Após termos cruzado de volta a Cordilheira dos Andes, do
Chile, para Villa La Angostura, na Argentina (ver postagens anteriores),
contornamos o imenso Lago Nahuel Huapi,
com a cidade de Bariloche,
na margem oposta, onde fizemos alto, por um dia, e seguimos mais ao sul. Nosso
objetivo seria a minúscula Esquel, de
onde pretendíamos visitar o Parque Nacional Los Alerces, na margem do Lago
Futalaufquen.
O contorno do Lago Nahuel Huapi é revelador, para quem
quiser entender o mosaico de paisagens relacionadas à Cordilheira, na
Patagônia: situada na cota dos 770m, a grande bacia deste lago, que já
comentamos anteriormente, está situada numa seção dos Andes, na qual diversos
vales longitudinais e extensas bacias alongadas se interdigitam com o
território chileno. Por isso, ali na Patagônia, existem diversas passagens
entre os dois países, ao contrário da região de Mendoza, mais ao norte, onde a
barreira do Aconcagua separa rigorosamente a Argentina do Chile (veja expedições de 2006, neste blog - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/08/mendoza-e-os-andes-argentinos-2006.html).
Na travessia do Aconcagua (Cristo Redentor), as altitudes
atingem mais de 7.000m, sendo feita a passagem rodoviária acima dos 3.800m. Na
Patagônia, onde estávamos nesta expedição, a travessia internacional se dá
pouco acima dos 1.200m. Assim, é de se imaginar que os climas das duas
vertentes da Cordilheira guardem similaridades, embora a face chilena seja
perúmida (com precipitações da ordem de 2.000 – 3.000mm/ano) e o semideserto
argentino, a leste, se apresente marcado por extrema aridez (inferiores a
200mm/ano). Próximo à Cordilheira, no entanto, as diferenças são mais sutis,
como a saber.
Observando a Cordilheira, de leste para oeste, como passamos
a fazer, seguindo-a para o sul, é possível observar claramente as manchas de
vegetação, do topo à base: nas cumeadas e cimos, estão as áreas endemicamente
cobertas pela neve (algumas ainda mostram neves perenes), sendo marcadas pela rocha
nua, ou tênues pradarias; pouco abaixo, como se fossem plantadas, aparecem
florestas andino-patagônicas de altitude, notadas pelo verde escuro de seus
ciprestes e fagáceas; mais para baixo, nas zonas aonde conseguem chegar as
ondas de umidade, que conseguem atravessar a barreira montanhosa, vindas do
Oceano Pacífico (Chile), espalham-se matas mistas de fagáceas de zonas mais
baixas e ciprestes, permeadas por maiténs e outras árvores menos tolerantes aos
limites da neve; abaixo disso e se estendendo Argentina adentro, através do
grande deserto central, surge a típica vegetação arbustiva rala, até chegar a
apresentar solo nu ou parcamente revestido de moitas duras.
É desconcertante notar que, na mesma latitude em que
viajamos por semidesertos ou florestas ralas e ressequidas, do lado argentino,
estaríamos em meio às mais viçosas florestas subtropicais, no lado chileno.
Veja as imagens que mostram essa passagem e contorno de Bariloche, no rumo de
Esquel:
Acima – A famosa cidade turística de Bariloche pode ser avistada de
longe, da outra margem do extenso Lago Nahuel Huapi, que mostra água azul
escura, por conta de sua grande profundidade (centenas de metros)
Acima – Nosso carro parado à beira da estrada, ao largo de
Bariloche, sendo possível enxergar um pouco da sequência de vegetações
patagônicas, que se devem à combinação da umidade e dos solos.
Acima – Águas cristalinas advêm das montanhas geladas da
Cordilheira, principalmente do derretimento da neve. Esses lindos rios
encachoeirados vão desaparecendo, na medida em que escorrem pelo planalto
argentino, sobre zonas desérticas, onde se transformam em canais mortos,
durante boa parte do ano, alguns deles jamais atingindo o Atlântico.
A Seguir – Sequência de imagens das cumeadas andinas, a caminho do
sul da Argentina, sendo possível observar a relação direta das vegetações com
as zonas por onde a umidade do Pacífico consegue atravessar a Cordilheira.
Acima – Nesta foto, assim como observáramos em nossa chegada aos
Andes, por San Martin de Los Andes, algum tempo antes (ver postagem),
observa-se o contraste entre a vegetação rasteira e muito rala do planalto
desértico argentino e a Cordilheira, ao fundo.
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