Baseado em Villa La Angostura, na margem do Lago Nahuel Huapi, Patagônia Argentina
(ver postagem anterior), saí para uma caminhada solitária de cerca de 12km pela
selva andino-patagônica, em janeiro de 2008. Essa longa e proveitosa excursão,
partindo do pequeno vilarejo, atravessou a Península de Quetrihué, que avança
sobre o imenso Nahuel Huapi e abriga o Parque Nacional Los Arrayanes.
Esse nome curioso se deve a uma notável população dessa árvore patagônica –
arrayán (Luma apiculata – família Myrtaceae) – que existe na extremidade
da Península de Quetrihué.
Os arrayanes são árvores encontradiças, ao largo das
florestas andino-patagônicas, tanto na Argentina quanto no Chile,
principalmente em terras mais baixas e próximo aos grandes lagos andinos. Contudo,
são consideradas plantas relativamente raras e, nesta península, existe uma
grande quantidade dessas belas árvores, formando populações quase puras, em
determinados trechos. Trata-se de algo pouco comum e, por isso, os argentinos
resolveram criar-lhes uma unidade de conservação, para abrigá-las e estudá-las.
Uma extensa trilha atravessa a Península, partindo de Villa
La Angostura, atravessando florestas extremamente bem conservadas, embora
grande parte seja remanescente de antiga exploração madeirífera. Formam uma
completa coleção de árvores andino-patagônicas, sendo fácil observar os
soberbos coigues (Nothofagus dombeyi – Fagaceaea), que são as mais monumentais de
seu gênero; os ciprestes-da-cordilheira (Austrocedrus chilensis) e os
ciprés-de-las-Guaitecas (Pilgerodendron uviferum), ambos da
família Cupressaceae; os frondosos maiténs (Maytenus boaria – família
Celastraceae); além de inúmeras outras espécies de fagáceas da cordilheira; e,
como seria de esperar, os arrayanes, com seus troncos extremamente decorativos.
As fotografias a seguir poderão levar-nos a reviver este
cansativo, mas proveitoso caminho, entre as árvores da Península de Quetrihué:
Abaixo – Troncos de arrayanes (Luma apiculata – família Myrtaceae)
muito idosos, no Parque Nacional Los Arrayanes: seu aspecto decorativo e sua
relativa raridade justificaram a criação da unidades de conservação
A Seguir – Aspectos da floresta andino-patagônica do Parque, que se
apresenta muito bem conservada, embora mostre sinais de já ter sido
intensamente explorada para a produção de madeira
Acima – As coníferas Pilgerodendron
uviferum e Austrocedrus chilensis ocorrem lado a lado, nas florestas do
Parque
A Seguir – A vista da Cordilheira dos Andes é paisagem constante,
no plano de fundo do Parque Nacional Los Arrayanes, exibindo muitos cumes ainda
cobertos de neve, mesmo no alto verão
Acima – Uma corujinha-caburé-grande
(Glaucidium
nanum) me observou atenta, acima da trilha, enquanto eu avançava pelos
cerca de 12km de matas densas
Adiante – O grande Lago
Nahuel Huapi propicia vistas estonteantes, com os Andes ao fundo, ao longo
da trilha. Meu retorno se deu por ele, usando o barco que faz a travessia até a
sede do Parque Nacional Los Arrayanes
Acima e Abaixo – O maitén
(Maytenus
boaria – família Celastraceae) é um dos gigantes da floresta
andino-patagônica
A Seguir – Os arrayanes possuem troncos de coloração vistosa, que
ressalta pelo típico desprendimento de camadas superficiais da casca,
emprestando-lhe aspecto multitonal. Essas árvores se multiplicam intensamente
através de raízes gemíferas, que originam novos exemplares, próximos à
árvore-mãe, que se individualizam e formam florestas quase puras, próximo à
extremidade da Península de Quetrihué
Acima – Flores de
arrayán
A Seguir - A Laguna Patagua fica inserida em meio à Península de Quetrihué
Adiante – Passarelas cuidadosamente dispostas permitem aos
visitantes se aproximarem dos grupos de arrayanes, sem lhes causar maiores
danos
Abaixo – Uma curiosidade: uma orquídea terrestre nasceu e vegetava,
numa fresta do tronco de um grande arrayán. Talvez assim tenha se dado, ao
longo do Terciário, a lenta subida das plantas epífitas, especialmente
orquídeas e bromélias, para a ocupação dos estratos superiores da vegetação
arbórea. O acaso e as oportunidades indicam o interminável caminho da evolução
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