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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

ESQUEL – ARGENTINA: PARQUE NACIONAL LOS ALERCES – 2008

A expedição pela Patagônia Argentina e Chile chegou a seu ponto mais austral, quando chegamos a Esquel, em território argentino, de onde atingiríamos a Parque Nacional Los Alerces, situado às margens do Lago Futalaufquen, no Distrito das Selvas Temperadas, nas quais o frio exerce influência bem determinante. Nosso principal objetivo, nesta visita, era encontrar e contemplar de perto os lendários e milenares alerces (Fitzroya cupressoides – família Cupressaceae), que são alguns dos seres vivos mais velhos do nosso planeta.

Os alerces são árvores agigantadas, pertencentes à mesma família de coníferas em que estão os ciprestes-da-cordilheira (Austrocedrus chilensis) e os ciprestes-das-guaitecas (Pilgerodendron uviferum), que costumam dividir espaço com essas árvores milenares. Fornecendo bela madeira, com tonalidades entre o amarelado-castanho e o rosado, os alerces foram massivamente explorados, dos dois lados dos Andes, até quase a extinção. Não se tinha ideia de sua antiguidade, até que os cientistas descobriram que seu crescimento era extremamente lento, acumulando apenas entre 0,8mm e 1,2mm por ano, o que fazia algumas dessas belas árvores remontarem a mais de 3.000 anos.

Hoje, são árvores protegidas e dividem com as sequoias, suas parentes próximas norte-americanas, o posto de seres vivos mais longevos da Terra, embora não atinjam o porte monumental daquelas. Não havíamos tido sucesso, em nossas investidas atrás dos alerces, em solo chileno. Agora, na margem mais distante do Lago Menendez, fazíamos nossa derradeira tentativa de nos aproximar deles, exatamente no Parque Nacional Los Alerces.

O Parque Nacional Los Alerces fica situado na vertente argentina dos Andes, muito próximo a Esquel, numa altitude inicial de seus 520m, onde estão situados os lagos Futalaufquen e Menendez, que circundamos, até uma rápida embarcação, que nos levou até a reserva de alerces, na extremidade mais ocidental do segundo. Fiquem com os comentários sobre esta bela excursão e sobre a natureza de Esquel, nas imagens a seguir:

Abaixo – O alerce (Fitzroya cupressoides) é um dos seres vivos mais velhos do planeta. Por seu porte e pela qualidade de sua madeira, esteve à beira da extinção, sendo hoje protegido, no Parque Nacional Los Alerces


A Seguir – Belas enseadas e paisagens paradisíacas atraem turistas para o Parque Los Alerces, durante o verão austral, que dura pouco. Os lagos Futalaufquen e Menendez, principais pontos turísticos de Esquel, são inteiramente circundados por picos nevados e glaciares, que tornam a paisagem única




Abaixo – Durante a navegação do Lago Menendez, é possível apreciar o Glaciar Torrecillas, que mostra perfeitamente a geomorfologia dos vales formados por geleiras, com seu formato em U e a formação de um imenso cone de dejeção, ao pé do glaciar, que tem aspecto de moraina. Embora muito pequeno e visivelmente em retração, por conta do aquecimento do clima geral, este glaciar permite uma excelente interpretação do fenômeno das geleiras e como elas trabalham o relevo.



Adiante – Aspectos do rio Arrayanes, que interliga alguns dos diversos lagos do Parque Los Alerces, com suas águas límpidas, circundado pela densa floresta temperada, na qual se abrigam fagáceas e coníferas, entre elas os alerces.




A Seguir – Por entre túneis de bambus nativos (Chusquea sp.), atinge-se a mais esplêndida população de alerces do Parque. Praticamente só existem exemplares velhos e portentosos, quase inexistindo plantas jovens dessa espécie, o que faz pensar em condições pretéritas que favoreceram a conífera, talvez pelo meio do Holoceno, até alguns milhares de anos atrás.











Acima – Pedaços de madeira de alerce, raramente vista, pela sua raridade. Estes fragmentos eram provenientes de um velho alerce, que tombara sobre a trilha, sendo cortado pelos funcionários do Parque

Acima – Orlando Graeff posando ao lado de um velho exemplar de Fitzroya cupressoides


Abaixo –Águas límpidas do Lago Menendez, próximo aos alerces


quarta-feira, 10 de agosto de 2016

A CORDILHEIRA DOS ANDES, NA PATAGÔNIA ARGENTINA – JANEIRO DE 2008

Após termos cruzado de volta a Cordilheira dos Andes, do Chile, para Villa La Angostura, na Argentina (ver postagens anteriores), contornamos o imenso Lago Nahuel Huapi, com a cidade de Bariloche, na margem oposta, onde fizemos alto, por um dia, e seguimos mais ao sul. Nosso objetivo seria a minúscula Esquel, de onde pretendíamos visitar o Parque Nacional Los Alerces, na margem do Lago Futalaufquen.

O contorno do Lago Nahuel Huapi é revelador, para quem quiser entender o mosaico de paisagens relacionadas à Cordilheira, na Patagônia: situada na cota dos 770m, a grande bacia deste lago, que já comentamos anteriormente, está situada numa seção dos Andes, na qual diversos vales longitudinais e extensas bacias alongadas se interdigitam com o território chileno. Por isso, ali na Patagônia, existem diversas passagens entre os dois países, ao contrário da região de Mendoza, mais ao norte, onde a barreira do Aconcagua separa rigorosamente a Argentina do Chile (veja expedições de 2006, neste blog - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/08/mendoza-e-os-andes-argentinos-2006.html).

Na travessia do Aconcagua (Cristo Redentor), as altitudes atingem mais de 7.000m, sendo feita a passagem rodoviária acima dos 3.800m. Na Patagônia, onde estávamos nesta expedição, a travessia internacional se dá pouco acima dos 1.200m. Assim, é de se imaginar que os climas das duas vertentes da Cordilheira guardem similaridades, embora a face chilena seja perúmida (com precipitações da ordem de 2.000 – 3.000mm/ano) e o semideserto argentino, a leste, se apresente marcado por extrema aridez (inferiores a 200mm/ano). Próximo à Cordilheira, no entanto, as diferenças são mais sutis, como a saber.

Observando a Cordilheira, de leste para oeste, como passamos a fazer, seguindo-a para o sul, é possível observar claramente as manchas de vegetação, do topo à base: nas cumeadas e cimos, estão as áreas endemicamente cobertas pela neve (algumas ainda mostram neves perenes), sendo marcadas pela rocha nua, ou tênues pradarias; pouco abaixo, como se fossem plantadas, aparecem florestas andino-patagônicas de altitude, notadas pelo verde escuro de seus ciprestes e fagáceas; mais para baixo, nas zonas aonde conseguem chegar as ondas de umidade, que conseguem atravessar a barreira montanhosa, vindas do Oceano Pacífico (Chile), espalham-se matas mistas de fagáceas de zonas mais baixas e ciprestes, permeadas por maiténs e outras árvores menos tolerantes aos limites da neve; abaixo disso e se estendendo Argentina adentro, através do grande deserto central, surge a típica vegetação arbustiva rala, até chegar a apresentar solo nu ou parcamente revestido de moitas duras.

É desconcertante notar que, na mesma latitude em que viajamos por semidesertos ou florestas ralas e ressequidas, do lado argentino, estaríamos em meio às mais viçosas florestas subtropicais, no lado chileno. Veja as imagens que mostram essa passagem e contorno de Bariloche, no rumo de Esquel:


Acima – A famosa cidade turística de Bariloche pode ser avistada de longe, da outra margem do extenso Lago Nahuel Huapi, que mostra água azul escura, por conta de sua grande profundidade (centenas de metros)


Acima – Nosso carro parado à beira da estrada, ao largo de Bariloche, sendo possível enxergar um pouco da sequência de vegetações patagônicas, que se devem à combinação da umidade e dos solos.


Acima – Águas cristalinas advêm das montanhas geladas da Cordilheira, principalmente do derretimento da neve. Esses lindos rios encachoeirados vão desaparecendo, na medida em que escorrem pelo planalto argentino, sobre zonas desérticas, onde se transformam em canais mortos, durante boa parte do ano, alguns deles jamais atingindo o Atlântico.


A Seguir – Sequência de imagens das cumeadas andinas, a caminho do sul da Argentina, sendo possível observar a relação direta das vegetações com as zonas por onde a umidade do Pacífico consegue atravessar a Cordilheira.





Acima – Nesta foto, assim como observáramos em nossa chegada aos Andes, por San Martin de Los Andes, algum tempo antes (ver postagem), observa-se o contraste entre a vegetação rasteira e muito rala do planalto desértico argentino e a Cordilheira, ao fundo.


domingo, 7 de agosto de 2016

PARQUE NACIONAL LOS ARRAYANES – VILLA LA ANGOSTURA – ARGENTINA – 2008

Baseado em Villa La Angostura, na margem do Lago Nahuel Huapi, Patagônia Argentina (ver postagem anterior), saí para uma caminhada solitária de cerca de 12km pela selva andino-patagônica, em janeiro de 2008. Essa longa e proveitosa excursão, partindo do pequeno vilarejo, atravessou a Península de Quetrihué, que avança sobre o imenso Nahuel Huapi e abriga o Parque Nacional Los Arrayanes. Esse nome curioso se deve a uma notável população dessa árvore patagônica – arrayán (Luma apiculata – família Myrtaceae) – que existe na extremidade da Península de Quetrihué.

Os arrayanes são árvores encontradiças, ao largo das florestas andino-patagônicas, tanto na Argentina quanto no Chile, principalmente em terras mais baixas e próximo aos grandes lagos andinos. Contudo, são consideradas plantas relativamente raras e, nesta península, existe uma grande quantidade dessas belas árvores, formando populações quase puras, em determinados trechos. Trata-se de algo pouco comum e, por isso, os argentinos resolveram criar-lhes uma unidade de conservação, para abrigá-las e estudá-las.

Uma extensa trilha atravessa a Península, partindo de Villa La Angostura, atravessando florestas extremamente bem conservadas, embora grande parte seja remanescente de antiga exploração madeirífera. Formam uma completa coleção de árvores andino-patagônicas, sendo fácil observar os soberbos coigues (Nothofagus dombeyi – Fagaceaea), que são as mais monumentais de seu gênero; os ciprestes-da-cordilheira (Austrocedrus chilensis) e os ciprés-de-las-Guaitecas (Pilgerodendron uviferum), ambos da família Cupressaceae; os frondosos maiténs (Maytenus boaria – família Celastraceae); além de inúmeras outras espécies de fagáceas da cordilheira; e, como seria de esperar, os arrayanes, com seus troncos extremamente decorativos.

As fotografias a seguir poderão levar-nos a reviver este cansativo, mas proveitoso caminho, entre as árvores da Península de Quetrihué:

Abaixo – Troncos de arrayanes (Luma apiculata – família Myrtaceae) muito idosos, no Parque Nacional Los Arrayanes: seu aspecto decorativo e sua relativa raridade justificaram a criação da unidades de conservação


A Seguir – Aspectos da floresta andino-patagônica do Parque, que se apresenta muito bem conservada, embora mostre sinais de já ter sido intensamente explorada para a produção de madeira




Acima – As coníferas Pilgerodendron uviferum e Austrocedrus chilensis ocorrem lado a lado, nas florestas do Parque

A Seguir – A vista da Cordilheira dos Andes é paisagem constante, no plano de fundo do Parque Nacional Los Arrayanes, exibindo muitos cumes ainda cobertos de neve, mesmo no alto verão




Acima – Uma corujinha-caburé-grande (Glaucidium nanum) me observou atenta, acima da trilha, enquanto eu avançava pelos cerca de 12km de matas densas

Adiante – O grande Lago Nahuel Huapi propicia vistas estonteantes, com os Andes ao fundo, ao longo da trilha. Meu retorno se deu por ele, usando o barco que faz a travessia até a sede do Parque Nacional Los Arrayanes





Acima e Abaixo – O maitén (Maytenus boaria – família Celastraceae) é um dos gigantes da floresta andino-patagônica


A Seguir – Os arrayanes possuem troncos de coloração vistosa, que ressalta pelo típico desprendimento de camadas superficiais da casca, emprestando-lhe aspecto multitonal. Essas árvores se multiplicam intensamente através de raízes gemíferas, que originam novos exemplares, próximos à árvore-mãe, que se individualizam e formam florestas quase puras, próximo à extremidade da Península de Quetrihué




Acima – Flores de arrayán

A Seguir - A Laguna Patagua fica inserida em meio à Península de Quetrihué



Adiante – Passarelas cuidadosamente dispostas permitem aos visitantes se aproximarem dos grupos de arrayanes, sem lhes causar maiores danos




Abaixo – Uma curiosidade: uma orquídea terrestre nasceu e vegetava, numa fresta do tronco de um grande arrayán. Talvez assim tenha se dado, ao longo do Terciário, a lenta subida das plantas epífitas, especialmente orquídeas e bromélias, para a ocupação dos estratos superiores da vegetação arbórea. O acaso e as oportunidades indicam o interminável caminho da evolução