A Expedição ao sul do Chile prosseguiu, em janeiro de 2008,
descendo ainda mais um pouco pelo país, até chegar à região do Vulcão
Osorno, entre as cidades de Puerto
Varas e Puerto Montt. Como já
dissemos antes, trata-se de uma das áreas mais chuvosas da América Meridional,
atingindo índices anuais sempre superiores aos 3.000mm, por vezes, atingindo
até 5.000mm. Para ter-se uma ideia, nosso perímetro subtropical úmido, que
engloba grande parte da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul), é marcado por chuvas de ordem pouco superior aos 1.600mm, embora se
estendam durante quase o ano inteiro.
O que difere, sobremaneira, nesta região meridional do
Chile, é não apenas a quantidade total de chuvas, bem superior à nossa, mas
também as temperaturas muito baixas, ao longo de todo o ano: invernos com
médias inferiores a 10oC e verão nunca superior a 20oC,
em média. A Cordilheira dos Andes também representa uma barreira ecológica
superlativa, somando-se ao Deserto Central da Argentina, fazendo com que as
floras desses dois domínios sejam profundamente diversas, embora observemos
paisagens muito similares, em alguns pontos, como vimos no caso das florestas de araucárias e da floresta valdiviana (ver postagens
anteriores).
O Vulcão Osorno, com mais de 2.600m de altitude, é mesmo o
mais notável marco geográfico dessa região, que ainda congrega diversos outros
vulcões. Ele pode ser avistado de muito longe, embora o tempo continuamente
encoberto, durante nossa passagem pelo local, o tenha mantido quase sempre
escondido. O Osorno se eleva à margem do grande Lago Llanquihué, do lado posto da cidade turística de Puerto
Varas, onde ficamos baseados, durante nossa estada.
Puerto Montt é uma cidade um pouco
mais desenvolvida, embora menos atraente que Puerto Varas. Fica na beira do
célebre Seno de Reloncaví (Golfo de Reloncaví), que representa
baía bem abrigada, ensejando importantes atividades portuárias. Durante nossa
passagem por esta região, realizamos algumas visitas aos ecossistemas
protegidos: próximo ao Osorno, estivemos na diminuta estância de Petrohué, na margem do Lago de Todos los
Santos. Para os lados de Puerto Montt, visitamos o Seno de Reloncaví
e o Parque
Nacional Alerce Andino.
Interessava-nos, em Petrohué, não somente atravessar a base
do gigantesco Osorno, observando os sinais de antigas e violentas erupções
vulcânicas e corridas de lava, mas também os magníficos cenários formados pelo
canal que extravasa as águas límpidas do Lago Todos los Santos, situado aos
190m, em direção ao mar, no Seno de Reloncaví.
No Parque Nacional Alerce Andino, incensava-nos a esperança
de conhecer esses famosos monumentos dendrológicos, que são os alerces
(Fitzroya
cupressoides – família Cupressaceae), que representam alguns dos mais
velhos seres vivos do planeta, juntamente com as sequoias norte-americanas. Tal
intento seria frustrado, nesta primeira tentativa, devido ao curto prazo de
nossa permanência e ao tempo intensamente chuvoso, que dificultou nossas
andanças.
Mesmo com tanta brevidade, pudemos examinar
satisfatoriamente as soberbas florestas que revestem as fraldas andinas, deste
lado da Cordilheira. A seguir, algumas imagens que dão conta de tanta beleza,
no Sul do Chile:
A Seguir – O Vulcão Osorno é o mais notável marco geográfico da
região, embora teimasse em se esconder, por detrás de espessas nuvens, durante
quase toda nossa permanência em Puerto Varas
Acima – Nosso veículo
estacionado na margem do Lago Llanquihué, no sul do Chile
A Seguir – Aspectos do chamado rio
Petrohué, que é, na verdade, um caudaloso canal, que extravasa as águas do
Lago Todos los Santos, na direção do Seno de Reloncaví
Acima - O Lago Todos lós
Santos, situado numa cota de cerca de 190m, é aduzido pelo degelo das neves
andinas, mas também pelas copiosas chuvas do Sul do Chile. Sua diferença de
altitude, para o mar produz as belas
torrentes de águas cristalinas do rio Petrohué (demais fotos)
Adiante – O Parque Nacional
Alerce Andino está situado na base da Cadeia Andina e protege importantes
florestas de transição entre as floras valdiviana (de natureza subtropical) e andino-patagônica
(de índole temperada). Em suas áreas mais elevadas, abriga populações de
alerces (Fitzroya cupressoides – família Cupressaceae), que não pudemos
alcançar, nesta excursão.
A Seguir – Em seus setores menos elevados, o Parque Nacional Alerce
Andino abriga flora de transição, onde epífitas e liquens são abundantes,
perpetuamente umedecidas pelo aerossol das torrentes de águas cristalinas, que
descem as fraldas andinas. No verão, milhares de “mutucas” (moscardos
hematófagos) vorazes cercam os visitantes, tornando a visita um tanto penosa,
embora gratificante, pelos cenários e pela flora.
Abaixo – Microambientes extremamente úmidos e pejados de epífitas e
liquens se instalam nas margens dos cursos d’água, onde contam com altíssima
umidade e temperaturas regulares. Parecem muito com nossas florestas
subtropicais de altitude, no Sul do Brasil. Sua flora, porém, embora graciosa,
não rivaliza com aquela
Acima – Mitraria
coccinea (família Gesneriaceae)
Acima – Asteranthera ovata (família Gesneriaceae), parece um grupo de
borboletas e se espalha pelos troncos de árvores, na floresta escura,
emprestando esplêndido efeito ornamental – A Seguir
Acima – Digitalis
purpurea (família Plantaginaceae) é planta de origem europeia, mas se
dispersou de tal maneira pelo Chile, que sugere hoje ser nativa da região
A Seguir – Gunnera tinctoria (família
Gunneraceae) se dispersa em bases de rochas e às margens dos rios caudalosos da
Patagônia, representando espécie análoga à sua prima G. manicata, das encostas da Serra Geral, no Sul do Brasil.
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