A Expedição
Fitogeográfica 2012 havia alcançado seu ponto mais ao norte, em Belém,
capital do estado do Pará. Daí, iniciei meu gradual retorno, tendo como
próximos objetivos as vegetações do Nordeste Oriental. Obriguei-me a
atravessar, em grande parte, rodovias por que já passara, ao subir, no estado
do Maranhão, das quais já andei a falar. Porém, desta vez, segui o rumo do nordeste
deste mesmo estado, tendo como próximo ponto de parada a pequena Alcântara,
faceando a Baía de São Marcos, em cuja margem oposta se divisa a capital
maranhense, São Luis. Cheguei a Alcântara no dia 28 de abril, permanecendo ali
por mais um dia, repleto de atividades de campo.
Alcântara já foi muito famosa pelos
projetos aeroespaciais do governo, que têm sua base de lançamento, muito
próxima. Mas, em passado ainda bem mais remoto, disputou com São Luis a
primazia do desenvolvimento, em períodos coloniais. Apenas os restos dessa
opulência podem ser hoje encontrados, alguns em meio à mata que retoma espaço,
outros em precário estado de conservação. Mesmo assim, não há como não se
impressionar com o que ali existe e que poderia bem receber atenção das autoridades,
restituindo a sua glória, agora, para as atividades turísticas, de que a cidade
tanto precisa.
Afora seus elementos históricos, Alcântara
reúne patrimônio paisagístico natural de grande interesse e muito me serviu,
para interpretar o encontro caótico entre floras amazônica, atlântica e
semiárida. O substrato de tudo isso são os sedimentos da Formação Barreiras,
uma conjunto difuso de períodos geológicos associados ao Terciário e,
posteriormente, duramente trabalhados por forças erosivas descomunais do
Quaternário, assim como pelas admiráveis macromarés dos dias atuais. A
diferença entre marés altas e baixas chega a inacreditáveis sete metros, na
região, formando complexos de mangues sobre rochas, arenitos de praia e cordões
de blocos fragmentados, na linha das marés.
A região representa conjunto valioso de
ecossistemas de que os maranhenses deveriam muito se orgulhar de possuir, tanto
para mostrar aos visitantes, quanto para lhes prover de farto material de
estudos científicos. Encontrei pesquisadores ligados à UFMA, que estudavam as
aves abundantes e migratórias da localidade. Minha passagem por Alcântara
suplantou as expectativas, não obstante a falta de estrutura oferecida pela
cidade para sua exploração. Danilo de
Alcântara Santos Furtado, que me guiou pelo intrincado de ambientes
naturais e humanos – um filho da cidade, como seu nome expressa – foi mais uma
dessas pessoas de boa vontade, que não medem esforços para ajudar os
naturalistas, que lhes batem às portas, à cata de conhecimento.
Fotos a Seguir: O encontro
de ecossistemas é vibrante, na região de Alcântara. Adiantadamente arrasados,
durante o Quaternário, velhos tabuleiros da Formação Barreiras, transformados
em outeiros residuais, dividem espaços com as águas que eles mesmo ajudam a represar,
contrapondo-se às macromarés do litoral maranhense. Buritizais (Mauritia
flexuosa) formam paisagens similares às do Centro-Oeste, mas se perdem,
em meio a extensos cocais (Attalea speciosa), que ocupam as
cimeiras, assim como carnaubais (Copernicia prunifera), que cercam as
várzeas mais largas.
Abaixo: Uma linda espécie
de rubiácea, do gênero Isertia, enfeita as matas.
Abaixo: Uma espécie de
acantácea, que prolifera nas roças e bordas de floresta, em Alcântara.
Nas Fotos Adiante: Algumas
das velhas construções ligadas à rica história de Alcântara, destacando-se
azulejaria de fina arte. Infelizmente, pouco resta de pé, prometendo-se
desaparecimento breve.
A Seguir: Os sedimentos da
Formação Barreiras, conhecidos pela formação de falésias, em boa parte do
litoral Nordeste, oferecem cenários ímpares, quando erodidos pelas marés ou
recobertos pelos manguezais. Em certos locais, imitam a arte; noutros, sugerem
grandes terraplenagens.
Abaixo: O manguezal e
nosso barqueiro, Sr. P. O., que nos
conduziu, em meio ao labirinto de canais estuarinos, a bordo do Minha Primeira Experiência, seu bem
cuidado bote motorizado.
A Seguir: Vistas de
Alcântara, ao entardecer; As praias de mar aberto, completamente desertas, em
pleno feriado de 1º de maio.
A Seguir: Cenários
admiráveis – Palmeiras-carnaúba, quase na linha de arrebentação; Floresta
densa, de índole amazônica, nas bordas dos tabuleiros da Formação Barreiras.
Lindissimo, mt interessante!
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