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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

quinta-feira, 28 de julho de 2016

PARQUE NACIONAL ALERCE ANDINO – CHILE – JANEIRO DE 2008

A Expedição ao sul do Chile prosseguiu, em janeiro de 2008, descendo ainda mais um pouco pelo país, até chegar à região do Vulcão Osorno, entre as cidades de Puerto Varas e Puerto Montt. Como já dissemos antes, trata-se de uma das áreas mais chuvosas da América Meridional, atingindo índices anuais sempre superiores aos 3.000mm, por vezes, atingindo até 5.000mm. Para ter-se uma ideia, nosso perímetro subtropical úmido, que engloba grande parte da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), é marcado por chuvas de ordem pouco superior aos 1.600mm, embora se estendam durante quase o ano inteiro.

O que difere, sobremaneira, nesta região meridional do Chile, é não apenas a quantidade total de chuvas, bem superior à nossa, mas também as temperaturas muito baixas, ao longo de todo o ano: invernos com médias inferiores a 10oC e verão nunca superior a 20oC, em média. A Cordilheira dos Andes também representa uma barreira ecológica superlativa, somando-se ao Deserto Central da Argentina, fazendo com que as floras desses dois domínios sejam profundamente diversas, embora observemos paisagens muito similares, em alguns pontos, como vimos no caso das florestas de araucárias e da floresta valdiviana (ver postagens anteriores).

O Vulcão Osorno, com mais de 2.600m de altitude, é mesmo o mais notável marco geográfico dessa região, que ainda congrega diversos outros vulcões. Ele pode ser avistado de muito longe, embora o tempo continuamente encoberto, durante nossa passagem pelo local, o tenha mantido quase sempre escondido. O Osorno se eleva à margem do grande Lago Llanquihué, do lado posto da cidade turística de Puerto Varas, onde ficamos baseados, durante nossa estada.

Puerto Montt é uma cidade um pouco mais desenvolvida, embora menos atraente que Puerto Varas. Fica na beira do célebre Seno de Reloncaví (Golfo de Reloncaví), que representa baía bem abrigada, ensejando importantes atividades portuárias. Durante nossa passagem por esta região, realizamos algumas visitas aos ecossistemas protegidos: próximo ao Osorno, estivemos na diminuta estância de Petrohué, na margem do Lago de Todos los Santos. Para os lados de Puerto Montt, visitamos o Seno de Reloncaví e o Parque Nacional Alerce Andino.

Interessava-nos, em Petrohué, não somente atravessar a base do gigantesco Osorno, observando os sinais de antigas e violentas erupções vulcânicas e corridas de lava, mas também os magníficos cenários formados pelo canal que extravasa as águas límpidas do Lago Todos los Santos, situado aos 190m, em direção ao mar, no Seno de Reloncaví.

No Parque Nacional Alerce Andino, incensava-nos a esperança de conhecer esses famosos monumentos dendrológicos, que são os alerces (Fitzroya cupressoides – família Cupressaceae), que representam alguns dos mais velhos seres vivos do planeta, juntamente com as sequoias norte-americanas. Tal intento seria frustrado, nesta primeira tentativa, devido ao curto prazo de nossa permanência e ao tempo intensamente chuvoso, que dificultou nossas andanças. 

Mesmo com tanta brevidade, pudemos examinar satisfatoriamente as soberbas florestas que revestem as fraldas andinas, deste lado da Cordilheira. A seguir, algumas imagens que dão conta de tanta beleza, no Sul do Chile:

A Seguir – O Vulcão Osorno é o mais notável marco geográfico da região, embora teimasse em se esconder, por detrás de espessas nuvens, durante quase toda nossa permanência em Puerto Varas


Acima – Nosso veículo estacionado na margem do Lago Llanquihué, no sul do Chile

A Seguir – Aspectos do chamado rio Petrohué, que é, na verdade, um caudaloso canal, que extravasa as águas do Lago Todos los Santos, na direção do Seno de Reloncaví




Acima - O Lago Todos lós Santos, situado numa cota de cerca de 190m, é aduzido pelo degelo das neves andinas, mas também pelas copiosas chuvas do Sul do Chile. Sua diferença de altitude, para o mar produz as belas torrentes de águas cristalinas do rio Petrohué (demais fotos)





Adiante – O Parque Nacional Alerce Andino está situado na base da Cadeia Andina e protege importantes florestas de transição entre as floras valdiviana (de natureza subtropical) e andino-patagônica (de índole temperada). Em suas áreas mais elevadas, abriga populações de alerces (Fitzroya cupressoides – família Cupressaceae), que não pudemos alcançar, nesta excursão.




A Seguir – Em seus setores menos elevados, o Parque Nacional Alerce Andino abriga flora de transição, onde epífitas e liquens são abundantes, perpetuamente umedecidas pelo aerossol das torrentes de águas cristalinas, que descem as fraldas andinas. No verão, milhares de “mutucas” (moscardos hematófagos) vorazes cercam os visitantes, tornando a visita um tanto penosa, embora gratificante, pelos cenários e pela flora.






Abaixo – Microambientes extremamente úmidos e pejados de epífitas e liquens se instalam nas margens dos cursos d’água, onde contam com altíssima umidade e temperaturas regulares. Parecem muito com nossas florestas subtropicais de altitude, no Sul do Brasil. Sua flora, porém, embora graciosa, não rivaliza com aquela



Acima – Mitraria coccinea (família Gesneriaceae)



AcimaAsteranthera ovata (família Gesneriaceae), parece um grupo de borboletas e se espalha pelos troncos de árvores, na floresta escura, emprestando esplêndido efeito ornamental – A Seguir



Acima – Digitalis purpurea (família Plantaginaceae) é planta de origem europeia, mas se dispersou de tal maneira pelo Chile, que sugere hoje ser nativa da região


A SeguirGunnera tinctoria (família Gunneraceae) se dispersa em bases de rochas e às margens dos rios caudalosos da Patagônia, representando espécie análoga à sua prima G. manicata, das encostas da Serra Geral, no Sul do Brasil.


Abaixo - Mapa da região visitada (extraído da web)

domingo, 24 de julho de 2016

A FLORESTA VALDIVIANA – CHILE – JANEIRO DE 2008

A floresta valdiviana é uma das mais intrigantes formações da América do Sul. Seu nome, evidentemente, advém da região de Valdivia, no sul do Chile, aonde chegamos, em janeiro de 2008, durante nossa segunda expedição ao país. Baseados nesta agradável cidade do litoral, partimos para uma ligeira investigação da natureza desta floresta biodiversa, que ainda recobre algumas áreas ao norte, onde terminamos visitando o Parque Oncol, que resguarda um pequeno fragmento quase intacto destas matas.

A floresta valdiviana já cobriu, outrora, extensa parte do sul do Chile e, em meu livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL – UMA ATUALIZAÇÃO DE BASES E CONCEITOS (NAU Editora, 2015), referi um diminuto fragmento relíquia desta floresta, com fisionomia tropicalizada, ao norte de Valparaíso, em pleno domínio dos desertos, no Parque Fray Jorge. Tanto lá quanto em Valdivia, a floresta valdiviana se origina evidentemente na forte umidade litorânea, sendo uma vegetação sempre verde, de forma diversa daquelas do interior e da zona dos Andes, onde a deciduidade é caráter muito importante.

Tendo conhecido a floresta valdiviana, nesta expedição de 2008, senti-me à vontade para discorrer sobre sua ocorrência disjunta, nas duas extremidades do Chile, para retratar a influência marítima e das barreiras orográficas, na determinação de mesoclimas. Os fatores mais importantes para o surgimento da floresta valdiviana são mesmo essa frentes de umidade e frio, que vêm do Oceano Pacífico, e a longa linha de montanhas costeiras, que atravessa o país, neste trecho. Chove, nesta região, uma ordem de 3.000mm ao ano, além das temperaturas relativamente baixas, o que termina por condicionar o surgimento de uma tipologia que pode ser facilmente caracterizada como floresta subtropical úmida.

No Brasil, poderemos encontrar paralelos muito próximos, nos altiplanos do Sul, na zona da Araucarilândia. As florestas que recobrem as vertentes do Planalto da Serra Geral, escorrendo de sob as araucárias (Araucaria angustifolia), até altitudes relativamente baixas, nas fraldas dos Aparados da Serra, são bastante similares à floresta valdiviana. As floras, contudo, diferem por completo, embora possamos encontrar grupos análogos, lá e cá.

A floresta valdiviana já se estendeu por quase toda a linha costeira de Valdivia, tendo sido severamente impactada pelo desenvolvimento. Hoje, restam poucos fragmentos realmente conservados, sendo o Parque Oncol, que abarca o Cerro Oncol, em Los Rios, pouco ao norte da cidade de Valdivia, um dos mais importantes. Vamos às imagens, para que se possa conhecer um pouco da natureza desta linda vegetação chilena:

Adiante – As belas praias de Valdivia já foram ornadas pela floresta valdiviana, embora anos de atividades agrícolas e florestais tenham legado paisagens abertas e residuais. Porém, a flora característica ainda pode ser observada, ao longo da linha de costa.




A Seguir – Francoa sonchifolia (Francoaceae) é uma planta comum, nas bordas de pedras e taludes, acima das praias de Valdivia. Já se tornou espécie ornamental, mundo afora




Acima – A vegetação campestre, que cerca as praias de Valdivia, é bastante similar àquela que se encontra na Região Sul do Brasil, desde Santa Catarina, no perímetro subtropical úmido do país. As apiáceas do gênero Eryngium, que são os célebres caraguatás, estão presentes, nos compartimentos mais úmidos, exatamente como nas pradarias do Sul Brasileiro

Acima – Scrophualriáceas do gênero Calceolaria são numerosas, com suas flores amarelas vistosas

Abaixo – Praia semideserta de Valdivia, frequentada por milhares de aves marítimas: paisagens bastante similares às de Santa Catarina, no Brasil




Lobellia tupa (família Campanulaceae) é conhecida como “fumo-do-diabo” e vegeta de modo abundante, na faixa litorânea de Valdivia – Acima. Detalhe de suas belas flores – Abaixo



Adiante – Próximo ao Cerro Oncol, a floresta valdiviana ainda cobre boa parte das encostas, debruçando-se diretamente sobre o Pacífico azul profundo. São matas bastante alteradas, mas permitem vislumbrar a flora variada e a fisionomia pujante



Na faixa das marés – A Seguir – o Oceano Pacífico arrebenta poderosas ondas, sobre rochas que se alternam entre massas coesas ígneas ou metamórficas e conglomerados ou Stone-lines de detritos exumados pela tectônica fortemente ativa da região: velhos seixos rolados aparecem, depois de milênios sob a terra, para servirem de abrigo para aves marinhas, que abundam no Chile, em função de seu mar piscoso;





Acima – Bromélias do gênero Fascicularia são local preferido para a nidificação dessas aves marinhas do Chile

Acima - Fascicularia bicolor é bromélia dominante, nas rochas conglomeradas do litoral de Valdivia

A Seguir – Aspectos da floresta valdiviana, na região do Parque Oncol, unidade de conservação fundada em 1989, abarcando montanhas que se elevam até cerca de 700m sobre o mar





Acima – Dentre as numerosas plantas epifíticas da floresta valdiviana, a gesneriácea Mitraria coccinea se destaca, por suas flores em forma de ampolas vermelhas.

Acima – O elegante bambuzinho Chusquea culeou abunda, no sub-bosque da floresta valdiviana e remete à fisionomia de nossa florestas de altitude brasileiras, onde o gênero também é importante


Acima – A bromélia Fascicularia bicolor é o elemento mais vistoso, dentre as plantas epífitas da floresta valdiviana, fazendo lembrar as Billbergia nutans, com aspecto similar, que abundam em nossas florestas subtropicais do Sul do Brasil
Abaixo – A bromélia terrestre Greigia landbeckii é bastante numerosa, no sub-bosque do Parque Oncol



Acima – Amomyrtus meli é uma mirtácea agigantada, cujo tronco luzidio ressalta bastante, na floresta valdiviana

Acima – Alfombras epifíticas de liquens são características do coração úmido da floresta valdiviana, tirando partido das chuvas contínuas do Sul do Chile

Acima – Podocarpáceas são coníferas que abundam, na floresta valdiviana, confirmando a similaridade entre as florestas subtropicais úmidas do Chile e do Brasil, onde as matas também carregam numerosas árvores de Podocarpus spp.

Abaixo – Ovelhas devoram imensas algas, atiradas aos rochedos pelo Pacífico, em Valdivia, no Chile