No dia 10
de dezembro de 2015, partimos para uma excursão exploratória pelo setor de
Guaraqueçaba-Superagui da Baía de Paranaguá, litoral do Paraná. Saímos cedo de
Guaraqueçaba, onde nos encontrávamos baseados (ver publicação anterior),
sendo conduzidos na lancha do amigo e guia Altair
Vicente, conhecido na região como Thaico. Como guia, Thaico se
mostrou tão habilidoso e conhecedor das águas de Guaraqueçaba, quanto já se
mostrara excelente anfitrião, em seu Restaurante do Thaico,
onde nos brindou com maravilhosos pratos “al
mare”, criados em conjunto com sua esposa, durante toda nossa permanência
em Guaraqueçaba.
O principal objetivo desta excursão, como
seria de imaginar, eram os ecossistemas litorâneos de Guaraqueçaba,
principalmente os manguezais e as restingas, que visitaríamos na ponta do
Superagui, uma das saídas da Baía para o mar aberto. A navegação em nada
decepcionou e pudemos ter uma valiosa amostragem dessas vegetações,
praticamente intactas, o que possibilitou, uma vez mais, a confirmação dos
aspectos tratados em meu livro Fitogeografia do Brasil (NAU Editora – 2015),
no que diz respeito à interpenetração entre florestas tropicais litorâneas,
manguezais e restingas arenosas.
Nada melhor que mostrar um pouco de tudo
isso, através das imagens obtidas nesta proveitosa navegação:
A Seguir – A Baía de Paranaguá
se desdobra em alguns “braços” de águas rasas e canais serpeantes entre
manguezais e trechos de floresta atlântica, que quase tocam suas águas. Fora da
influência salina, imperam as florestas inundáveis do litoral, que mostramos nas
postagens anteriores. Onde a vegetação é determinada pela presença ocasional
das águas do mar, imperam mangues
Acima – Ao fundo, no
horizonte, a onipresente Serra do Mar e o Planalto Paranaense
Abaixo – Imagem do Google
Earth exibindo a região em que navegamos, entre Guaraqueçaba e Superagui
A Seguir – Quando passou
nesta região, no início do Século XIX, Saint-Hilaire
referiu a presença dos lindos guarás, aves que habitam alguns manguezais brasileiros e
que, nutrindo-se de crustáceos, adquirem a coloração encarnada na plumagem.
Veja algumas imagens destas aves, em Guaraqueçaba, cujo nome delas empresta
Adiante – Entre Guaraqueçaba
e Superagui, atravessamos as ilhas de Tibicanga e Guapicun, habitadas pelos papagaios-da-cara-roxa,
aves endêmicas desta região e ameaçadas de extinção. Infelizmente, naquele
horário, encontravam-se longe, alimentando-se nas matas de terra firme
Acima – Numa das
extremidades da Ilha dos Pinheiros, ergue-se uma forma de relevo associada ao
passado do Homem, no Brasil: é um sambaqui, tipo de depósito conchífero,
acumulado pelos paleoíndios e atual abrigo de um fragmento de floresta
atlântica. Em meu livro – Fitogeografia
do Brasil, surge uma referência a esta influência antrópica na
vegetação, no capítulo sobre as determinações do Homem sobre a paisagem
A
Seguir - A interminável linha de praias de Superagui,
associada ao Parque Nacional do
mesmo nome, é precioso abrigo de paisagens vegetacionais de restingas.
Examiná-las foi oportunidade ímpar, sendo possível conferir sua flora
esplêndida e a clara determinação dos microrrelevos arenosos, com a vegetação
variando, em função da saturação de umidade e os abrigos do vento oceânico
Acima – A linda orquídea Epidendrum
fulgens é presença marcante, nas ilhas de vegetação arbustiva de
Superagui, variando sua coloração entre o alaranjado vivo e o amarelo-ouro – Abaixo
Outra
orquidácea de forte expressão na paisagem arenosa é Cyrtopodium flavum, cujo
sinônimo é justamente C. paranaense. Ela acompanha as bordas dos diminutos
capões arbustivos, tirando partido da proteção promovida pelas massas de
arvoretas e lenhosas arbustivas – Adiante
A Seguir – Líquens em
forma de alfombras esbranquiçadas fazem lembrar vegetação distante: as campinaranas
da Amazônia. Surgem em função da forte umidade, que aflora nas zonas saturadas,
dentre as quais surgem as “ilhas” arbustivas, como explicado no livro (Fitogeografia do Brasil). Na borda dos
capõezinhos arbustivos, além das orquídeas mostradas, abundam bromélias
características, como Quesnelia quesneliana (segunda foto abaixo) e Aechmea
nudicaulis (foto a seguir)
Abaixo – Paisagens da
restinga de Superagui, onde pode ser apreciada sua exuberância e diversidade,
que exibe perfeitamente o mapa dos solos que cobrem, sendo visível, ao longe, a
floresta atlântica
A Seguir – Muito se fala
da ausência característica de plantas epifíticas, como bromélias e orquídeas,
nos manguezais brasileiros. Essa “regra” é comumente quebrada, em todo o
litoral do país, até onde ocorrem essas vegetações. Em Guaraqueçaba,
encontramos fragmentos, não somente de bromeliáceas diversas, mas até de outros
elementos da terra firme, como palmeiras e árvores. Essas belas exceções se devem
à complexa história natural desta baía, especialmente ao Quaternário recente,
que deixou marcas na distribuição dos solos e na dispersão das plantas
Deslumbrante, rica, diversa e generosa natureza. Os guarás são manchas carmesins no verde de incontáveis tons. Ouvi ali no teu trabalho os sons e os silêncios todos de uma região infinitamente linda. Meus olhos continuam lavados de beleza pura.
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