O principal objetivo do dia 16 de abril de
2012 seria atingir as cercanias da pequena cidade de Boa Nova, na interface
entre a zona das florestas litorâneas e os domínios do Semiárido Nordestino.
Neste momento, eu já contava com a valiosa presença de meu amigo Maurício Verboonen, que me tem
acompanhado em diversas expedições e viagens, pelos confins do país, em busca
dos conhecimentos sobre nossa natureza. Partimos por estradas vicinais de
terra, em meio às densas florestas que são chamadas “matas de cacau”, pelo fato
de estarem associadas àquela cultura tradicional.
As matas de cacau ocupam zona relativamente
montanhosa, que muito nos faz lembrar nossas serras fluminenses, apesar de não
contarem com elevações tão espetaculares como aquelas. São morrarias convexas,
aqui ou ali, entrecortadas por afloramentos de granitoides, que lhes formam o
embasamento geológico. Trata-se, talvez, da derradeira grande expressão
litorânea do Planalto Atlântico, que tanto influencia a climatologia e, evidentemente,
a vegetação e a flora do Brasil Central e Nordeste.
O nome “matas de cacau” não é nada
equivocado. Apesar de representar elemento que foi introduzido pelo homem, como
cultura agrícola, o cacau ocupa praticamente todo o sub-bosque atual da Mata Atlântica
da região de Ilhéus e Itabuna. A doença vassoura-de-bruxa, que todos afirmam
ter sido introduzida criminosamente na região, há muitos anos, quase aniquilou
a cultura do cacau e, por conseguinte, a dinâmica artificial que, de certa
forma, foi a responsável por não terem desaparecido por completo essas
florestas, como aconteceu no Vale do Jequitinhonha, do qual falei, no post anterior. Com novas técnicas
agronômicas, os produtores vêm buscando a restauração de seus pomares, o que dá
novo alento para a cultura. Infelizmente, as políticas públicas parecem não ter
ajudado nada, nos últimos tempos.
Pelo péssimo estado de suas estradas e pelo
imenso interesse que nos representou essa floresta, abortamos nossa subida ao
Semiárido, pois não haveria tempo para tanto, num só dia. Rodamos cerca de
200km pelo interior e permanecemos na região, deixando nossa entrada no sertão
para o dia seguinte. Veja, a seguir, algumas imagens comentadas sobre as matas
de cacau da Bahia.
Fotos a seguir: As florestas da região de
Ilhéus e Itabuna somente existem hoje, graças à cultura do cacau, que quase
desapareceu, o que causou imensa ameaça à sua conservação. Cacau e florestas
resistem juntos. Nas imagens a seguir, surgem alguns aspectos dessa pujante
vegetação, na qual as eritrinas ou mulungus (Erythina sp. Cf. verna)
foram adensadas artificialmente, para melhorar o sombreamento do cacau. Mas, há
inúmeras outras árvores de beleza marcante, sobre as cabruncas, que são os
pomares sombreados sob a mata.
Adiante: A marca registrada dessas
admiráveis florestas é a presença abundante de plantas epífitas, principalmente
das bromeliáceas, com suas rosetas repletas de água, que interagem com a fauna.
Mas, orquídeas, cactáceas e muitas outras famílias se encontram ali
representadas.
Acima: Dimeranda emarginata (Orchidaceae). Poucas orquídeas se encontravam floridas, nesta época.
Abaixo: A fazenda da Sra. Lola
Gédéon Lucas, que conhecemos, ao passar na região. Ali se encontra
preservada toda a arquitetura típica das velhas fazendas cacaueiras da região,
não sem extremo sacrifício econômico-financeiro, por parte de seus
proprietários.
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