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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

SUBINDO A GRANDE BARREIRA DA SERRA GERAL – SANTA CATARINA AO RIO GRANDE DO SUL


               Não poderia existir barreira similar à Serra Geral, no tocante à história política do Brasil Meridional. Estendendo-se por centenas de quilômetros, na forma de um quase intransponível paredão de basalto, a Serra Geral serviu para realçar episódios importantes da história do país, como foi o caso da célebre retirada de Anita Garibaldi, que escapou do cerco imperial a Laguna, no litoral de Santa Catarina, dirigindo-se para o Rio Grande do Sul, para se reunir às forças revolucionárias de Bento Gonçalves, na primeira metade do Século XIX. Galgando a duras penas os penhascos instáveis da Serra Geral, Anita chegou aos campos de cima da serra, após duras provações, nas quais esteve perto de perder a vida, pelas trilhas que então só eram conhecidas por alguns poucos tropeiros e índios.

               Hoje em dia, já não se enfrentam semelhantes agruras, para subir a linda Serra Geral, que é cortada por diversos roteiros rodoviários bem transitáveis, tais como a estrada da Serra do Rio do Rastro, que liga os municípios carvoeiros de Santa Catarina à região de São Joaquim, no Planalto Catarinense. Como seria de se esperar, os soberbos paredões da Serra Geral dividem duas regiões ecológicas notavelmente contrastantes: A zona da Mata Atlântica Catarinense, onde nos encontrávamos, junto ao litoral; E os campos de cima da serra e a Araucarilândia do Brasil Meridional. O termo Araucarilândia foi emprestado por nós de Frederico Carlos Hoehne, célebre naturalista da primeira metade do Século XX, que a percorreu em suas expedições, entre São Paulo e Paraná. As florestas mistas de araucárias (Araucaria angustifolia – família Araucariaceae) constituem formação marcante nessa região, talvez muito mais do que os campos de cima da serra, que eram nosso principal objetivo, nesta fase da Expedição Fitogeográfica 2012.

               Nosso objetivo seria percorrer grande parte dos campos de cima da serra, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o que faríamos após atingir o altiplano catarinense, através da Serra do Rio do Rastro, já nossa velha conhecida, deixando para trás as colinas arredondadas da zona da Floresta Atlântica Subtropical, aos cerca de 100m de altitude, no máximo, para adentrar a Araucarilândia, em Bom Jardim da Serra (SC), por volta dos 1.400m. Não se pode deixar de imaginar, ao ascender pela estrada íngreme e cheia de curvas vertiginosas da Serra do Rio do Rastro, as aventuras vividas por Anita Garibaldi, quase duzentos anos atrás. Os cenários são estonteantes e a flora, nosso interesse maior, é bastante particular.

               Quando não se encontram desnudos e verticalmente inclinados, os paredões rochosos de basalto puro podem estar revestidos por uma floresta em miniatura, composta por árvores enfezadas, duramente fustigadas pelo vento cortante que assola a vertente. Porém, serão suas plantas arbustivas e herbáceas os elementos mais atraentes ao naturalista: Gesneriáceas, bromeliáceas, orquidáceas, aráceas e o mais curioso e característico de seus elementos – A planta Gunnera manicata (família Gunneraceae), com imensas folhas recortadas, que medra nas festas de pedras, em meio às cascatas e fios d’água que jamais cessam.

               A partir de Bom Jardim da Serra, acompanhamos o trajeto dos campos e pinheirais, até atingir a região de São José dos Ausentes, já no estado do Rio Grande do Sul, onde visitaríamos o cânion de Montenegro e o pico do mesmo nome, que representa o ponto mais elevado do estado. Mas, isso ficará para a próxima postagem. Confira algumas imagens desta subida da Serra Geral:



Abaixo – Ainda na baixada catarinense, surgem os admiráveis contrafortes da Serra Geral, gigantesca muralha de basalto, sobre a qual se estendem os domínios dos campos de cima da serra e da Araucarilândia do Brasil Meridional.




Acima – Os aparados da Serra Geral são imensas escarpas originadas pela erosão, que caminha do oceano para o Planalto Catarinense e Gaúcho. Neste trecho, encontram-se as camadas mais espessas dos basaltos da Formação Serra Geral, a mais extensa extrusão de lavas básicas do Planeta. As camadas podem suplantar os mil metros de espessura, entre RS e SC, de frente para o mar.
Abaixo – Pontão rochoso resultante da erosão diferencial, na meia encosta da Serra Geral.



A seguir – Miríades de rachaduras e frestas nas rochas íngremes, além de depósitos de solos litólicos, retidos na encosta, abrigam florestas em miniatura, na Serra Geral. Redes de fios d’água escorrem do altiplano, favorecendo flora diversificada e delicada, que se agarra às pedras.



A seguir – Delicadas flores de asteráceas (=compostas) alegram as rochas, tirando partido da luz solar que vem do leste pela manhã.


Abaixo – Gloxínias do gênero Sinningia (família Gesneriaceae) abundam entre os musgos que recobrem as rochas úmidas.



Acima – Centenas de fios de água cristalina escorrem pelos paredões de basalto íngreme, favorecendo o surgimento de flora diversificada e de grande interesse botânico, nas escarpas da Serra Geral.
Abaixo – Vista geral da Serra do Rio do Rastro, no caminho de São Joaquim, em Santa Catarina: A estrada serpeante parece difícil e perigosa, mas não se compara aos tempos em que essa subida nada mais era que uma trilha tropeira, cheia de sumidouros e riscos.


Adiante – Aspectos da curiosa Gunnera manicata (família Gunneraceae), uma planta bastante ornamental, que vegeta nas frestas úmidas dos basaltos da Serra Geral.




Abaixo – Paradoxo fundamental, que estávamos ali para estudar: Sobre os planaltos horizontais da Serra Geral, vegetam campos limpos; Enquanto as florestas lutam para se fixar nas encostas íngremes, logo abaixo. A condição dos solos é soberana, para explicar tão curiosa inversão, como pretendemos mostrar detalhadamente, em nossa obra sobre a Fitogeografia do Brasil, em fase de conclusão.



A seguir – Os desafios do transporte, nas encostas íngremes da Serra Geral.


Adiante – Aspectos pitorescos dos campos de cima da serra, nos quais adentramos, através de Bom Jardim, no rumo de São José dos Ausentes.









Acima – Polêmicos sistemas de geração de energia eólica, sobre a paisagem dos campos de cima da serra. Fica a pergunta: Com o crescimento contínuo da demanda, estaremos fadados a ter nossas inteiras paisagens cobertas de estruturas como essa? Tomara que não!

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