O dia 09 de dezembro de 2015 foi dedicado a
conhecer a famosa RPPN do Salto Morato,
em Guaraqueçaba, litoral do Paraná, aonde chegáramos, durante nossa expedição.
Salto Morato é o nome de uma bela cachoeira, que despenca das escarpas da Serra
do Mar, de altura superior aos 100m, impressionando mesmo de longe os viajantes
que se aventuram por estes ermos. A Fundação Boticário implantou, com muito
sucesso, essa reserva natural, embora a infraestrutura rodoviária e turística
do Paraná em nada favoreça sua visitação (ver postagem anterior).
Foram oito quilômetros de trilhas, num só
dia, sob calor escaldante, cuja sensação se agravava com a umidade intensa
desta época chuvosa. A temperatura andou por volta dos 31oC, o que
não chegaria a rivalizar com alguns lugares já visitados, pelo Brasil. Porém,
com o tempo pesadamente úmido, não era nada fácil tolerar as atividades, em
meio à floresta densa. Para nossa sorte, a RPPN contempla diversos poços de
águas claras e frescas, especialmente aquelas que caracterizam a calha do rio
Morato. O chamado “aquário”, por exemplo, é uma refrescante piscina natural, no
meio da trilha do salto, na qual os visitantes podem nadar, em meio a inúmeros
lambaris, que lhes mordiscam a pele, sem ocasionar prejuízos, mas causando
curiosa sensação.
Acompanhe, a seguir, através de belas
imagens, os aspectos naturais da RPPN do Salto Morato:
A
Seguir - A RPPN do Salto Morato é magnífica coleção
de florestas de baixada litorânea, congregando mosaico de vegetações densas,
nas quais vegetam incontáveis espécies da Floresta Atlântica: calatéias,
helicônias, costáceas e dezenas de mirtáceas, rubiáceas e melastomatáceas
forram os terrenos quase planos, entrecortados por córregos de águas
cristalinas e correntosas
Acima – Inúmeras espécies de palmeirinhas-aricanga (gênero Geonoma) ocupam o estrato arbustivo
dessas matas, entre elas a delicada Geonoma elegans, que empresta
elegante efeito ornamental ao ambiente.
Abaixo – Costus spiralis é planta que domina boa parte das áreas de
sub-bosque, na RPPN do Salto Morato
Abaixo – Heliconia sp.
(Heliconiaceae) Divide espaço com marantáceas e costáceas, causando efeito
majestoso às áreas mais úmidas da floresta de baixada litorânea de Guaraqueçaba
Adiante – Praticamente todo espaço disponível, nas florestas de baixada
litorânea, é recoberto por plantas epifíticas, dentre as quais surpreendem
inúmeras ciclantáceas, que são falsas-palmeiras, como esta Asplundia glaucophylla que se agarra ao
tronco delgado de uma arvoreta.
Mas, a família Bromeliaceae emerge, de longe, como aquela que mais plantas fornece
para este revestimento verde da floresta de baixada litorânea. Não é a família
botânica mais diversificada ali, sendo suplantada pelas orquídeas. Contudo, sua
expressão na vegetação é superlativa:
O gênero Vriesea é hegemônico, na
família Bromeliaceae, nessas matas.
Acima – Vriesea aff. pallidiflora
Acima – Vriesea carinata
Acima – Vriesea carinata (close)
Acima – Vriesea cf. incurvata,
espécie que já referimos, na postagem sobre a Serra da Graciosa, como
imensamente variável e enigmática, parecendo congregar um complexo genético em
fixação evolutiva.
Abaixo – Aechmea pectinata é uma
bromélia vistosa, de longe, por tingir parcialmente e de forma caótica suas
folhas alongadas de vermelho-encarnado, por ocasião da fase reprodutiva. É
relativamente rara, no Sudeste, surgindo nas florestas de baixada litorânea da
RPPN do Salto Morato
Acima – Maxillaria
ochroleuca é orquídea típica dessas matinhas da baixada
litorânea de Guaraqueçaba, dividindo espaço com algumas espécies de Epidendrum, lado a lado com bromeliáceas
dos gêneros Billbergia e Vriesea
Abaixo – Aráceas do gênero Philodendron são espetacularmente
abundantes, tanto nessas florestas de baixada litorânea, quanto em suas coirmãs
florestas inundáveis do litoral, que tratamos na postagem anterior. Suas raízes
se alongam da copa das árvores, num incansável esforço de atingir o chão, onde
desfrutarão de farta quantidade de nutrientes, em meio à camada de serapilheira
(matéria orgânica em decomposição). Essas cortinas de cipós são características
dessa paisagem tropical
A
Seguir – O rio Morato, com suas águas cristalinas,
corre encaixado em terrenos aluviais, que são o embasamento fundamental da
floresta de baixada litorânea. À sua volta, espalham-se as florestas mais
diversificadas que o naturalista poderá examinar, entre o Sudeste e o Sul
Acima – O poço do Aquário, no rio Morato,
um gratificante recanto, onde o viajante poderá desfrutar de uma refrescante
pausa.
Abaixo – o Magnífico Salto Morato, queda d’água com mais de 100m de altura,
representa a divisa ecológica entre a floresta de baixada litorânea e a
floresta tropical pluvial de encosta, que reveste a morraria convexa, dali até
as mais altas cumeadas da Serra do Mar. Somente esta bela cascata já valerá uma
visita à RPPN do Salto Morato, embora ainda se tenha muito a ver, se o assunto
forem florestas, como vamos conferir, a seguir
Adiante – A floresta tropical pluvial de encosta, que é a formação típica
da Floresta Atlântica, ostentando elevados madeiros, em cujas galhadas, que se
abrem a dezenas de metros, suporta flora epifítica própria, apesar de trocar
elementos com as demais matas abaixo.
Acima – A bromélia Wittrockia superba exibe
suas “unhas pintadas”, nos galhos elevados das árvores da encosta, na RPPN do
Salto Morato
Acima – Cipós verdadeiros, que são lianas
como o escada-de-macaco (Schnella microstachya – família
Fabaceae), são elementos característicos dessas matas de encosta. Estas são
mais drenadas e oferecem maior sustentação edáfica para associações, tais como
essa das grandes árvores longevas e suas lianas.
Acima – Sob a sombra perene da floresta
tropical pluvial de encosta, surgem microfisionomias diferentes daquelas que
víramos, morro abaixo, na floresta de baixada litorânea. Uma delas, que
sobressai na RPPN do Salto Morato, é caracterizada por grandes populações de
uma espécie de Cyperum (família Cyperaceae) bastante decorativa
Acima – A queda eventual de uma dessas
velhas e elevadas árvores da floresta de encosta pode nos surgir como um quadro
um tanto triste. Para a natureza, contudo, representa a abertura de uma valiosa
“janela de luz”, onde diversas espécies acorrem, ativando o que se chama de
BANCO DE SEMENTES da floresta. É uma grande oportunidade de renovação genética,
promovendo evolução das plantas.
Acima e Abaixo – O chamado pau-alazão (Eugenia multicostata – família Myrtaceae) é um
dos monumentos da floresta tropical pluvial de encosta da RPPN do Salto Morato,
surgindo junto à trilha da Figueira e podendo ser avistado com grande
facilidade.
Ops! Quase pisamos nessa mocinha, uma cobra-caninana, que
tomava um sol, bem no meio da Trilha da Figueira. Mas, passado o susto, a
conclusão lógica: quem levaria a pior seria a pobre serpente, que era
inofensiva e teria que suportar nosso peso excessivo.
Abaixo – A magnífica figueira do rio do Engenho, um marco da RPPN do Salto
Morato. Adaptando-se à erosão torrencial, que caracteriza a evolução do relevo
da fralda da Serra do Mar, essa imensa árvore se moldou ao terreno e formou majestoso
arco, por sobre o riacho, deixando pender sobre ele, como um jardim suspenso,
diversas espécies de aráceas, cactáceas e samambaias, além de seu belo e rico
revestimento de orquídeas e bromélias
Adiante - De volta da longa trilha, atravessamos uma curiosa vegetação que
foi formada pelo represamento do lençol freático, devido a uma velha estrada de
fazenda. O solo encharcado fez minguar as árvores, deixando espaço para um
adensamento de samamabaiaçus-xaxim (Dicksonia sellowiana) e arvoretas
das famílias Myrtaceae e Melastomataceae, entre outras espécies adaptadas. O
resultado era um diversificado jardim de orquídeas e bromélias, que tiravam
proveito da forte umidade e da farta iluminação solar:
Acima – Uma Begonia sp pendendo dos
galhos de uma dessas arvoretas, onde vegetava de forma epífita
Acima – A delicada orquídea Rodriguezia
venusta cresce em tênues ramos, entrelaçada a liquens e briófitas. São
espécies efêmeras, contrastando com sua admirável beleza
Acima – Uma espécie de Vriesea (Bromeliaceae) afim
de V.
gradata abunda nessa matinha baixa e inundada da RPPN do Salto Morato
Abaixo - A bromélia Aechmea nudicaulis é onipresente, em quase toda a Floresta Atlântica. Não faltaria aqui, no Salto Morato
O imenso teiú atravessava a estradinha da
RPPN do Salto Morato, ao final da tarde, quando retornávamos da longa trilha
pelas matas
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