Sul. Poucos anos
depois, em 2001, eu visitaria uma parcela da área de ocorrência dessa planta,
próximo a Pirenópolis, em Goiás, tendo sido, contudo, uma passagem muito
rápida. Retornando então do Mato Grosso, em março de 2018, intuí que as
encontraria em flores, o que me levou a desviar um pouco minha rota, até a
região, na esperança de fazer registros fotográficos e de investigar um pouco
melhor a fitogeografia da Serra dos Pirineus.
Não as achei floridas, mas não deixei de aproveitar tão bem
a oportunidade de examinar seu habitat e averiguar seu status de conservação,
além da flora a ela associada, que é bastante singular. Tillandsia barrosoae é
espécie endêmica da Serra dos Pirineus, não sendo muito ampla sua área de
ocorrência, mesmo dentro do próprio maciço rochoso quartzítico, relacionado ao
Arco da Canastra - Brasília, uma disjunção metamórfica da extensa Serra do
Espinhaço, que abriga os domínios dos Campos Rupestres.
Veja a seguir os aspectos comentados desta excursão
memorável:
A seguir – A Serra dos Pirineus é encimada por afloramentos de
quartzito, que sugerem ser resultado de velhos desnudamentos erosivos do Arco
da Canastra – Brasília, afetados por fases de diaclase, o que produz paisagens
rochosas muito difíceis de serem examinadas. Fendas e profundos espaços
acarretam risco de vida ao excursionista, mas ajudam a preservar Tillandsia
barrosoae, em pontos onde as mãos não alcançam
Acima – Tillandsia
barrosoae é uma bromélia essencialmente litofítica. Nenhum exemplar
sequer podia ser observado fora deste substrato, mesmo tendo Tillandsia streptocarpa vegetando lado a
lado, sem que uma se misturasse à outra
Acima – Alguns exemplares
de Tillandsia
barrosoae se escondem em frestas, ou sob extensões dos quartzitos
Acima – Ameaçadores amontoados
de rochas parecem ter sido dispostos por mãos humanas. Tillandsia barrosoae
vegeta sobre a superfície dura das pedras, tolerando variações diurnas de
temperatura e umidade que outras plantas não suportariam
Acima – A pequena e
brava bromélia litofítica mostra sinais de renovação de sua população, sendo
encontrados exemplares jovens, lado a lado com outros adultos, nas mais
diversas fases de desenvolvimento – a COLETA CRIMINOSA, para fins comerciais, assim
como para coleções particulares, parece ser seu principal inimigo atual
A seguir – Algumas outras plantas características dos afloramentos
rochosos do Centro-Oeste fazem companhia a Tillandsia
barrosoae, sendo as mais notáveis: Aechmea bromeliifolia
(Bromeliaceae), Pilosocereus vilaboensis (Cactaceae) e diversas espécies de Vellozia
spp. (Velloziaceae). Arvoretas como Clusia criuva, Clusia burchellii
(família Clusiaceae) e Schwartzia adamantium (família
Marcgraviaceae) formam a maioria do estrato dominante
Acima – Portentosos exemplares
da bromélia Aechmea bromeliifolia vegetam sobre patamares de rocha, embora
também habitem galhos e troncos, em meio às arvoretas
Acima – A delicada
orquídea Bulbophyllum epiphyticum também aparece, ora crescendo sobre
galhos e troncos, ora vegetando nas frestas da rocha, junto de Tillandsia barrosoae
Acima – A gesneriácea
Sinningia
aggregata, com corpulentos tubérculos, é comum na flora da Serra dos
Pirineus
Acima – Delicadas flores
alaranjadas de Alstroemeria cf. viridiflora (família
Alstroemeriaceae), nos rochedos da Serra dos Pirineus
Adiante – Os cladódios do cacto Pilosocereus vilaboensis
são espetáculo à parte, na paisagem dentre as rochas da Serra dos Pirineus,
exibindo formas esculturais ou formando elegantes conjuntos
Abaixo – A micropaisagem formada por emaranhados de troncos e
galhos de elegantes arvoretas confunde os olhos, sendo por vezes difícil
discernir o que são plantas do que são pedras
A Seguir – O substrato geral, ao redor dos afloramentos rochosos, é
mesmo de litossolos ou amontoados clásticos, onde a pedra quartzítica é o
elemento mais marcante. A vegetação que se expressa é aquela conhecida como cerrado rupestre de altitude, podendo
abrir espaço a campos sobre rochas, campos entre rochas (campos rupestres) e
outras intergradações, nas quais a flora é mesmo do Cerrado
Acima – Na borda de
afloramentos, observam-se arvoretas de Mimosa regina (família Fabaceae),
agrupadas em populações quase homogêneas e espetadas na pradaria aberta
Acima – Elegante exemplar
da melastomatácea conhecida como papiro (Tibouchina papyrus), que se diz ser um
dos símbolos de Pirenópolis
Acima – Aspecto de
complexo de campos sobre rochas (um campo úmido), observando-se exemplar da
pequena palmeira acaule Butia archeri, em meio à macega
Acima – A linda
voquisiácea Vochysia rufa, com suas flores amarelas-douradas, contra a
paisagem de cerrados abertos
Acima – A orquídea Epistephium
sclerophyllum prefere as bordas ensolaradas dos canais dos riachos
cristalinos, vegetando acima da floresta ciliar
Acima – Uma das
dezenas de cachoeiras que surgem em meio à paisagem de cerrados rupestres e
campos de cerrado da Serra dos Pirineus
Acima – Interior da
floresta ciliar, ao redor de um poço de águas cristalinas da Serra dos Pirineus
Acima – O autor Orlando Graeff examinando exemplar da
bromélia Dyckia cf. weddelliana, em meio ao cerrado
rupestre de Pirenópolis
Abaixo – Paisagem campestre da Serra dos Pirineus, destacando o
famoso Morro do Cabeludo, forma de rochedo testemunho de quartzito, que marca a
área mais elevada do Parque Estadual dos Pirineus, a mais de 1.300m de altitude
Agradecimento – ao meu guia Paulo Padilha, que me
conduziu com segurança a todos os ecossistemas da Serra dos Pirineus
PRÓXIMA POSTAGEM – CONHECENDO AS CACHOEIRAS
DO DRAGÃO, NA SERRA DOS PIRINEUS
Na minha região tem uma tillandsia parecida com a barrosoae.como eu faz saber qual a espécie?
ResponderExcluirSe você poder entrar em contato 38 999777754 posso te mostrar fotos
ResponderExcluirQue fotos maravilhosas <3, ADOREI os registros :)
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