As viagens pela Argentina
e Chile, em 2006 (ver postagens
anteriores), determinaram crescente interesse nessas regiões andinas do
Continente, resultando em nova expedição, entre o final de 2007 e início de
2008, levando-nos inicialmente à Patagônia Argentina,
aonde chegamos, em janeiro de 2008. San Martin de Los Andes, na extremidade oriental do lago
Lacar, foi a porta de entrada para este novo (para nós) reino fitogeográfico,
que se desenrola em torno da Cordilheira dos Andes.
Quase todos os lagos compreendidos entre essa região de San
Martin de Los Andes e Bariloche, mais ao sul, circuito chamado turisticamente
de Sete Lagos, são resultados milenares de ação de imensos glaciares
(geleiras), originadas na alta Cordilheira e que, durante milênios, se
deslocaram para leste, formando extensos vales glaciares. Os relevos,
fortemente influenciados por vulcanismo ainda ativo, são geralmente formados
por vales largos, que são represados pelas antigas morainas ou morenas das grandes
geleiras. Em sua retaguarda, surgiram os lagos andinos, como o Lacar,
abastecidos continuamente pelas límpidas águas do degelo dos Andes.
Morainas nada mais são do que vastos depósitos de cascalhos
e pedras, entremeadas por lamas e solo, que eram formados na extremidade de
baixo das geleiras, pela contínua ação de arrasto dessas magnas massas de gelo.
Com o recuo dos glaciares, a partir de seus 15 – 12 mil anos passados, essas
morainas se transformaram nas únicas extensões de terras quase planas, em meio
a esses vales abruptos. Nessas “planícies”, floresceram cidades, entre elas,
San Martin de Los Andes, que representa importante polo turístico, aos pés da
Cordilheira.
San Martin de Los Andes é cidade para ser visitada tantas
vezes quanto seja permitido ao viajante, propiciando temporadas de esqui na
neve, passeios de barco e belas excursões pelo Lago Lacar e suas
densas florestas, que eram a razão maior de nossa visita. Depois de atravessar
o longo deserto central argentino, tendo avistado as derradeiras árvores, ainda
próximo a Santa Rosa, na Pampa Argentina (os célebres caldenes – Prosopis
caldenia – família Fabaceae), seria de tremendo impacto a observação
das verdejantes florestas de fagáceas, que imperam nas fraldas andinas.
Um mundo tão diferente de história natural e fitogeografia
se nos abriria, desde San Martin de Los Andes, até o sul do Chile, para onde
seguíamos, nesta jornada. Nas imagens selecionadas nesta postagem, obtidas já
com equipamentos um pouco melhores que dois anos antes (dezembro e janeiro de
2006 – ver Viagens pela Argentina e
Chile), ficaram guardadas importantes informações fitogeográficas, que
agora trazemos para você, que acompanha este blog das Expedições
Fitogeográficas.
Abaixo - O vulcão Lanin
é marco notável, na paisagem onde termina o largo deserto central argentino,
próximo a Junin de Los Andes, na
região de Neuquen. Deste ponto, até San Martin de Los Andes, imperam planícies
que vão se elevando, quase imperceptivelmente, até mais de 1.200m, abrigando
flora característica pré-andina.
Acima – Asteráceas de flores vistosas são marcas típicas da flora
que se instala nessas planícies suspensas do oeste argentino, sobre solos
férteis de loess vulcânico,
suportando frio e seca intensos.
Abaixo - Os conhecidos cardos (Cynara sp.) são asteráceas invasoras
das paisagens argentinas, vindos da Europa e se aparentando com as alcachofras.
Adiante – Aspectos da cidade de San Martin de Los Andes,
que ocupa os terrenos de uma antiga moraina, formada pelo deslocamento de
imensas geleiras. É atraente polo turístico e conta com excelente estrutura,
para que deseja conhecer as florestas andino-patagônicas, nas fraldas dos Andes
A Seguir – A natureza do Lago Lacar, que tem belas praias de
cascalhos arredondados e águas absolutamente límpidas, embora muito geladas,
por serem abastecidas pelo derretimento das neves e gelo dos Andes. Suas águas
são muito profundas, como a da maior parte dos lagos andinos, chegando a
centenas de metros de profundidade. Nada mais são que vales afogados, sob
regime de baixa sedimentação
Abaixo - Soberbos paredões, talhados à pique, sobre o Lago Lacar, dão conta de antigo vulcanismo: tratam-se de restos de lava, acumulados no interior de velhas crateras vulcânicas, há muito erodidas e desaparecidas
Abaixo - O derretimento das neves e gelos andinos promove o abastecimento de água dos lagos andinos, sendo possível admirar poderosas cascatas, em meio aos vales profundos, ao redor do Lago Lacar - lagos de diversas cotas altitudinais se interconectam, através de misteriosos rios
Adiante – Admiráveis populações da mirtácea Myrceugenia exssuca,
conhecida como patagua, marcam a paisagem botânica das margens do Lago Lacar,
com seus pés dentro dágua
Acima – Os ecossistemas andino-patagônicos, muito mais simples que
aqueles dos trópicos úmidos, são por conseguinte menos diversificados, sendo
facilmente colonizado por plantas exóticas, escapadas do cultivo centenário:
rosas crescendo asselvajadas, na margem do Lago Lacar
Acima – Família de cauquénes (Chloephaga poliocephala – família Anatidae),
uma espécie típica das áreas alagáveis andino-patagônicas
A Seguir – Aspectos gerais da paisagem botânica que circunda os
lagos andinos argentinos, sendo possível observar populações quase puras de
algumas árvores notáveis, entre elas, o cipreste (Austrocedrus chilensis -
Cupressaceae), principal conífera da região, além dos coíhues (Nothofagus
dombeyi), que são a principal madeira da região, dividindo espaços
específicos com outras fagáceas nobres
Acima – o radal (Lomatia hirsuta) é outra árvore famosa
da floresta ou bosque andino-patagônico do Lago Lacar
Acima – Orquídeas terrestres são as representantes da família, na
Patagônia Argentina, lembrando florestas similares, nos Alpes da Europa. Nas
épocas frias, desaparecem sob a neve, ressurgindo na primavera, para completar
rapidamente seu ciclo de vida
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