O litoral uruguaio é um conjunto de
paisagens singulares, onde o oceano revolto explode contra praias semisselvagens
e pontões rochosos de granito rosa, tendo em frente a si as mais admiráveis
paisagens da Pampa Meridional: Fazendas de extensas pastagens verdejantes, nos
quais pastam rebanhos do mais puro gado europeu. Durante um pequeno período de
verão, localidades como Punta Del Leste – o mais famoso balneário uruguaio – La
Paloma e alguns outros chegam a ficar repletos de veranistas, que aproveitam a
janela de calor e sol. Nesta época do ano, em que por ali passamos, em nossa Expedição Fitogeográfica 2012 (24 e 25
de setembro), a região costuma estar bem vazia, tendo sido esta exatamente a
intenção, de forma a não concorrermos com o turismo, em nossas atividades
científicas.
Não contávamos, evidentemente, com a forte
frente fria que se deslocou tardiamente da Antártida e avançou sobre Uruguay e Brasil,
chegando a produzir neve na região dos campos de cima da serra, de onde
viéramos, dias antes. O agradável Hotel
Jardim Oceânico, em La Coronilla, que se tornou a sede de nossas
atividades, enquanto examinávamos as paisagens naturais da região,
transformou-se num abrigo invernal, com a lenha queimando nas lareiras de seu
amplo salão, produzindo ambiente alpino e fazendo-nos esquecer, ao lá dentro
estarmos, que nos encontrávamos poucos metros distantes do Oceano.
As andanças pelos campos e morros, ao redor
da Laguna Negra, onde se concentravam nossos interesses, se transformaram em
penosas atividades, sob temperaturas que variavam de 6oC e 8oC
e ventos cortantes, que dificultavam sequer a produção de imagens, fora do
automóvel. Chuvas ocasionais se alternavam a momentos de céu claro e a sensação
térmica era negativa. Mas, como não poderia deixar de ser, tivemos sucesso, uma
vez mais, na observação e interpretação das paisagens botânicas dessa região
limítrofe ao Rio Grande do Sul, na qual encontramos importantes informações
sobre os ecossistemas relacionados à Pampa – como temos preferido nos referir ao
curioso bioma dos campos sulinos, assim, no feminino, como é tratado no
cancioneiro nativo.
Veja a seguir algumas imagens que dão conta
dos cenários do litoral uruguaio, sempre imaginando como foram elas obtidas,
debaixo do rigor do vento Minuano, que tem grande responsabilidade na origem de
seus cenários:
A Seguir – As áreas mais
deprimidas, ao redor da Laguna Negra, exibem campos sobre solos saturados de
umidade e até mesmo áreas pantanosas, onde se abrigam aves as mais diversas.
Seu mais admirável habitante é mesmo o cisne do-pescoço-negro, que forma bandos
numerosos.
Abaixo – O lento processo
de assoreamento e eutroficação dos banhados, de entremeio às colinas
arredondadas de La Coronilla e Laguna Negra, é capitaneado por vastas
populações de ciperáceas (Cyperus sp.), que toleram o ambiente
encharcado.
Adiante – Qualquer elevação
do terreno, onde as árvores consigam meter suas raízes, acima do lençol
freático suspenso da Pampa, permite o surgimento de florestas subtropicais. Não
há dúvidas de que outrora essa região era composta por mosaicos complexos de
vegetações abertas e florestas subtropicais. Hoje, torna-se difícil sua
interpretação – Mas não há como negar o legado decisivo das ações humanas.
Cerros
(como são chamadas as serras montanhosas no Uruguay) de matacões rochosos se
elevam até mais de uma centena de metros, numa região em que as altitudes giram
monotonamente ao redor dos 15m. Nessas morrarias, medram florestas
subtropicais, com arranjos florísticos bastante particulares, apesar de muito
alterados pelo homem.
Abaixo – Tillandsia
aeranthos foi a única bromeliácea epífita observada nessas matinhas
enfezadas de La Coronilla.
A Seguir – Os lendários
palmares de butiás (Butia odorata) são indubitavelmente a paisagem botânica mais
admirável da região da Laguna Negra. Paira certo caráter enigmático em torno de
tão vastas populações homogêneas de palmeiras, espetadas sobre os campos de
solos saturados de umidade dessa parte do Uruguay. Não se pode ter dúvidas, no
entanto, de sua origem antrópica e associada ao pastoreio do gado – Não existem
plantas jovens nas áreas de pastagem, somente surgindo fora dos aramados, onde
escapam do gado.
Acima - Ema solitária na Pampa
Abaixo – Aspecto de uma canhada – como são chamados os pequenos
cursos d’água que cortam serenamente os campos sulinos. As florestas ciliares
nos mostram bastante sobre a flora da região.
Acima - A
Fortaleza de Santa Teresa remonta ao período colonial, quando Portugal e
Espanha disputavam as terras que hoje pertencem ao Uruguay. O granito rosa, de
que é feito, agregou-se de linda camada de liquens que o tornaram amarelado,
chamando atenção à distância.
Abaixo – Fragmentos da
vegetação subtropical litorânea ainda podem ser admirados, próximo à Fortaleza
de Santa Teresa, sendo hoje raros, pela intensidade da exploração florestal,
cujo principal elemento produtivo é o eucalipto.
A Seguir – O Mar revolto briga
incessantemente com os afloramentos de granito rosa que, terra adentro, abrigam
excepcionais regiões vinícolas.
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