No dia 07 de maio, parti de Juazeiro do Norte, ganhando o
rumo de Aracaju, capital de Sergipe. Tornara-se fundamental conferir a
transição entre o bioma da Caatinga e os domínios da Floresta Atlântica, uma
vez que, para meus estudos fitogeográficos, as interfaces são de imenso
interesse. Já havia conferido as transições entre os dois biomas, nesta mesma Expedição Fitogeográfica 2012, na
altura de Vitória da Conquista, em território baiano. Agora, seria a vez do
Nordeste Oriental, acima da Bahia, que possui singularidade incomparável com o
restante da Região.
Causou-me grande surpresa viajar por sobre algumas serranias
locais, que nada mais são que disjunções da grande Chapada do Araripe, elevada
centenas de metros sobre a Caatinga e abrigando belas paisagens agropecuárias,
nas quais jamais se poderia imaginar estar o Nordeste atravessando a pior seca
dos recentes quarenta anos ou mais. Pastagens verdejantes e roças viçosas eram
tudo o que se podia enxergar, até se descer de vez a Chapada, pouco antes de
Salgueiro, já em território Pernambucano. Até mesmo a margem da estrada era
coroada de capim verde, em pleno crescimento, causando contraste ainda mais incompreensível
com a tragédia da estiagem, correndo tão próximo dali.
Ao contornar novamente o vale do rio São Francisco, entre
Cabrobó, no estado de Pernambuco, e Paulo Afonso, já na Bahia, deparei-me com a
mesma caatinga que examinara antes, ao deixar Petrolina, na direção de São
Raimundo Nonato (Ver postagem – Atravessando a Caatinga Pernambucana, até o
Piauí – 24 de abril de 2012). Nesta região, porém, conquanto mantenha aparente
identidade botânica com aquela, a caatinga assume uma tipicidade que,
seguramente, originou a conceituação iconográfica que domina o imaginário
geral, com respeito ao Bioma Caatinga. Jamais observara caatingas tão
exemplares e de aparência tão seca como estas e não pude ter dúvidas de que os
solos pedregosos eram a razão principal desta vegetação.
Centenas de quilômetros são ali acompanhados de paisagem
integralmente formada por blocos partidos e fragmentos de rochas – granitos inclusive
– o que comprova a antiguidade dos climas áridos da região. Nenhuma vegetação
herbácea ali vegetava, salvo imensas colônias da bromélia macambira (Encholirium
spectabile), que forravam vastas superfícies cascalhentas. Somente pude
lamentar o estado de terror imposto pela condição brasileira, numa região como
aquela. Explico: Tanto nos mapas rodoviários, quanto a partir de informação
geral, na região, as estradas são ali tidas como de altíssimo índice de
assaltos, o que me impunha, viajante solitário, grande receio de parar, para
realizar meu trabalho fotográfico. Há inúmeros postos policiais, com viaturas e
homens, sugerindo uma tentativa de resposta do Governo Pernambucano,
principalmente, à má fama da região. Porém, em meio à vastidão desértica, não
poderia assumir riscos, o que se deu em prejuízo da ciência e do interesse de
nosso blog.
Já em terras sergipanas, assisti ao gradativo
desaparecimento da Caatinga, tendo identificado ainda um trecho considerável de
caatingas de palmeiras Syagrus coronata, similares às que
observara no Sertão Baiano, entre Vitória da Conquista e Juazeiro (Ver postagem
– Sertão da Bahia, de 24 de abril de 2012). Possivelmente, elas adentram o
estado, através da região de Canudos, na Bahia, reforçando a interpretação
sobre as diferenças entre as caatingas pernambucanas e baianas, em torno do rio
São Francisco.
Minha passagem por Aracaju foi rápida, mas não deixou de
chamar atenção para a simpatia e cordialidade do povo sergipano, assim como
para as boas condições daquela cidade nordestina. Do Sergipe, segui para o
litoral baiano, na cidade de Itacaré, limite entre a Costa do Dendê e a Costa
do Cacau. Havia ali estado, em 1986, encontrando condições incipientes de
hospedagem, o que abreviara minha estada neste lindo conjunto de praias e
florestas, bastante diferente do restante da Bahia. Desta vez, permaneci um dia
inteiro em Itacaré, reservando-me a oportunidade de examinar ligeiramente suas
florestas luxuriantes e a pequena cidade, que hoje se transformou
definitivamente num destino turístico.
Tendo dado adeus à Caatinga, em minha saída pelo Sergipe,
encontrava-me novamente nos domínios da Mata Atlântica, onde vivo e trabalho,
no preparo de meu livro sobre a Fitogeografia de nosso país. A Expedição Fitogeográfica 2012 teve
excelente aproveitamento, em sua primeira fase, dedicada que foi à Caatinga e
às Matas de Cocais, na interface entre Semiárido e Amazônia. A seguir, algumas
imagens deste último destino da viagem.
Na saída da Caatinga
– Imagens do “rio” que divide os estados da Bahia e de Sergipe, em pleno
avançado da seca de 2012. Tudo aí mostra o efeito do clima semiárido, na
determinação das paisagens nordestinas.
Abaixo - Imagens
da floresta exuberante que cerca a cidade de Itacaré, na Bahia.
A Seguir – As palmeiras-dendê
(Elaeis
guineensis) são exóticas e foram introduzidas na Bahia para atender a
culinária tradicional, com origem africana. Hoje, formam populações densas, que
se tornaram marca da Costa do Dendê, compartimento litorâneo que se estende do
Recôncavo até Itacaré.
Paisagens litorâneas
da bela região de Itacaré, na Bahia.
Notar a garrafa PET na margem... Ah, o homem!
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