Entre os
dias 11 e 14 de dezembro, vindos de Guaraqueçaba, no litoral do Paraná (ver postagem anterior), permanecemos em São Francisco
do Sul, que abre o litoral de Santa Catarina e, como se poderá
notar, marca a notável diferença fitogeográfica entre a Floresta Atlântica ao
norte e ao sul da Baía de Paranaguá. Naturalistas tão mais importantes que eu,
como Kuhlmann, já havia percebido
essa diferença e chamado atenção para ela, cerca de um século antes de nossa
ligeira passagem por São Francisco do Sul, este ano. Já me eram familiares as
áreas litorâneas de São Chico, como é carinhosamente chamada S. Francisco do
Sul, na região. Eu as havia percorrido, no início dos anos 1980, à procura de
suas praias, muito boas para o surf. Agora, vinha para conferir um pouquinho de
sua flora.
Graças à
minha grande amiga Inez Raguenet, remanescente do Grupo Quati de Pesquisa e Estudos da Vida
Selvagem, que eu fundara com seu irmão Paulo Raguenet, nos anos 1970, pude
atalhar sobremaneira minhas andanças pela localidade, pelo fato dela manter
residência de praia em São Chico e, com isso, conhecer bons destinos
naturalistas. Inez nos encontrou por ali e nos guiou a alguns destinos,
indicando alguns outros, o que nos proporcionou boas oportunidades de
reconhecimento de sua natureza.
Embora
boa parte das florestas de São Francisco do Sul apresentem sinais nítidos de
seu caráter secundário, ou seja, de já terem sido mexidas pelo homem, elas
exibem bem aspectos de sua natureza original e, em especial, as matas voltadas
ao mar, nos costões rochosos, assim como as restingas que recobrem o litoral
arenoso, ao sul da ilha, propiciaram excelentes amostras de sua flora e
história vegetacional.
Através
da galeria de imagens, que exibimos seguir, poderemos comentar alguns dos
principais aspectos de São Chico, que seguramente nos levará de volta até lá,
em pouco tempo, pelo seu imenso interesse botânico:
Abaixo – Em São Francisco
do Sul, inicia-se longa faixa litorânea, com características singulares, entre as
quais podemos notar a onipresença de grandes enrocamentos naturais de blocos
gigantes de granito-rosa, formados em passado geológico frio e seco. O mar lhes
açoita bravio, sem conseguir atingir a floresta tropical atlântica, que inicia
então sua gradual transição para formações subtropicais
Acima – Inez Raguenet foi
nossa anfitriã naturalista, em São Chico, ajudando a identificar e percorrer
destinos representativos na região
Acima
– Lantana
undulata é alegre presença, na borda das matas de São Francisco do Sul,
aproveitando-se das janelas de luminosidade e representando um dos poucos elementos
em flores, durante o verão chuvoso, juntamente com Heliconia cf. velloziana
– Abaixo
A Seguir – O Parque
Estadual de Acaraí sugere ter sido criado em função da ocorrência
dos intrigantes sambaquis,
que são depósitos conchíferos deixados pelos ameríndios anteriores ao
descobrimento do Brasil. Falamos dessas curiosas feições Tecnogênicas em nosso
livro Fitogeografia
do Brasil (NAU Editora, 2015), assim como na postagem anterior sobre
a Baía de Paranaguá. No Parque de Acaraí, os sambaquis formam pequenos
morrotes, cobertos de florestas e rodeados por preciosas restingas arenosas,
que efetivamente nos interessavam, por seu admirável estado de conservação
Nas fotos anteriores –
Podem ser notados aspectos paisagísticos típicos das restingas arenosas do
Parque de Acaraí, em São Francisco do Sul: do mar para a retroterra das dunas,
observa-se a gradação de vegetações, desde aquela de caráter raso, junto à
praia, até matinhas de restinga, que se espalham território adentro e guardam
preciosos tesouros florísticos
Abaixo – A orquídea Epidendrum
fulgens é marca resgistrada do litoral arenoso de Santa Catarina. Em
São Francisco do Sul, ela se espalha decorativamente pelas dunas e chega-se a
duvidar não ter sido ali cultivada por mãos jardineiras
Acima
– Detalhe de maciço de Epidendrum fulgens
Abaixo
– Dunas de areia pura abrigam flora diversificada e atraente, sendo a bromélia Aechmea
gamosepala um de seus elementos mais vistosos
Acima
– Aechmea
gamosepala
A Seguir – A bromélia Vriesea
friburgensis, em sua variedade paludosa,
possui incrível plasticidade de formas e habitats, ocorrendo desde as montanhas
da Serra do Mar e do Maciço da Serra Geral, em SC, até as areias finas do
litoral deste estado.
Acima
– Vriesea
friburgensis paludosa é um
elemento similar à sua congênere V.
neoglutinosa, do Rio de Janeiro, que ocorre nas restingas de Massambaba,
perto de Araruama, e no topo da Serra do Mar, sempre a sol pleno e em meio à
vegetação arbustiva
Abaixo – Vista ao longe de
um sambaqui coberto pela floresta, que nele encontra solos mais drenados, como
observáramos na Baía de Paranaguá (ver postagem anterior)
A seguir – No reverso das
dunas, que ocorrem em cordões regulares, ao longo da linha de praia, surge
matinha riquíssima em espécies de bromélias, filodendros e centenas de outras
joias botânicas, que pretendo ainda investigar, numa próxima oportunidade
Acima
– O vistoso Philodendron bipinnatifidum surge com abundância, na flora de
aráceas do Parque do Acaraí, adaptando-se esplendidamente ao ambiente e
passando a representar elemento marcante da região, daí por diante
Acima
– A bromeliácea Aechmea pectinata, que surgia de modo discreto, nas florestas
de baixada litorânea do Paraná, também abunda nessas matinhas de restinga, por
detrás das dunas de Acaraí, sendo notada por suas folhas avermelhadas, que
prenunciam o florescimento
Acima
– Esta espécie de Clusia, que é referida como C. criuva, na Região Sul,
domina grande parte das florestas em miniatura de restingas das dunas de
Acaraí. Também havia sido avistada no litoral do Paraná, embora eu possa
afirmar suspeitar se tratar de espécie distinta no gênero (família Clusiaceae)
Adiante – O setor mais ao
sul da longa restinga de Acaraí mostra flora gradualmente distinta e
convergente para os padrões da Ilha de Santa Catarina (Florianópolis) e Laguna.
Elementos como a bromélia Dyckia
encholirioides e o butiazinho-de-praia (Butia
catarinensis), que são típicos daquelas zonas, surgem exclusivamente ali,
assim como outras poucas plantas de natureza subtropical
Acima
– A bromélia Dyckia encholirioides, armada de densos espinhos, surge com
maior frequência no setor sul da restinga de Acaraí, em São Francisco do Sul
Abaixo
– A escultural palmeira butiazinho-de-praia (Butia catarinensis), que
é típica do sul de Santa Catarina, surge ainda de forma discreta, na beira-mar
da restinga de Acaraí, em seu setor sul
Abaixo – O urubu-caçador
observa as condições da praia, ao sul da restinga do Parque Estadual de Acaraí,
em São Francisco do Sul, Santa Catarina
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