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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

domingo, 11 de março de 2018

O PLANALTO DE ITATIAIA - ESTADO DO RIO DE JANEIRO – FEVEREIRO DE 2019




Jamais tivera oportunidade de visitar o altiplano do Parque Nacional do Itatiaia, primeiro Parque Nacional de nossa história e uma das mais exuberantes coleções de ecossistemas relacionados às grandes altitudes, nos domínios da Floresta Atlântica. Seguindo para mais uma viagem ao Centro-Oeste, em fevereiro de 2018, apontei minha navegação para este admirável setor da Serra da Mantiqueira, sendo-me então possível visitar as formações vegetacionais de araucárias, na vertente interiorana do maciço (ver postagem anterior – Parque Estadual da Serra do Papagaio - http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2018/03/nova-passagem-pelas-florestas-de.html), um dia antes. Desta feita, subi a estradinha que parte da rodovia BR354 (ligação entre a Dutra e o chamado Circuito das Águas, em MG), na chamada Garganta do Registro, percorrendo cerca de quinze quilômetros, em meio a diversas fisionomias relacionáveis à floresta altimontana da Mantiqueira, até chegar ao subdomínio dos campos de altitude, lendário laboratório dos maiores botânicos do país.

Com absoluta certeza, minha insaciável curiosidade me levará novamente ao Planalto do Itatiaia, que se eleva a cerca de 2.600m acima do nível médio do mar, por conta de sua flora única e de seus panoramas simplesmente estonteantes. Mesmo em face de visita tão breve, pude examinar diversos aspectos da fitogeografia do Parque Nacional e terras limítrofes. A seguir, você poderá conferir as mais ligeiras anotações sobre a região, acompanhando as usuais fotografias de ambientes e plantas:

Desde a linha de cumeada da Serra da Mantiqueira, que divide o Vale do Paraíba da alta bacia do rio Grande/Paraná, a noroeste, na altura da Garganta do Registro (1.600m), a estradinha do Parque Nacional ascende gradativamente, cortando florestas de altitude, cuja flora é singular - ABAIXO



Acima – Em galhos e troncos delgados, expostos à umidade constante e às correntes de ar frio, que circulam entre as montanhas, medram delicadas orquídeas Cattleya coccinea (=Sophronitis coccinea), cujas flores encarnadas já emprestaram lindos tons a famosos híbridos comerciais, desde o Século XIX.
Abaixo – Detalhe das flores de Cattleya coccinea, na floresta de altitude do Itatiaia



A seguir – As nuvens orográficas – relacionadas às cadeias montanhosas – encostam de forma constante na floresta de altitude, suprindo-as delicadamente de umidade, que beneficia luxuriante vegetação. A flora é megadiversa e reserva surpresas a cada metro, ao longo da estradinha do Parque Nacional


Acima – Matacões de rocha granítica abundam em toda a cumeada da Mantiqueira, revelando passado remoto frio e seco. Velhos fragmentos de diaclases monumentais adentraram período atual úmido e mais quente, sendo completamente envolvidos pela floresta densa e ensejando o surgimento de notáveis coleções de plantas

Acima – Plantas adaptadas à vida nestas condições ajudam a formar os belos jardins naturais, agarrando-se às rochas em decomposição, como esta Sinningia gigantifolia (família Gesneriaceae)

A Seguir – Uma das plantas de maior plasticidade de hábitos, nessas florestas de altitude, é a bromélia Vriesea itatiaiae:

Acima – Vriesea itatiaiae no interior da floresta densa

Acima – Vriesea itatiaiae sobre velho tronco decadente, onde experimenta maiores taxas de iluminação, assumindo bela tonalidade vinácea


Acima e Abaixo - Vriesea itatiaiae vegetando em habitat rupícola, sobre afloramento rochoso, acima dos 2.000m



Acima – Vriesea itatiaiae crescendo em populações adensadas, no ambiente tipicamente saxícola – entre pedras, nos afloramentos acima dos campos de altitude, no morro do Couto, cerca de 2.600m


Acima – A bromélia Nidularium marigoi (epíteto que homenageou, ainda em vida, de forma merecida, o fotógrafo-naturalista Luiz Claudio Marigo) é exclusiva do estrato umbrófilo da floresta de altitude do Itatiaia


Abaixo – Campos úmidos intercalam florestas e afloramentos de rocha, formando bacias formadoras importantes da copiosa rede de corpos d’água, que vão ter ao Vale do rio Paraíba, muito abaixo. A condição de saturação hídrica, como afirmamos em nosso livro – FITOGEOGRAFIA DO BRASIL, UMA ATUALIZAÇÃO DE BASES E CONCEITOS (NAU Editora, 2015 – ver postagem: http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/10/o-livro-fitogeografia-do-brasil-uma.html ) – ensejam vegetação campestre, em meio a domínios fundamentalmente florestais


Abaixo – A estradinha do Parque Nacional do Itatiaia, por vezes, permite avistar lindos panoramas, embora o tempo andasse bem carregado, desta vez



Acima – Justaposição de vegetações notáveis: florestas de altitude, lado a lado com extensos afloramentos rochosos, que comportam flora singular e também variada, na qual a intensa luminosidade faz surgir espécies heliófilas

Acima – Fuchsia regia (fam: Onagraceae) é espécie típica das matinhas hiperúmidas de altitude do Parque Nacional do Itaiaia

  
A Seguir – Os campos de altitude são mesmo a paisagem mais marcante do Planalto do Itatiaia. A condição de solos muito rasos, algumas vezes pejados de blocos de rocha fragmentada, sob variações térmicas e higroscópicas fenomenais, origina vegetações essencialmente campestres. Sua flora é bastante antiga e o grau de endemismo restrito é notável, abrigando diversas espécies exclusivas.

Acima – Paisagem típica do Planalto do Itatiaia, acima dos 2.600m, vendo-se o Pico das Agulhas Negras ao fundo, ponto culminante do estado do Rio de Janeiro, com 2.790m

Acima – As superfícies mais planas conseguem acumular alguma quantidade de solos propriamente ditos, sendo ocupadas por mosaicos interessantíssimos de florestas em miniatura, ou simplesmente campos de altitude, onde a flora revela a natureza predominantemente saturada de umidade do substrato

Adiante – Liquens abundam entre plantas adaptadas à condição de solos rasos e de saturação hídrica contínua. Desde liquens laminares, que ocupam a superfície dura das rochas, até espessas alfombras, com lindas formas, esse grupo de plantas simbióticas primitivas funciona como pioneiro, na colonização desses ambientes extremamente duros, no Planalto do Itatiaia




Acima – Cortes na estradinha exibem muito bem a estrutura edáfica e as estratégias das espécies de plantas que colonizam esses solos de natureza orgânica do Planalto do Itatiaia

Acima – O delicado bambuzinho Chusquea pinifolia (fam: Poaceae) é uma das espécies mais importantes dos campos de altitude do Planalto do Itatiaia

Acima – Aspecto característico dos subdomínios de campos de altitude do Planalto do Itatiaia, sendo possível notar a influência determinante da umidade nebular. Atentar também para o mosaico formado por vegetação de campos sobre rochas e afloramentos rochosos, coisa marcante nessa altiplano

A Seguir – A bromélia Fernseea itatiaiae é restrita aos campos de altitude do Planalto do Itatiaia e representa espécie bastante rara, em tempos atuais. Pode ser avistada, sem dificuldade, ao longo das trilhas do Parque Nacional



Acima – Fernseea itatiaiae crescendo diretamente sobre a rocha, como rupícola
Abaixo – Fernseea itatiaiae vegetando de modo saxícola, entre rochas, ou nos depósitos de material orgânico






 
Acima – A delicada Fuchsia campos-portoi (fam: Onagraceae) é a espécie típica dos campos de altitude do grupo

A Seguir – A predominância de solos orgânicos saturados de umidade favorece espécies bromeliformes da família Apiaceae (=Umbeliferae), como Eryngium glaziovianum, cujos capítulos florais exibem coloração elegantemente violeta, que contrasta com a paisagem:




Acima – Eryngium glaziovianum pode vegetar nos paredões rochosos, entre outras espécies heliófilas, tirando partido de filetes perenes de água, que umedecem essas rochas


Acima – Também relacionadas à saturação hídrica dos solos orgânicos dos campos de altitude, surgem delicadas flores de Utricularia reniformis (fam: Lentibulariaceae)

Acima – Alstroemeria radula – família Alstroemeriaceae

Acima – Orquídea terrestre do gênero Habenaria

A Seguir – A família Velloziaceae não é tão comum no Planalto do Itatiaia, quanto sua representante do gênero BarbaceniaBarbacenia gounelleana, com lindas flores encarnadas, que chega a forrar grandes superfícies de rocha, nos matacões e afloramentos




Acima – O autor Orlando Graeff examinando um Blechnum brasiliense, no Planalto do Itatiaia, foto obtida pelo guia Kawê Ribeiro




Acima – A delicada flor de Gelasine coerulea (=Alophia sellowiana – fam: Iridaceae)

Abaixo – A verdadeira ocorrência do pinheiro-brasileiro, ou pinheiro-do-paraná, ou mesmo araucária (Araucaria angustifolia – fam: Araucariaceae) parece que ainda ficará envolta em certo mistério, na Fitogeografia. Minha visita ao Parque Estadual da Serra do Papagaio, no dia anterior a esta do Planalto do Itatiaia, ajudara a elucidar bastante seu corredor, pelo anverso da Serra da Mantiqueira, vinda do Sul. Aqui em cima, na borda interior do Maciço do Itatiaia, elas podem ser observadas, em meio à floresta nativa, ocupando espaço intrigante, que talvez possa ser relacionado a influências humanas pretéritas, embora demonstrem estar ali, há muito tempo



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