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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

sábado, 23 de janeiro de 2016

SERRA DO CORVO BRANCO – SANTA CATARINA – Dezembro de 2015

No dia 16 de dezembro, após longo percurso acompanhando a linha de costa do Brasil Sul (ver postagens anteriores), desde a Serra do Mar, entre São Paulo e Rio de Janeiro, deixamos para trás as florestas tropicais litorâneas, em sua transição para os domínios subtropicais. Embicamos para os majestosos aparados da Serra Geral, que acompanham de longe a costa catarinense, tendo como objetivo subi-los pela lendária Serra do Corvo Branco, que tem acesso pela localidade de Grão Pará.

A Serra do Corvo branco seria minha quinta transeção desses aparados da Serra Geral, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. As dificuldades para sua ascensão são largamente decantadas, atribuindo-lhe perigos inimagináveis, que de todo não pudemos contestar, pois que realmente se trata de um desafio pouco aconselhável àqueles que não tolerem alturas ou que não disponham de veículo apropriado, preferencialmente um 4 X 4.

A Serra Geral é o afloramento do mais extenso derrame basáltico do Planeta, tendo ocorrido pouco antes do início da separação entre a África e a América, mais de uma centena de milhões de anos atrás. Essa história é referida no livro Fitogeografia do Brasil (NAU Editora, 2015), de minha autoria, onde mostramos a distribuição histórica de diversas vegetações do Brasil, inclusive estas dos domínios subtropicais, que ora adentrávamos, através da Serra do Corvo Branco.

Ali, nessa estrada desafiadora, podem ser claramente percebidas as camadas sedimentares de arenito (mais antigas), comprimidas sob o espesso manto efusivo do basalto, que se sobrepõe à primeira e dá origem, lá no seu topo, a um dos conjuntos mais incríveis de paisagens botânicas do Brasil: os campos de cima da serra e a Araucarilândia, ou domínio dos pinheiros-brasileiros, para onde nos dirigíamos.

Aprecie conosco a subida da Serra do Corvo Branco:

Abaixo – A Serra do Corvo Branco é uma estradinha desafiadora. Com pouco mais de quatro quilômetros, no trecho da travessia dos aparados da Serra Geral, ela descortina amplas paisagens, mas requer determinação e certa habilidade, para ser transposta, entre paredões e caracóis de curvas fechadas



A Seguir – A Serra Geral é acompanhada, em sua base, desde Santa Catarina até o Rio Grande do Sul, por um tipo de floresta muito singular, que mistura elementos tropicais e subtropicais e compõe flora característica. Infelizmente, poucos trechos destas matas ainda se conservam intactos, sendo o sopé da Serra do Corvo Branco marcado pelo embate entre elas e o homem



Acima – Plantios de pinheiro-americano avançam sobre a Serra Geral, por cima e por baixo. Nos campos de cima da serra, ocupam pradarias e as condenam à extinção. No sopé da Serra do Corvo Branco, empurram a floresta de transição subtropical aos limites das fraldas dos paredões



 Acima – A linda orquídea Coppensia flexuosa (= Oncidium flexuosum), muito conhecida em cultivo como chuva-de-ouro ou bailarina, é bastante numerosa nessas florestas que acompanham a Serra Geral. Podem ser observadas em flores, nesta época do ano (primavera e verão), desde os galhos das árvores silvestres, até nos jardins das residências, como esta, à margem da estradinha de Grão Pará à Serra do Corvo Branco



Abaixo – Antigas árvores, deixadas para trás pela devastação das florestas da baixada de Santa Catarina, exibem testemunhos de sua riquíssima flora epifítica. Bromélias como Vriesea flammea abundam nesses refúgios – Abaixo a seguir (detalhe)




A Seguir – Alguns aspectos da subida entre os paredões íngremes da Serra do Corvo Branco




Acima – Lascas e blocos de pedra, principalmente de arenito, que é menos coeso que o basalto, despencam sobre o leito precário da estradinha e constituem ameaça séria aos motoristas
Acima – Um automóvel pequeno, que passou por nós, seguindo para Grão Pará, atravessa uma das mais perigosas passagens da Serra do Corvo Branco: acima dele, imenso bloco de arenito espera a oportunidade de desabar sobre a estrada; enquanto o abismo se esconde na macega, encosta abaixo; profundas fendas e blocos desmoronados obrigaram o motorista a saltar e afastar alguns deles e permitir a sua passagem. Abaixo – Vista geral do temível trecho




Acima – Vista de trecho bem elevado da Serra do Corvo Branco, sendo especialmente visível a população das belas plantas de Gunnera manicata (família Gunneraceae), com suas imensas folhas lobadas


Adiante – Aspectos da flora dos paredões de pedra da Serra do Corvo Branco


Acima – Populações de bromélias que se agarram à rocha íngreme. Em sua maioria, são plantas que se adaptaram ao habitat, mas ocorrem também nas florestas de altitude, logo acima das escarpas: Vriesea platynema (inflorescências arqueadas) e Vriesea reitzii (inflorescências eretas, com escapo encarnado e brácteas amarelo-ouro) e Aechmea caudata. Orquídeas também abundam e se agarram diretamente à rocha.

AbaixoVriesea reitzii se adapta curiosamente ao habitat crítico da rocha, assumindo forma endurecida e exibindo escapos florais curtos, fazendo crer se tratar de espécie distinta


AbaixoDyckia cf. reitzii é uma bromeliácea de rosetas densamente espinhentas e perfeitamente adaptada ao habitat rupícola (sobre rochas), sendo elemento característico e exclusivo da longa série de afloramentos de basalto, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Especialistas lhe atribuem variações genéticas complexas, ao longo desse extenso habitat, o que mostra um pouco da história natural dos aparados da Serra Geral


O nome Serra do Corvo Branco parece ter se originado da interpretação equivocada de alguns urubus-rei (que são aves raras e brancas), que habitariam o local. Não observamos a linda ave, que parece ter se retirado para longe. Mas, flagramos um urubu-caçador, que nidificava no topo de uma soberba coluna de basalto – Abaixo


Abaixo – Para viabilizar a travessia final do Planalto da Serra Geral, os engenheiros se obrigaram a executar-lhe um magnífico corte, com cerca de 90m de altura, em seu trecho final





Acima – A floresta subtropical e as matas de araucária se entremeiam na crista do planalto e seriam nosso próximo objetivo, em Urubici, no alto Vale do rio Canoas, na Serra Catarinense

2 comentários:

  1. Agora que descobri seu blog, serei um seguidor fiel. Adoro estas expedições em meio à paisagem natural. Me faz lembrar daquelas expedições que os europeus aqui fizeram desde o descobrimento e que os deixavam maravilhados. Acho importante que alguém faça o registro do que ainda existe, para conscientizar as pessoas da importância de se preservar esta riqueza natural. Abraços e boa sorte. Alexandre Petronilho dos Santos

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  2. Obrigado, Alexandre. Esse é mesmo o espírito do blog, você pegou muito bem. Essa viagem continua, serra acima, e ainda haverá outras, assim como ainda temos diversas outras, das mais antigas, sendo resgatadas para o blog.

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