A nova expedição pela Argentina e Chile, em janeiro de 2008,
prosseguiu no rumo do Chile, saindo de San Martin de Los Andes, na Argentina
(ver postagem anterior), e atravessando a fronteira entre os dois países, ao
norte do vulcão Lanin. Um dos
objetivos deste roteiro, além de chegar à cidade de Pucón, nosso próximo destino,
era atravessar de cheio a zona das araucárias, numa altitude aproximada de 1.200m,
onde ainda sobrevivem algumas populações desta magnífica árvore.
As araucárias da Patagônia (Araucaria araucana) são
parentes muito próximas de nossa própria araucária, ou pinheiro-brasileiro (Araucaria
angustifolia), como é mais conhecida, aqui no Brasil. Sua ocorrência
longamente disjunta mostra que os domínios pretéritos das araucariáceas já se
estenderam de forma vasta, no Continente Americano. As similaridades entre as
duas árvores mostram que essa separação é relativamente recente. Bem, ao menos
em termos de história natural evolutiva, pois isso sugere ter ocorrido ainda no
Terciário, muitos e muitos milhões de anos antes do presente.
Nossas araucárias, que chegam até o território argentino,
próximo aos estados brasileiro do Paraná e de Santa Catarina, ocorrem numa
faixa altitudinal bem elevada, entre os 600 – 1.300m, principalmente sobre
capeamentos de solos derivados do basalto da Formação Serra Geral. Essa outrora
vasta ocorrência, em nosso país, foi objeto de capítulo específico, em nosso
livro Fitogeografia do Brasil – Uma Atualização de Bases e
Conceitos (NAU Editora – 2015), no qual adotamos a denominação de ARAUCARILÂNDIA, cunhada pelo memorável
naturalista Frederico Carlos Hoehne,
na primeira metade do Século XX.
As araucárias patagônicas parecem preferir terrenos
derivados de loess vulcânico, que é o
resultado da poeira e cinza dos vulcões, longamente depositada sobre os altos
vales andinos. Assim como nossa araucária, o pehuén (nome indígena andino da Araucaria
araucana) prefere zonas úmidas e com baixas temperaturas e se distribuem
dos dois lados da Cordilheira, sempre em grandes altitudes.
Vamos às imagens dessa bela travessia de 2008, juntamente
com alguns comentários sobre a fitogeografia das regiões visitadas:
Acima – Em 2008,
quando atravessamos a região, os primeiros quilômetros da estrada que liga
Argentina e Chile, ao norte do valcão Lanin (foto), eram asfaltados. Porém,
quando alcançava as maiores altitudes, acima de 1.000m, tudo o que havia eram
as lendárias estradas de rípio, que são amontoados de cascalho solto – Abaixo
Adiante – Nos extensos
platôs, na base da Cordilheira, os solos são recobertos pelo loess vulcânico, que é uma densa camada
de cinzas expelidas pelos vulcões abundantes na região, entre eles, o famoso Lanin,
que se eleva a cerca de 3.600m, muito próximo de nossa travessia. Sobre este loess fertilíssimo, embora um tanto
seco, vegetam miríades de ervas anuais, principalmente da família Asteraceae (=Compositae), cujas flores
realçam na paisagem, durante os verões frescos.
Acima – Uma bela amarilidácea, com flores amarelas,
contrastava com as demais ervas e arbustos de flores miúdas, mas intensamente
coloridas
Adiante – Como se
surgisse do nada, eleva-se uma barreira de florestas verdejantes, em cujo seio,
nas maiores altitudes, ressaltam as araucárias (Araucaria araucana). Essas
massa de florestas, que emenda com os bosques andino-patagônicos, que imperam
do lado Chileno, denotam a faixa mais frequentemente atingida pelas massas de
ares úmidos do Chile, onde a pluviosidade chega a atingir mais de 3.000mm ao
ano.
O vulcão Lanin domina o cenário da travessia,
sendo em suas encostas que se originam diversas correntes de águas cristalinas,
produto do derretimento de suas neves
Acima – Nossa expedição parada sob a fronde de um grupo de
araucárias serve de comparativo para seu gigantesco porte, que lhes confere
aspecto primitivo
A Seguir – Na gradativa
descida ao território chileno, observam-se notáveis florestas de Nothofagus
obliqua e N. dombeyi (família Fagaceae), além de cupressáceas, que se
instalam nas vertentes copiosamente irrigadas da face ocidental dos Andes.
Nesta zona, as nevascas de inverno são comuns. O vulcanismo, ainda
ocasionalmente ativo, nos dias atuais, produz paisagens caóticas, onde se veem
trechos despidos de árvores, entremeados a stands recentes, ainda em
crescimento e áreas completamente revegetadas, com árvores de até dois metros
de diâmetro e dezenas de metros de altura.
Acima - Terminada
a descida, na faixa dos 400 – 500m de altitude, os vales chilenos são férteis a
belos, sendo hoje ocupados por pastagens e zonas rurais, sobre as quais impera
o soberbo vulcão Villarrica, próximo
a Pucón.
Deste ponto em diante, deparamos com as frequentes chuvas do sul do Chile e foi
a última vez que pudemos contemplar o Villarrica, que depois disso, mergulhou
em nuvens eternas - Abaixo
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