Finalmente, na manhã do dia 17 de abril,
uma terça-feira, partimos de Ubaitaba, na Costa do Cacau, no rumo de Boa Nova,
na borda do Planalto de Vitória da Conquista. Depois de termos retornado à
BR-101, por falta de condições de prosseguir, até o Planalto, no dia anterior
(ver Nas Matas de Cacau da Bahia),
agora teríamos o dia inteiro para contemplar a transição entre as densas
florestas do litoral baiano e o Semiárido Nordestino, um contraste que somente
poderia fazer surgir flora singular.
As florestas da rodovia que liga Ubaitaba à
BR-116, passando por Dário Meira e Boa Nova, não apresenta as mesmas matas de
cacau que víramos na véspera. Grande parte delas foi, há muito, transformada em
pastagens pobres e decadentes. Mas, não deixamos de ficar surpresos com o
surgimento de lindas paisagens montanhosas, em tudo similares àquelas que
estamos acostumados a ver, na Serra da Mantiqueira, no Sul de Minas. A umidade
do litoral, ao encontrar os contrafortes do Planalto Atlântico, se condensa e
abastece essas encostas com chuvas constantes, produzindo cenários agradáveis,
ainda que, em nosso ver, um tanto mal aproveitados pelo homem.
A transição para o Semiárido se dá aos
900m, até 1.000m, fazendo-se de forma tão mais abrupta do que aquela em que se
dá a passagem das florestas litorâneas para aquelas mais secas do reverso
serrano do Sudeste. Em poucos quilômetros, observamos a mata atlântica
verdejante se converter numa matinha ressecada e de aparência triste,
exatamente nos arrabaldes da diminuta Boa Nova. A flora, contudo, não nos
decepcionou e pudemos examinar uma incrível variedade de orquidáceas,
bromeliáceas e outras plantas atraentes, arranjadas de forma bastante complexa,
em meio a uma floresta intrincada e muito densa: Chamam-na “mata de cipó”, na
região, por conta de sua fisionomia quase indevassável.
Estivemos hospedados por dois dias, em
Vitória da Conquista, em torno da qual fizemos diversas excursões bastante
ilustrativas sobre suas vegetações. Fomos especialmente orientados por Raymundo Reis, exímio conhecedor da
flora regional, que nos apontou os melhores locais para encontrar singularidades
florísticas. Dois locais nos impressionaram sobremaneira: O primeiro deles era
um “pico”, ou melhor, um outeiro convexo, em plena planura da chapada, mas que
se eleva, na verdade, pouco acima dos 1.000m acima do nível do mar; O segundo,
situado numa depressão extraordinariamente úmida, abriga densa floresta
estacional, com árvores de porte incomum e notável presença de plantas
epífitas.
O primeiro desses locais, de notável
riqueza florística, especialmente em orquídeas e bromélias, segue o caminho
acelerado de seu desaparecimento, por conta de uma imensa pedreira, na qual se
extrai e mói o quartzito, com finalidades de suprir a pujante indústria da
construção civil de Vitória da Conquista. Parte da montanha já foi consumida,
sendo suas plantas empurradas com lâminas de tratores, antes da escavação de
seu embasamento rochoso, praticamente sólido. Na escalada do desenvolvimento a
qualquer custo, o país vem perdendo rapidamente suas melhores reservas
florísticas, antes mesmo de terem sido adequadamente estudadas.
A seguir, algumas imagens dessa nossa
passagem por Vitória da Conquista:
Abaixo:
Bromélias agigantadas são numerosas, nas florestas secas
de Boa Nova, na borda do Planalto de Vitória da Conquista. Uma delas nos chamou
atenção, parecendo se tratar de Aechmea aff. multiflora; O autor deste
blog posa junto a uma dessas imensas plantas.
A
Seguir: Numa estação pouco propícia às flores de
orquídeas, conseguimos admirar algumas espécies floridas, na mata de cipós de
Boa Nova.
Abaixo: Aspectos internos das florestas estacionais secas de Vitória da Conquista, no Planalto ao sul da Bahia. A presença de plantas epífitas é realmente notável nestes ambientes; Numa das imagens, observa-se a extração industrial de quartzito, para construção civil da região, fazendo desaparecer importantes populações de orquídeas e bromélias.
Nestas fotos: Uma pequena bromélia
terrestre do gênero Cryptanthus, nas florestas do Planalto de Vitória da Conquista;
Imensas populações de bromélias cobrem o solo das florestas estacionais, nessa
transição entre Mata Atlântica e Semiárido Baiano.
Adorei o projeto, lindas fotografias!
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