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sexta-feira, 20 de abril de 2012

NAS MATAS DE CACAU DA BAHIA

            Texto revisado em dezembro de 2024
               

            O principal objetivo do dia 16 de abril de 2012 seria atingir as cercanias da pequena cidade de Boa Nova, na interface entre a zona das florestas litorâneas e os domínios do Semiárido Nordestino. Neste momento, eu já contava com a valiosa presença de meu amigo Maurício Verboonen, que me tem acompanhado em diversas expedições e viagens, pelos confins do país, em busca dos conhecimentos sobre nossa natureza. Partimos por estradas vicinais de terra, em meio às densas florestas que são chamadas “matas de cacau”, pelo fato de estarem associadas àquela cultura tradicional.
               As matas de cacau ocupam zona relativamente montanhosa, que muito nos faz lembrar nossas serras fluminenses, apesar de não contarem com elevações tão espetaculares como aquelas. São morrarias convexas, aqui ou ali, entrecortadas por afloramentos de granitoides, que lhes formam o embasamento geológico. Trata-se, talvez, da derradeira grande expressão litorânea do Planalto Atlântico, que tanto influencia a climatologia e, evidentemente, a vegetação e a flora do Brasil Central e Nordeste.
               O nome “matas de cacau” não é nada equivocado. Apesar de representar elemento que foi introduzido pelo homem, como cultura agrícola, o cacau ocupa praticamente todo o sub-bosque atual da Mata Atlântica da região de Ilhéus e Itabuna. A doença vassoura-de-bruxa, que todos afirmam ter sido introduzida criminosamente na região, há muitos anos, quase aniquilou a cultura do cacau. Por conseguinte, ameaçou perigosamente a dinâmica ecológica artificialmente induzida pela cultura cacaueira, que fora de certa forma responsável por não terem desaparecido por completo essas florestas, como aconteceu no Vale do Jequitinhonha (do qual falei, no post anterior). Com novas técnicas agronômicas, os produtores vêm buscando a restauração de seus pomares, o que dá novo alento para a cultura. Infelizmente, as políticas públicas parecem não ter ajudado nada, nos últimos tempos.
               Pelo péssimo estado de suas estradas e pelo imenso interesse que nos representou essa floresta, abortamos nossa subida ao Semiárido, pois não haveria tempo para tanto, num só dia. Rodamos cerca de 200km pelo interior e permanecemos na região, deixando nossa entrada no sertão para o dia seguinte. Veja, a seguir, algumas imagens comentadas sobre as matas de cacau da Bahia.


Fotos a seguir: As florestas da região de Ilhéus e Itabuna somente existem hoje, graças à cultura do cacau, que quase desapareceu, por causa da vassoura-de-bruxa, o que ameaçou gravemente sua conservação. Cacau e florestas resistem juntos. Nas imagens a seguir, surgem alguns aspectos dessa pujante vegetação, na qual as eritrinas ou mulungus (Erythina sp. cf. verna) foram adensadas artificialmente, para melhorar o sombreamento do cacau. Mas, há inúmeras outras árvores de beleza marcante, sobre as cabruncas, que são os pomares sombreados sob a mata.









Adiante: A marca registrada dessas admiráveis florestas é a presença abundante de plantas epífitas, principalmente das bromeliáceas, com suas rosetas repletas de água, que interagem com a fauna. Mas, orquídeas, cactáceas e muitas outras famílias se encontram ali representadas.






Acima: Dimeranda emarginata (Orchidaceae). Poucas orquídeas se encontravam floridas, nesta época.


Abaixo: A fazenda da Sra. Lola Gédéon Lucas, que conhecemos, ao passar na região. Ali se encontra preservada toda a arquitetura típica das velhas fazendas cacaueiras da região, não sem extremo sacrifício econômico-financeiro, por parte de seus proprietários.





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