Curiosamente, as vegetações naturais, onde
ainda se encontravam de pé, pareciam nada sofrer, diante da estiagem. É o que
já se convencionou chamar de “seca verde”, mas que os naturalistas bem sabem
nada mais ser do que a pura e simples comprovação do imenso equívoco que foi,
até hoje, a ocupação inadequada de terras e zonas impróprias para determinadas
culturas, assim como seus métodos. A Caatinga é uma vegetação adaptada a tais
ciclos, o homem e suas culturas não.
A verdadeira Agroecologia, aquela que
deveria ajustar a ocupação das culturas às verdadeiras aptidões ambientais de
cada região, jamais foi ali aplicada. Se fosse, e agora talvez fosse hora,
seriam revistos os modelos de exploração
da natureza, evitando surpresas como a severa seca, que atualmente se abate
sobre o Semiárido. Afinal, não são realmente surpresas, pois já ocorreram
tantas vezes e deverão voltar a ocorrer, o que deveria sensibilizar
autoridades, no sentido de pensar em longo prazo.
Mas, no que toca a natureza, passamos a
observar uma diferença dramática, na vegetação, quando descemos dos 900m ou
1.000m, até faixas que predominavam aos 300m, chegando aos 200m, em regiões
deprimidas, tais como a de Jequié ou Milagres. Esta última, aliás, congrega
algumas fisionomias mais típicas do sertão seco: Verdadeiras coleções de cactáceas,
sobre solos pedregosos e arrasados, originados da decomposição de granitos e
gnaisses, que ainda deixam ver pontões elevados denominados inselbergs ou morros-testemunho.
Nesta mesma data, Maurício foi deixado em
Salvador, de onde voltaria ao Rio de Janeiro, enquanto eu partiria, no dia
seguinte, na direção do estado de Pernambuco. O mais incrível contraste que
poderíamos observar, nesta variante, até a capital baiana, seriam chuvas
intensas, que assolavam o litoral, enquanto o sol ardia cruelmente, no interior.
Minha viagem até Petrolina, na margem esquerda do rio São Francisco, que eu
mais uma vez cruzava, em minhas viagens, foi feita através de mais de 500km de
caatingas avançadamente alteradas. O único elemento que resistia de sua flora
eram as esculturais palmeiras-licuri, em meio às terras degradadas, até
Petrolina, aonde cheguei, no final da tarde de 20 de abril.
Fotos
abaixo: Paisagens áridas da região de Milagres, no
Sertão Baiano. Velhos morros-testemunho (inselbergs)
se elevam, em meio a mares de cactáceas, que dominam as depressões. Essas
montanhas carregam floras admiráveis de bromélias e orquídeas, em contraste à
caatinga seca dos vales pedregosos e arrasados.
Adiante: Aspectos da vegetação agreste do Sertão Baiano, onde extensas
massas de bromélias contrastam com populações densas de palmeiras-licuris (Syagrus coronata). No detalhe,
inflorescências da bromélia Aechmea aquilega, bastante comum
nessas paisagens áridas.
lindas fotos amigo
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