No dia 30 de abril, exatamente um mês após
ter deixado Petrópolis, no Rio de Janeiro, parti de Alcântara, no Maranhão,
atravessando a Baía de São Marcos e ganhando meu caminho, no rumo do Ceará.
Neste mesmo dia, me despediria dos domínios dos Cocais, ao ascender uma vasta
região de tabuleiros costeiros, em Anapurus, próximo ao Piauí, sobre os quais
me surpreenderia, ao ver imensas lavouras de soja, muito similares às que tanto
me acostumara a ver, no Mato Grosso. Por sobre essas chapadas, em altitudes da
ordem de 100m, ainda podem ser avistadas florestas secas, em muito parecidas
com os cerradões do Centro-Oeste, enquanto desapareciam os babaçus.
Terminei esse novo deslocamento no dia
seguinte, saindo de Parnaíba. Foi quando atravessei os contrafortes da Serra do
Ibiapaba, voltados ao Piauí, revestidos por florestas secas parecidas
fisionomicamente com os carrascos da Serra da Capivara. Realmente, este é o
nome pelo qual são chamados esses scrubs
lenhosos muito secos, no Ceará. Recomeçava a ver as cactáceas, que haviam
sumido de vista, desde que adentrara os Cocais e a Floresta Amazônica, no
Maranhão e no Pará. A paisagem muda diametralmente, ao se cruzar a faixa dos
800m de altitude, nas cercanias de Ubajara, onde faria novos reconhecimentos da
vegetação brasileira. Desta vez, em florestas densas e úmidas, uma verdadeira
exceção, nos domínios da Caatinga.
A Serra do Ibiapaba se estende por longa
fronteira, entre os estados do Ceará e Piauí. Na verdade, representam a borda
de um planalto sedimentar, cujas frentes de cuestas
se debruçam sobre a depressão seca do centro do Ceará, enquanto que, no rumo do
Piauí, se desdobram vertentes mais suavemente onduladas. Em sua linha de
cumeada, a Serra do Ibiapaba se eleva na ordem de 900m, contrastando com a
baixada coberta por agrestes, onde as altitudes máximas ficam pelos 250m. Sobre
essa linha de cimeira, vegetam florestas densas, abrigando flora
predominantemente atlântica, que se sustenta da umidade constante, proveniente
do oceano, a leste.
Assim como se observa em altiplanos
similares, tais como o de Vitória da Conquista, onde estivera, dias antes, na
Bahia, ou mesmo na conhecida Chapada Diamantina ou Grão Mogol, no Norte de
Minas, as manhãs são invariavelmente marcadas por espessa neblina e até mesmo
chuva fina, que transfere ao solo grande quantidade de água. Essas águas
alimentam copiosa rede de riachos, que correm principalmente para o reverso oeste,
no rumo do Piauí, embora alguns de seus córregos acabem despencando num paredão
íngreme, na direção da baixada cearense, onde formam belas cachoeiras.
A estada em Ubajara foi proveitosa e me
permitiu examinar detalhadamente essas densas florestas, em meio à Caatinga.
Também foi possível investigar um conjunto de carrascos – florestas secas em
miniatura - situados num cânion profundo, na faixa altitudinal dos 700m. Veja
adiante as fotografias selecionadas para mostrar a Serra do Ibiapaba.
A Seguir - A Serra do
Ibiapaba surge no horizonte, surpreendendo o viajante, acostumado às altitudes
irrisórias do Pará e do Maranhão, que raramente ultrapassavam poucas dezenas de
metros. São cobertas por vegetação de carrascos, nesta vertente, abrigando
flora essencialmente nordestina-atlântica.
Abaixo – Em Viçosa do
Ceará, na faixa dos 800m, a floresta já domina a paisagem, como se vê, por detrás
das antigas edificações da bucólica cidade.
A Seguir – Os babaçus (Attalea
speciosa) ainda estão presentes na flora da mata de altitude. Porém,
não conseguem sustentar grau de importância ecológica sequer semelhante ao que
atingem na Mata de Cocais, atravessada dias antes.
Adiante – Aspectos inesperados
da floresta densa e sempre-verde das cimeiras da Serra do Ibiapaba. Não haverá
como negar sua semelhança com florestas tropicais ligadas diretamente à Mata
Atlântica.
Sr. Manoel Gomes de Araujo, que me mostrou a floresta de Ubajara
Abaixo - Belas
cascatas marcam a paisagem das cuestas
do planalto de Ibiapaba voltadas ao Ceará, no Parque Nacional de Ubajara.
Abaixo – Os carrascos são
um tipo de florestas secas em miniatura, que revestem a vertente voltada ao
oeste, em direção ao Piauí. Num cânion rochoso, no vale da Cachoeira do Frade,
abaixo dos 700m, pude examinar a flora de natureza rupestre, entremeada a
cascatas de notável frescor.
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