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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

RPPN DO SALTO MORATO – GUARAQUEÇABA – Paraná – dezembro de 2015

O dia 09 de dezembro de 2015 foi dedicado a conhecer a famosa RPPN do Salto Morato, em Guaraqueçaba, litoral do Paraná, aonde chegáramos, durante nossa expedição. Salto Morato é o nome de uma bela cachoeira, que despenca das escarpas da Serra do Mar, de altura superior aos 100m, impressionando mesmo de longe os viajantes que se aventuram por estes ermos. A Fundação Boticário implantou, com muito sucesso, essa reserva natural, embora a infraestrutura rodoviária e turística do Paraná em nada favoreça sua visitação (ver postagem anterior).

Foram oito quilômetros de trilhas, num só dia, sob calor escaldante, cuja sensação se agravava com a umidade intensa desta época chuvosa. A temperatura andou por volta dos 31oC, o que não chegaria a rivalizar com alguns lugares já visitados, pelo Brasil. Porém, com o tempo pesadamente úmido, não era nada fácil tolerar as atividades, em meio à floresta densa. Para nossa sorte, a RPPN contempla diversos poços de águas claras e frescas, especialmente aquelas que caracterizam a calha do rio Morato. O chamado “aquário”, por exemplo, é uma refrescante piscina natural, no meio da trilha do salto, na qual os visitantes podem nadar, em meio a inúmeros lambaris, que lhes mordiscam a pele, sem ocasionar prejuízos, mas causando curiosa sensação.

Acompanhe, a seguir, através de belas imagens, os aspectos naturais da RPPN do Salto Morato:

A Seguir - A RPPN do Salto Morato é magnífica coleção de florestas de baixada litorânea, congregando mosaico de vegetações densas, nas quais vegetam incontáveis espécies da Floresta Atlântica: calatéias, helicônias, costáceas e dezenas de mirtáceas, rubiáceas e melastomatáceas forram os terrenos quase planos, entrecortados por córregos de águas cristalinas e correntosas






Acima – Inúmeras espécies de palmeirinhas-aricanga (gênero Geonoma) ocupam o estrato arbustivo dessas matas, entre elas a delicada Geonoma elegans, que empresta elegante efeito ornamental ao ambiente.
AbaixoCostus spiralis é planta que domina boa parte das áreas de sub-bosque, na RPPN do Salto Morato



AbaixoHeliconia sp. (Heliconiaceae) Divide espaço com marantáceas e costáceas, causando efeito majestoso às áreas mais úmidas da floresta de baixada litorânea de Guaraqueçaba



Adiante – Praticamente todo espaço disponível, nas florestas de baixada litorânea, é recoberto por plantas epifíticas, dentre as quais surpreendem inúmeras ciclantáceas, que são falsas-palmeiras, como esta Asplundia glaucophylla que se agarra ao tronco delgado de uma arvoreta.



Mas, a família Bromeliaceae emerge, de longe, como aquela que mais plantas fornece para este revestimento verde da floresta de baixada litorânea. Não é a família botânica mais diversificada ali, sendo suplantada pelas orquídeas. Contudo, sua expressão na vegetação é superlativa:
O gênero Vriesea é hegemônico, na família Bromeliaceae, nessas matas. 

Acima – Vriesea aff. pallidiflora

Acima – Vriesea carinata

Acima – Vriesea carinata (close)

Acima – Vriesea cf. incurvata, espécie que já referimos, na postagem sobre a Serra da Graciosa, como imensamente variável e enigmática, parecendo congregar um complexo genético em fixação evolutiva.

Abaixo – Aechmea pectinata é uma bromélia vistosa, de longe, por tingir parcialmente e de forma caótica suas folhas alongadas de vermelho-encarnado, por ocasião da fase reprodutiva. É relativamente rara, no Sudeste, surgindo nas florestas de baixada litorânea da RPPN do Salto Morato


Acima – Maxillaria ochroleuca é orquídea típica dessas matinhas da baixada litorânea de Guaraqueçaba, dividindo espaço com algumas espécies de Epidendrum, lado a lado com bromeliáceas dos gêneros Billbergia e Vriesea

Abaixo – Aráceas do gênero Philodendron são espetacularmente abundantes, tanto nessas florestas de baixada litorânea, quanto em suas coirmãs florestas inundáveis do litoral, que tratamos na postagem anterior. Suas raízes se alongam da copa das árvores, num incansável esforço de atingir o chão, onde desfrutarão de farta quantidade de nutrientes, em meio à camada de serapilheira (matéria orgânica em decomposição). Essas cortinas de cipós são características dessa paisagem tropical


A Seguir – O rio Morato, com suas águas cristalinas, corre encaixado em terrenos aluviais, que são o embasamento fundamental da floresta de baixada litorânea. À sua volta, espalham-se as florestas mais diversificadas que o naturalista poderá examinar, entre o Sudeste e o Sul



Acima – O poço do Aquário, no rio Morato, um gratificante recanto, onde o viajante poderá desfrutar de uma refrescante pausa.

Abaixo – o Magnífico Salto Morato, queda d’água com mais de 100m de altura, representa a divisa ecológica entre a floresta de baixada litorânea e a floresta tropical pluvial de encosta, que reveste a morraria convexa, dali até as mais altas cumeadas da Serra do Mar. Somente esta bela cascata já valerá uma visita à RPPN do Salto Morato, embora ainda se tenha muito a ver, se o assunto forem florestas, como vamos conferir, a seguir


Adiante – A floresta tropical pluvial de encosta, que é a formação típica da Floresta Atlântica, ostentando elevados madeiros, em cujas galhadas, que se abrem a dezenas de metros, suporta flora epifítica própria, apesar de trocar elementos com as demais matas abaixo.

Acima – A bromélia Wittrockia superba exibe suas “unhas pintadas”, nos galhos elevados das árvores da encosta, na RPPN do Salto Morato

Acima – Cipós verdadeiros, que são lianas como o escada-de-macaco (Schnella microstachya – família Fabaceae), são elementos característicos dessas matas de encosta. Estas são mais drenadas e oferecem maior sustentação edáfica para associações, tais como essa das grandes árvores longevas e suas lianas.

Acima – Sob a sombra perene da floresta tropical pluvial de encosta, surgem microfisionomias diferentes daquelas que víramos, morro abaixo, na floresta de baixada litorânea. Uma delas, que sobressai na RPPN do Salto Morato, é caracterizada por grandes populações de uma espécie de Cyperum (família Cyperaceae) bastante decorativa

Acima – A queda eventual de uma dessas velhas e elevadas árvores da floresta de encosta pode nos surgir como um quadro um tanto triste. Para a natureza, contudo, representa a abertura de uma valiosa “janela de luz”, onde diversas espécies acorrem, ativando o que se chama de BANCO DE SEMENTES da floresta. É uma grande oportunidade de renovação genética, promovendo evolução das plantas.


Acima e Abaixo – O chamado pau-alazão (Eugenia multicostata – família Myrtaceae) é um dos monumentos da floresta tropical pluvial de encosta da RPPN do Salto Morato, surgindo junto à trilha da Figueira e podendo ser avistado com grande facilidade.




Ops! Quase pisamos nessa mocinha, uma cobra-caninana, que tomava um sol, bem no meio da Trilha da Figueira. Mas, passado o susto, a conclusão lógica: quem levaria a pior seria a pobre serpente, que era inofensiva e teria que suportar nosso peso excessivo.

Abaixo – A magnífica figueira do rio do Engenho, um marco da RPPN do Salto Morato. Adaptando-se à erosão torrencial, que caracteriza a evolução do relevo da fralda da Serra do Mar, essa imensa árvore se moldou ao terreno e formou majestoso arco, por sobre o riacho, deixando pender sobre ele, como um jardim suspenso, diversas espécies de aráceas, cactáceas e samambaias, além de seu belo e rico revestimento de orquídeas e bromélias


Adiante - De volta da longa trilha, atravessamos uma curiosa vegetação que foi formada pelo represamento do lençol freático, devido a uma velha estrada de fazenda. O solo encharcado fez minguar as árvores, deixando espaço para um adensamento de samamabaiaçus-xaxim (Dicksonia sellowiana) e arvoretas das famílias Myrtaceae e Melastomataceae, entre outras espécies adaptadas. O resultado era um diversificado jardim de orquídeas e bromélias, que tiravam proveito da forte umidade e da farta iluminação solar:


Acima – Uma Begonia sp pendendo dos galhos de uma dessas arvoretas, onde vegetava de forma epífita

Acima – A delicada orquídea Rodriguezia venusta cresce em tênues ramos, entrelaçada a liquens e briófitas. São espécies efêmeras, contrastando com sua admirável beleza


Acima – Uma espécie de Vriesea (Bromeliaceae) afim de V. gradata abunda nessa matinha baixa e inundada da RPPN do Salto Morato
Abaixo - A bromélia Aechmea nudicaulis é onipresente, em quase toda a Floresta Atlântica. Não faltaria aqui, no Salto Morato





O imenso teiú atravessava a estradinha da RPPN do Salto Morato, ao final da tarde, quando retornávamos da longa trilha pelas matas

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