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UMA VISITA À ILHA GRANDE – RIO DE JANEIRO – JUNHO DE 2017

No dia 25 de junho de 2017 , partimos Cledson Barboza , Maurício Verboonen e eu, no rumo da Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro,...

segunda-feira, 30 de abril de 2012

BELÉM DO PARÁ – NAS BORDAS DA FLORESTA AMAZÔNICA


               Belém do Pará representou o ponto mais ao norte da Expedição Fitogeográfica de 2012, em sua primeira fase. Chegar ao portal da Amazônia foi experiência realmente emocionante, a despeito do estado avançado de destruição de suas florestas, que não se mostraram a mim, senão de muito longe. Por mais que vasculhasse as cercanias da cidade, no curto espaço de tempo em que por ali permaneci, não consegui uma aproximação mais íntima. Tudo o que via era a acelerada expansão da cidade, à qual a floresta nada mais significa que um entrave a ser retirado.

               Mas, o naturalista sempre consegue ler nas entrelinhas, olhar nos interstícios. E não deixei de captar algumas imagens da Mata Amazônica de Várzea, além de alguns de seus elementos botânicos notáveis, que represento, a seguir, nas imagens fotográficas. Além disso, a íntima ligação do povo paraense com a floresta ficava patente, no famoso Mercado Ver-o-Peso, aonde fui “bater o ponto”, como é obrigação de qualquer visitante que venha conhecer Belém do Pará. Aproveitem algumas dessas imagens:


A Flora Amazônica: Bromélias não são tão abundantes quanto na Floresta Atlântica, que visitáramos antes, na Bahia. Mas surgem algumas espécies características, como Aechmea cf. setigera (nas árvores, sem flores) e Streptocalyx poeppigii, que se encontrava florida.





A Seguir: A cidade de Belém fica às margens do rio, cercada de florestas de várzea, nas quais abundam palmeiras-açaí (Euterpe oleracea).





Abaixo: A floresta somente se mostra ao longe, nas proximidades de Belém do Pará, mas impressiona por seu porte e seu viço.


A Seguir: Todas as cores e sabores do Mercado Ver-o-Peso, no Centro de Belém.





















Os aningais - Abaixo - Substituem os manguezais, na região de Belém. São formações homogêneas de Montrichardia arborescens, que parecem florestas, na margem dos rios.


As Chuvas: Não é lenda! Chove copiosamente, praticamente todos os dias, com grossos aguaceiros, que refrescam um pouco, muito pouco, o clima opressivo da capital paraense.





sexta-feira, 27 de abril de 2012

DO SEMIÁRIDO À FLORESTA AMAZÔNICA – PAÍS DE CONTRASTES


               Não se pode afirmar exatamente que a viagem entre a Serra da Capivara, no sul do Piauí, e a cidade de Belém do Pará seja curta o suficiente para justificar a surpresa com os contrastes avistados. Afinal, foram nada menos que 1.200km, em dois dias de volante, entre as duas localidades. Mas, não haverá como deixar de se surpreender com a imensa modificação das paisagens, passando da mais seca caatinga, para uma floresta densa e hiperúmida. Sob o calor do sol, na Serra da Capivara, a sensação é desgastante, mas não pode se comparar à opressão úmida do ambiente amazônico: Sudorese intensa; roupas sempre molhadas de suor; e certa dificuldade de manter razoável nível de atividades.

               Na Bahia, havíamos nos deparado com interfaces climáticas e vegetacionais tão mais abruptas, dando-se em poucos quilômetros, na altura de Boa Nova e Vitória da Conquista. Mas, por lá, atravessávamos a grande barreira do Planalto Atlântico, que alterna altitudes de centenas, até quase um milhar de metros, em algumas dezenas de quilômetros. Além disso, estávamos na zona das grandes massas frontais de ar, que provêm do Atlântico Sul. Já entre o Piauí, o Maranhão e o Pará, estados que atravessei, nestes dois dias de viagem, imperam extensas depressões planálticas, que produzem relevos mais suavemente inclinados, passando a impressão de que pouco subimos ou descemos. Mas, não há dúvidas: Operam ali imensos corredores e fronteiras climáticas, ocasionando notáveis modificações vegetacionais.

               Saí de altitudes da ordem de 500m, na Serra da Capivara, para compartimentos intermediários, por volta dos 200-300m, na divisa com o Maranhão, onde caíram para até 30-40m. Todas essas interfaces e naturezas vegetacionais são importantes para o entendimento da Fitogeografia do Brasil. Por isso, empreendi viagem tão extenuante, sem deixar de ser imensamente prazerosa. Afinal, nenhuma outra experiência poderia ser mais agradável ao naturalista que percorrer as terras do país. Sobre essas paisagens botânicas, que observei, nesta longa jornada, dos dias 24 e 25 de abril, entre Nordeste e Norte, faço alguns poucos comentários, acompanhados das imagens a seguir:

Na foto abaixo: Assim que descemos do planalto da Serra da Capivara, no rumo norte, percebe-se rápida modificação no aspecto geral da vegetação. Os elementos arbóreos são muito similares à floresta nanica do alto da chapada. Porém, percebia-se que se encontrava tão mais atrasada, em sua queda de folhas, mostrando-se ainda bem viçosa. Árvores das mesmas espécies da Capivara eram ali mais altas e a vegetação se adensava.




Nas imagens a seguir: Os célebres carnaubais são adensamentos da palmeira-carnauba (Copernicia prunifera), que podem ser vistos, à margem de lagoas e baixadas, em toda interface entre Semiárido Nordestino e Amazônia.






A Mata de Cocais: É uma zona com dimensões quase continentais, estendendo-se entre a Amazônia perúmida e o Nordeste Semiárido e contando com larguras de até centenas de quilômetros de adensamentos da palmeira-babaçu (Attalea speciosa). Há quem caracterize a zona dos cocais como autêntico bioma, o que somente depende da escala de abordagem. Tive bastante oportunidade de observar sua natureza, relacionando-se com solos, clima e atividades humanas muito antigas. Infelizmente, encontra-se hoje completamente dissociada de sua história extrativa tradicional e acaba se vendo encarada mais como um entrave à pecuária, que um bônus silvestre, que já foi um dia.








Abaixo: Há no Maranhão, adentrando o Piauí, um tipo de vegetação denominada cerrado, que, nesta área, possui natureza divergente daquela dos cerrados do Centro-Oeste. Sua flora é principalmente amazônica e nordestina, sendo condicionado por solos litólicos (com rocha quase aflorante), opostos aos latossolos profundos do Brasil Central. Olhos pouco treinados não notarão qualquer diferença.



quinta-feira, 26 de abril de 2012

SERRA DA CAPIVARA – AS CHAPADAS DO PASSADO


               Em 21 de abril, cheguei à Serra da Capivara, que divide os ambientes do médio Vale do São Francisco, abaixo, das caatingas do Piauí, ao norte. Para oeste, ela representa a principal divisa entre as caatingas hiperxerófilas de Pernambuco, que acabara de visitar, e os cerrados do Maranhão e Tocantins. Sua importância, para mim, não se resumiria apenas a uma mera fronteira fitogeográfica. A presença do homem, na região, é das mais bem documentadas de nosso território, havendo hipóteses que a levam desde 12.000 anos, até algumas dezenas de milhares de anos antes do presente.

               A influência do ser humano sobre a Geografia Botânica do Brasil é indiscutível, tanto no presente, quanto no passado mais longínquo. Estar ali, na Serra da Capivara, me levaria a importantes reflexões sobre o que representou a presença humana nas Américas, desde que se iniciou este processo, tão antes de nossa chegada histórica no Continente.

               Fui atenciosamente acompanhado por meu mais novo velho amigo, Maxim Jaffe, grande conhecedor da Serra da Capivara, que me foi gentilmente indicado por Pedro Labanca, em Petrópolis. Maxim não me deixou um instante sequer sem proveitosas atividades, ao longo dos mais notáveis ambientes da região. Seguramente, terei muito a mostrar, em minha obra, sobre este magnífico lugar, situado no perímetro semiárido do Piauí. Por ora, ficam algumas imagens, poucas, eu admito, para não causar enfado em meus amigos.

Fotos abaixo: As paisagens da Serra da Capivara são estonteantes e congregam antigas superfícies de aplainamento sobre bacias sedimentares muito antigas. Algumas delas são constituídas de conglomerados de seixos rolados, recimentados e novamente erodidos, durante o Terciário tardio e o Quaternário. Permitiram proveitosas observações sobre as relações da vegetação semiárida da região e suas diversas formas e feições.








Abaixo: A famosa Pedra Furada, que emprestou o nome ao mais famoso sítio arqueológico da Serra da Capivara




Abaixo: Mesmo com o avançado e a gravidade da seca, que também assolava o sul do Piauí, onde está a Serra da Capivara, a vegetação nativa seguia seu ciclo natural e apenas iniciava a sua perda de folhas, que começa com uma intensa mudança de cores. Destaca-se uma árvore, bastante numerosa, chamada bilro (Diptychandra epunctata), cujas folhas fazem lembrar árvores europeias, em pleno outono.








A Seguir: A árvore chamada canela-de-velho (Cenostigma cf. gardneriana) é de notável importância fitossociológica, na vegetação de carrascos ou florestas-miniatura da Serra da Capivara. Por seu aspecto ornamental, não há como deixar de atrair atenção, em meio à secura do ambiente. Poucas árvores poderiam ser tão atraentes.



 A Seguir: Ambientes cársticos (calcários), similares aos que eu já avistara, entre Unaí e o Vale de São Francisco, em Minas Gerais, carregam flora de bromélias e exibem formas incríveis, comprovando a influência de épocas úmidas do passado. As bromélias Encholirium spectabilis, extremamente espinhentas, estão ali presentes, junto a cactáceas, mostrando sinais inequívocos do domínio semiárido do Nordeste.




A Seguir: Os incríveis laços com o passado - As pinturas rupestres, com significados enigmáticos, que vêm sendo estudados, em todo o Mundo.








O incrível sítio da Pedra Furada, onde foram escavados vestígios de fogueiras com dezenas de milhares de anos. A infraestrutura é inigualável, permitindo contemplação proximal da bela arte rupestre.












terça-feira, 24 de abril de 2012

ATRAVESSANDO A CAATINGA PERNAMBUCANA, ATÉ O PIAUÍ


               A paisagem se transforma radicalmente, depois que se cruza o Velho Chico, entre Juazeiro, na Bahia, e Petrolina, em Pernambuco. Desaparecem por completo as palmeiras-licuri e se mergulha, em definitivo, na mais típica caatinga nordestina. As cactáceas são numerosas e bem notáveis, capitaneadas pelo mandacaru (Cereus jamacaru). Formam marcos de escultura singular, em meio a um intrincado simplesmente impenetrável de árvores tão retorcidas quanto espinhentas. Nada, nada mesmo fará qualquer um de nós adentrar esta vegetação inóspita, sem muita proteção. Não se pode caminhar um metro sequer, sem que as galhadas angustas nos cortem a roupa e a pele.

               A despeito de seu aspecto agressivo e pouco – nada – convidativo, a Caatinga, de modo geral, é de grande riqueza florística e nos brinda com cenários surreais, tais como os que podem ser apreciados nas imagens que postei, a seguir. Desnecessário comentá-las, em detalhes, pois elas falam por si somente. Apenas chamo atenção para suas cores e formas, além da sensação de isolamento que temos, ao cruzar a região, adentrando o Piauí, no rumo de São Raimundo Nonato, para onde segui, com objetivo de conhecer a famosa Serra da Capivara.

               Foram 400km, através de montanhas isoladas, no dia 21 de abril, até chegar à pequena São Raimundo Nonato, no sul do Piauí, onde a seca também vinha causando problemas muito sérios. Na próxima postagem, vou contar minha passagem pela admirável Serra da Capivara, experiência inesquecível, sob todos os aspectos. Até lá. 



















O SERTÃO DA BAHIA – A SECA É DO HOMEM

               Deixando Vitória da Conquista, no dia 19 de abril, mergulhamos no sertão da Bahia, onde a seca se fazia notar, de forma absolutamente dramática: Lavouras esturricadas; solos completamente desnudos, sem qualquer folha de capim, nas pastagens; velhas senhoras carregando barricas e baldes d’água sobre as cabeças; gente que pedia dinheiro, balançando as mãos, à beira da estrada, segurando crianças, quadros que já andáramos a ver, ainda na década de 1990, quando passáramos por ali, mas praticamente injustificáveis, nos dias atuais.

               Curiosamente, as vegetações naturais, onde ainda se encontravam de pé, pareciam nada sofrer, diante da estiagem. É o que já se convencionou chamar de “seca verde”, mas que os naturalistas bem sabem nada mais ser do que a pura e simples comprovação do imenso equívoco que foi, até hoje, a ocupação inadequada de terras e zonas impróprias para determinadas culturas, assim como seus métodos. A Caatinga é uma vegetação adaptada a tais ciclos, o homem e suas culturas não.
               A verdadeira Agroecologia, aquela que deveria ajustar a ocupação das culturas às verdadeiras aptidões ambientais de cada região, jamais foi ali aplicada. Se fosse, e agora talvez fosse hora, seriam revistos  os modelos de exploração da natureza, evitando surpresas como a severa seca, que atualmente se abate sobre o Semiárido. Afinal, não são realmente surpresas, pois já ocorreram tantas vezes e deverão voltar a ocorrer, o que deveria sensibilizar autoridades, no sentido de pensar em longo prazo.
               Mas, no que toca a natureza, passamos a observar uma diferença dramática, na vegetação, quando descemos dos 900m ou 1.000m, até faixas que predominavam aos 300m, chegando aos 200m, em regiões deprimidas, tais como a de Jequié ou Milagres. Esta última, aliás, congrega algumas fisionomias mais típicas do sertão seco: Verdadeiras coleções de cactáceas, sobre solos pedregosos e arrasados, originados da decomposição de granitos e gnaisses, que ainda deixam ver pontões elevados denominados inselbergs ou morros-testemunho.

               Nesta mesma data, Maurício foi deixado em Salvador, de onde voltaria ao Rio de Janeiro, enquanto eu partiria, no dia seguinte, na direção do estado de Pernambuco. O mais incrível contraste que poderíamos observar, nesta variante, até a capital baiana, seriam chuvas intensas, que assolavam o litoral, enquanto o sol ardia cruelmente, no interior. Minha viagem até Petrolina, na margem esquerda do rio São Francisco, que eu mais uma vez cruzava, em minhas viagens, foi feita através de mais de 500km de caatingas avançadamente alteradas. O único elemento que resistia de sua flora eram as esculturais palmeiras-licuri, em meio às terras degradadas, até Petrolina, aonde cheguei, no final da tarde de 20 de abril.

Fotos abaixo: Paisagens áridas da região de Milagres, no Sertão Baiano. Velhos morros-testemunho (inselbergs) se elevam, em meio a mares de cactáceas, que dominam as depressões. Essas montanhas carregam floras admiráveis de bromélias e orquídeas, em contraste à caatinga seca dos vales pedregosos e arrasados.






Adiante: Aspectos da vegetação agreste do Sertão Baiano, onde extensas massas de bromélias contrastam com populações densas de palmeiras-licuris (Syagrus coronata). No detalhe, inflorescências da bromélia Aechmea aquilega, bastante comum nessas paisagens áridas.