Em 15 de dezembro de 2015, realizamos uma
excursão pela Costeira de Zimbros, no município de Bombinhas, em Santa Catarina, para conhecer um dos trechos mais
conservados de ecossistemas de floresta atlântica de encosta marítima do
litoral deste estado. Essa área está situada entre a praia de Zimbros, ainda em
Bombinhas, e o município de Tijucas, no qual se encontra inserida parte da
trilha que utilizamos.
Eu conhecera esta região, ainda nos anos
1970, quando a buscava para desbravar novas praias, com outros surfistas, nos
tempos em que toda ela era semisselvagem e conhecida sob a denominação geral de
Porto Belo. Bombinhas, hoje sede de
florescente município, não passava então de uma praia selvagem e deserta. Não
nos seria possível fazer esta proveitosa excursão, se não tivéssemos sido
guiados pela amiga Irany Ornellas,
com quem dividira os bancos escolares, no Rio de Janeiro, e que atualmente
reside em Bombinhas, sendo grande conhecedora de sua natureza e geografia.
A Costeira de Zimbros representa exemplo
magnífico de costa recortada, na qual surgem lindas praias desertas e calmas,
todas elas surpreendentemente bem conservadas. Oficialmente, está imune ao
corte, por força da embrionária implantação de unidade de conservação. Porém,
parece mesmo ter sido a resistência dos moradores e simpatizantes a razão maior
para não ter sido ainda entregue aos empreendimentos imobiliários, que já transformaram
irreversivelmente todo o litoral catarinense, nos últimos quarenta anos.
Nas imagens a seguir, pode ser apreciada a
natureza da Costeira de Zimbros, através de nossas observações sobre sua
geografia, suas plantas e suas paisagens:
A
Seguir – Paisagens paradisíacas não faltam à
Costeira de Zimbros, que é acessível através de uma trilha com mais de uma
dezena de quilômetros, entre Bombinhas (Praia de Zimbros) e Tijucas. Sua
característica mais marcante é a formação de costões em blocos arredondados de
granito rosa, herdados de passado remoto frio e seco. Sobre eles, vegeta
variada flora, tirando partido da luz, que a mata não lhe pode roubar
Acima – O regime de marés, gradualmente modificado, ao longo dos últimos
vinte mil anos, pelo menos, originou lagunas encarceradas, entre o mar e as
montanhas, de onde provém água doce. Na Praia
da Lagoa, se oferece aos olhos exemplo perfeito deste tipo de feição
geomorfológica, podendo ser vista a rocha, que aflora em determinados trechos,
formando o embasamento que impermeabiliza o fundo e guarda represada a água
pura dos rios, até ser levada ao mar.
Abaixo – Sophora tomentosa (família Fabaceae) é uma planta característica
das barras arenosas que resguardam o reservatório natural da Praia da Lagoa.
Suas flores amarelas e vagens características são muito decorativas e
justificam porque a planta é utilizada em projetos jardinoculturais, em
diversas partes do Sudeste, onde ela também ocorre
Acima - Sophora tomentosa fechando a barra da laguna da Praia da Lagoa
Adiante – Sobre os monumentais blocos de granito, surgem populações de
plantas muito interessantes. O naturalista F. C. Hoehne já havia observado essas plantas,
quando percorreu a região, na primeira metade do Século XX, em busca de suas
orquídeas. Certamente, em muito já se alterou este magnífico tesouro, desde
então. Mas, ainda se podem notar algumas atraentes espécies rupícolas (que
vegetam sobre rochas)
Acima – Philodendron bipinnatifidum
(Araceae) desponta como elemento notável, sobre os matacões rochosos da
Costeira de Zimbros
Abaixo – Cactáceas, como Lepismium
cf. cruciforme,
adaptam-se maravilhosamente bem ao ambiente criado por estas imensas pedras
roladas, associando-se a bromélias como Aechmea nudicaulis. Outrora,
grandes populações da orquídea Cattleya intermedia habitaram o topo
dessas rochas, até na Ilha de Santa Catarina (Florianópolis), sendo em grande
parte coletadas, para suprir o comércio de plantas, ainda no Século XX
Acima – Em nossa busca por orquídeas, deparamos com raros exemplares de Cattleya
intermedia, como este da foto, pejado de cicatrizes de Tentecoris (um inseto que lhes suga as
folhas, causando manchas permanentes). Suas flores são vistosas e foram razão
de sua coleta indiscriminada (foto
abaixo – em cultivo pelo autor)
A
Seguir – As micropaisagens propiciadas pela
abertura de luz, à beira do mar, na Costeira de Zimbros, fazem surgir belos
arranjos de plantas, que ocupam árvores e rochas
Acima – A bromélia Aechmea nudicaulis
Acima – Cactáceas epifíticas tiram partido
do suporte das arvoretas inclinadas sobre a praia, para vegetar
esplendidamente, formando grandes caramanchões naturais
A
Seguir – O interior das florestas baixas, mas
densas, da Costeira de Zimbros também revela magníficos encontros com as
plantas da floresta de transição subtropical
Acima – Allamanda cathartica
(Apocynaceae), um arbusto muito nosso conhecido, nos jardins residenciais
Acima – Bomarea edulis
(Alstroemeriaceae), outra joia jardinocultural, em seu ambiente natural, na
floresta de Zimbros
Acima – Marantáceas de folhas musiformes e flores vistosas, como esta Stromanthe
sp. (cf. S. tonckat) enfeitam o
coração das florestas escuras, onde o calor do verão úmido de Santa Catarina se
torna mais suportável
Acima – Heliconia velloziana
(Heliconiaceae), que vínhamos encontrando, desde o litoral de São Paulo, no
coração das florestas mais densas e úmidas, estava presente ali, ao longo dos
riachos encachoeirados da Costeira de Zimbros
Acima – A bromélia Wittrockia superba, com
suas características “unhas pintadas”, recobria grandes superfícies de rochas e
troncos
Abaixo – Clareiras deixadas por velhos roçados traíam a presença humana na
Costeira de Zimbros, mostrando as consequências do desequilíbrio causado por
atividades danosas ao meio: pinheiros-americanos (Pinus elliottii) dominam
o ambiente iluminado, impedindo a volta da mata nativa. Samambaias do gênero Sticherus
(=Gleichenia, família Gleicheniaceae)
recobrem áreas de solos degradados e resguardam a continuidade do domínio das
coníferas importadas
A
Seguir – As praias da Costeira de Zimbros, por representarem
ambiente convidativo, mostram sinais de velhas e novas ocupações humanas
Acima – Antigo muro de pedra testemunha a
ocupação pretérita da Praia Vermelha, na Costeira de Zimbros
Acima – Quem saboreia deliciosos mariscos,
nos bares e restaurantes urbanos, deveria vir à Costeira de Zimbros, para
encontros pitorescos como este, em que vemos a esposa de um cultivador desses
deliciosos bivalves, a cozinhar e limpar os mexilhões que seu marido colhia,
nos cultivos organizados.
Abaixo – Não é assim tão recente a presença de seres humanos, nesta região
do litoral. Os mesmos paleoíndios, que produziam os sambaquis (ver postagens
anteriores), afiavam seus instrumentos líticos em pedras como essa, à
beira-mar, chamadas de “brunidores”.
A Seguir - Mais algumas paisagens, em escalas diversas, da Costeira de Zimbros, em Bombinhas, onde contemplação e história natural andam juntas
Acima - Habranthus robustus (= Zephyrantes robusta - família Amaryllidaceae), em meio à vegetação rasa da restinga litorânea, em Zimbros
Acima – Irany Ornellas é uma entusiasta de Bombinhas e de suas belezas
naturais. Aos seus olhos, qualquer coisa pode revelar lindas fotos, que produz
continuamente, publicando-as e ajudando a divulgar sua terra escolhida. Muito
obrigado pela excepcional acolhida, Irany.
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