Reveja outras expedições

UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

sábado, 12 de maio de 2012

O ADEUS À CAATINGA – VOLTANDO À MATA ATLÂNTICA


               No dia 07 de maio, parti de Juazeiro do Norte, ganhando o rumo de Aracaju, capital de Sergipe. Tornara-se fundamental conferir a transição entre o bioma da Caatinga e os domínios da Floresta Atlântica, uma vez que, para meus estudos fitogeográficos, as interfaces são de imenso interesse. Já havia conferido as transições entre os dois biomas, nesta mesma Expedição Fitogeográfica 2012, na altura de Vitória da Conquista, em território baiano. Agora, seria a vez do Nordeste Oriental, acima da Bahia, que possui singularidade incomparável com o restante da Região.

               Causou-me grande surpresa viajar por sobre algumas serranias locais, que nada mais são que disjunções da grande Chapada do Araripe, elevada centenas de metros sobre a Caatinga e abrigando belas paisagens agropecuárias, nas quais jamais se poderia imaginar estar o Nordeste atravessando a pior seca dos recentes quarenta anos ou mais. Pastagens verdejantes e roças viçosas eram tudo o que se podia enxergar, até se descer de vez a Chapada, pouco antes de Salgueiro, já em território Pernambucano. Até mesmo a margem da estrada era coroada de capim verde, em pleno crescimento, causando contraste ainda mais incompreensível com a tragédia da estiagem, correndo tão próximo dali.

               Ao contornar novamente o vale do rio São Francisco, entre Cabrobó, no estado de Pernambuco, e Paulo Afonso, já na Bahia, deparei-me com a mesma caatinga que examinara antes, ao deixar Petrolina, na direção de São Raimundo Nonato (Ver postagem – Atravessando a Caatinga Pernambucana, até o Piauí – 24 de abril de 2012). Nesta região, porém, conquanto mantenha aparente identidade botânica com aquela, a caatinga assume uma tipicidade que, seguramente, originou a conceituação iconográfica que domina o imaginário geral, com respeito ao Bioma Caatinga. Jamais observara caatingas tão exemplares e de aparência tão seca como estas e não pude ter dúvidas de que os solos pedregosos eram a razão principal desta vegetação.

               Centenas de quilômetros são ali acompanhados de paisagem integralmente formada por blocos partidos e fragmentos de rochas – granitos inclusive – o que comprova a antiguidade dos climas áridos da região. Nenhuma vegetação herbácea ali vegetava, salvo imensas colônias da bromélia macambira (Encholirium spectabile), que forravam vastas superfícies cascalhentas. Somente pude lamentar o estado de terror imposto pela condição brasileira, numa região como aquela. Explico: Tanto nos mapas rodoviários, quanto a partir de informação geral, na região, as estradas são ali tidas como de altíssimo índice de assaltos, o que me impunha, viajante solitário, grande receio de parar, para realizar meu trabalho fotográfico. Há inúmeros postos policiais, com viaturas e homens, sugerindo uma tentativa de resposta do Governo Pernambucano, principalmente, à má fama da região. Porém, em meio à vastidão desértica, não poderia assumir riscos, o que se deu em prejuízo da ciência e do interesse de nosso blog.
Já em terras sergipanas, assisti ao gradativo desaparecimento da Caatinga, tendo identificado ainda um trecho considerável de caatingas de palmeiras Syagrus coronata, similares às que observara no Sertão Baiano, entre Vitória da Conquista e Juazeiro (Ver postagem – Sertão da Bahia, de 24 de abril de 2012). Possivelmente, elas adentram o estado, através da região de Canudos, na Bahia, reforçando a interpretação sobre as diferenças entre as caatingas pernambucanas e baianas, em torno do rio São Francisco.

               Minha passagem por Aracaju foi rápida, mas não deixou de chamar atenção para a simpatia e cordialidade do povo sergipano, assim como para as boas condições daquela cidade nordestina. Do Sergipe, segui para o litoral baiano, na cidade de Itacaré, limite entre a Costa do Dendê e a Costa do Cacau. Havia ali estado, em 1986, encontrando condições incipientes de hospedagem, o que abreviara minha estada neste lindo conjunto de praias e florestas, bastante diferente do restante da Bahia. Desta vez, permaneci um dia inteiro em Itacaré, reservando-me a oportunidade de examinar ligeiramente suas florestas luxuriantes e a pequena cidade, que hoje se transformou definitivamente num destino turístico.
Tendo dado adeus à Caatinga, em minha saída pelo Sergipe, encontrava-me novamente nos domínios da Mata Atlântica, onde vivo e trabalho, no preparo de meu livro sobre a Fitogeografia de nosso país. A Expedição Fitogeográfica 2012 teve excelente aproveitamento, em sua primeira fase, dedicada que foi à Caatinga e às Matas de Cocais, na interface entre Semiárido e Amazônia. A seguir, algumas imagens deste último destino da viagem.

Na saída da Caatinga – Imagens do “rio” que divide os estados da Bahia e de Sergipe, em pleno avançado da seca de 2012. Tudo aí mostra o efeito do clima semiárido, na determinação das paisagens nordestinas.





Abaixo - Imagens da floresta exuberante que cerca a cidade de Itacaré, na Bahia.









A Seguir – As palmeiras-dendê (Elaeis guineensis) são exóticas e foram introduzidas na Bahia para atender a culinária tradicional, com origem africana. Hoje, formam populações densas, que se tornaram marca da Costa do Dendê, compartimento litorâneo que se estende do Recôncavo até Itacaré.





Paisagens litorâneas da bela região de Itacaré, na Bahia.







Notar a garrafa PET na margem... Ah, o homem!












Nenhum comentário:

Postar um comentário