Parque Estadual da Serra do Papagaio - MG
Cerca de oito anos após ter atravessado a
divisa entre os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, por cima da Serra da
Mantiqueira, na região do Maciço do Itatiaia (ver postagem anterior - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2018/03/relatos-de-uma-passagem-pelas-florestas.html ), decidi
fazer nova investida fitogeográfica, cruzando pelo eixo mais a oeste, na
tríplice divisa RJ-SP-MG, contornando o Parque Nacional do Itatiaia pela
rodovia que liga a Via Dutra a Caxambu, no Circuito das Águas. Baseando-me na
pequena e agradável Itamonte, em Minas Gerais, empreenderia desta vez excursões
tanto pela região de ocorrência das araucárias (Araucaria angustifolia –
fam: Araucariaceae), quanto pelo Planalto do Itatiaia, que ainda não conhecia,
até então.
A viagem ocorreu, como de costume, em meu
rumo entre Rio de Janeiro e Mato Grosso, no final de fevereiro de 2018. Chuvas
muito intensas vinham marcando os últimos dias, o que não chegou a atrapalhar as
atividades. Parece que a sorte me acompanhou, tanto neste bloco de atividades
pelas matas de araucária, quanto no dia seguinte, quando visitaria o Planalto
de Itatiaia (a ser publicado na próxima postagem), pois estive sempre fora da
trajetória das chuvas. O calor, este sim se mostrou realmente um fator incomum,
em meio a paisagens cuja altitude mínima andava na faixa dos 1.700m.
Segui a mesma direção da excursão anterior,
de 2013, porém em sentido inverso: enquanto naquela ocasião ascendi ao Planalto
das Araucárias vindo de Visconde de Mauá, para a cidade de Alagoa, já em
território mineiro, desta feita também buscaria a mesma localidade, porém,
vindo de Itamonte. Minhas atenções se concentraram nas áreas do Parque Estadual
da Serra do Papagaio, unidade de conservação mineira que protege as formações
de matas de pinhais e campos de altitude, precioso mosaico de paisagens
botânicas relacionadas à Araucarilândia de Hoehne. Em minha obra, intitulada FITOGEOGRAFIA DO BRASIL, UMA ATUALIZAÇÃO DE
BASES E CONCEITOS (NAU Editora, 2015), conferi grande importância à
ocorrência desses desafiadores ecossistemas de altitude, com índole
subtropical, cuja espécie característica é mesmo a velha araucária ou
pinheiro-do-paraná (Araucaria
angustifolia).
Veja a seguir as imagens relacionadas a
esta visita ao Parque Estadual da Serra do Papagaio, acompanhadas de
comentários a respeito da flora e fitogeografia:
Adiante – Vasta área de
encostas inclinadas para o vale de Alagoa, desde os 1.700m de altitude, abrigam
florestas de altitude típicas da Serra da Mantiqueira, nas quais nem uma só
araucária está presente. A flora predominante é mesmo aquela que se dispersa
pelas grandes altitudes das serras fluminenses e mineiras
Acima
– A delicada orquídea Gomesa warmingii (=Oncidium warmingii) é típica do
sub-bosque dessas matinhas baixas de altitude
Acima
– Outra orquidácea bastante comum, nessas florestas em miniatura é Zygopetalum
intermedium
Acima
– Plantas espinhentas do gênero Eryngium (família Apiaceae) são
características dos afloramentos e campos de altitude. Na vegetação original,
são pontuais e ocupam áreas úmidas e iluminadas. Nas pastagens, podem
predominar e quase inviabilizar o pastoreio, porquanto ferem a boca dos
animais, quando estes procuram as gramíneas
A Seguir – Para além dali,
um corredor que se estende a norte do eixo da estrada entre Itamonte e Alagoa
revela ser a faixa de ocorrência natural das matas de araucárias, tanto quanto
dos campos de altitude que compõem o complexo de vegetações relacionadas à Araucarilândia.
A paisagem se altera de forma notável e a flora acompanha as mudanças
Acima
– Solos expostos na margem da estradinha, por conta de terraplenagens, mostram
a natureza historicamente campestre de alguns fragmentos, embora a paisagem, de
modo geral, ainda guarde influências do extenso período em que abrigou
atividades pastoris, que regularizaram a vegetação, através do fogo e do
pastoreio, principalmente
Acima
– Essa imagem representa exatamente a complexidade atual de interpretação do
mosaico campos - florestas de araucária, que caracteriza a região da Serra do
Papagaio: ação do fogo, erosão pretérita (natural) e atual (antrópica),
pastoreio e exploração madeireira e lenheira de longa data. O resultado torna
enigmáticas a distribuição e as tipologias vegetacionais do presente
Acima
– Assim como ocorre com as florestas de araucária do Sul, esta aqui de Minas
Gerais encontra pontos de tensão com as vegetações circundantes, aumentando
ainda mais a complexidade das fisionomias de vegetação. Nesta imagem, a
floresta mista de araucárias se mistura às florestas estacionais semideciduais,
com suas árvores frondosas, de índole tropical
A Seguir – Nos capões de
floresta de natureza subtropical, que acompanham vales mais dissecados e
margens de rios, pode ser apreciada a influência marcante do célebre
pinheirinho-bravo (Podocarpus lambertii – Podocarpaceae), que acompanha as
araucárias, em quase toda a Araucarilândia. Os pinheirinhos-bravos são
elegantes e carregam folhas perenes, que formam como que estufas naturais, sob as
quais vegetam miríades de plantas epífitas
Acima
– Troncos de Podocarpus lambertii, em meio à vegetação densa, abrigando
verdadeiros jardins de bromélias e orquídeas
Acima e abaixo –
Exemplares isolados de Podocarpus lambertii, em meio às
clareiras, entre os capões de pinheirais, onde hospedam preciosidades botânicas
como a orquídea Specklinia grobyi (Pleurothallis
grobyi), que forra galhos bem iluminados e arejados
A Seguir - As bromélias Aechmea
distichantha são importantes na Serra do Papagaio, vegetando de forma
praticamente idêntica à que fazem, em boa parte da floresta mista de araucárias
do Paraná, área central da Araucarilândia. Veja como ela surge, tanto no
interior dos capões escuros, quanto em suas bordas e sobre árvores isoladas,
onde assumem tonalidades avermelhadas, bastante decorativas
Abaixo – Paisagens campestres,
herdadas em parte da natureza regional, em parte da pecuária decadente, exibem
quadros belíssimos, na Serra do Papagaio: intensas florações de melastomatáceas
do gênero Chaetostoma
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